Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 1 de junho de 2024


Esporte

Existe vida (longa) além do futebol no caderno esportivo

Paula Araujo Ferreira - Da sala de aula

05/07/2010

Camila Grinsztejn

“Não existe indústria que dê mais dinheiro que a do jornal. O jornalismo não está decadente, o modelo de negócios do papel é que não está bom.” Com a proposta de inovar o modelo do jornal impresso e adaptá-lo ao surgimento das novas mídias, o jornalista Antônio Nascimento implantou o caderno de esportes do jornal O Globo. Inaugurado a dois meses da Copa do Mundo, o novo suplemento tem a missão de atrair mais leitores.

Antônio Nascimento, o Toninho, é editor de esporte do jornal há cerca de 15 anos. Segundo ele, o principal objetivo da novidade é brigar pelos leitores da internet, que tem cada vez mais espaço no jornalismo. Além de inovar na diagramação, mais colorida e menos simétrica, Toninho investiu em outros esportes, além do futebol. “A ideia não é reproduzir a internet, mas inovar e ser radical, abrindo o leque do esporte”, explica. Assim, amplia-se o espaço, por exemplo, da cobertura de torneios de lutas. Grandes reportagens também fazem parte do caderno.

A criação do caderno ajusta-se ao novo cenário mundial do jornal impresso, caracterizado pela concorrência com outras plataformas de mídia. Toninho observa: “Nunca o mercado de trabalho jornalístico esteve tão bom, nunca se leu e escreveu tanto. O problema é que o dinheiro é curto. Quem mantém o online financeiramente é o papel. É preciso que, de alguma forma, você pague pelo que está lendo, para não sobrecarregar nenhum lado.”

Lançado em 11 de abril, o novo investimento parece ter sucesso entre os jovens. Bernardo Ferreira, de 24 anos, apaixonado por esportes, diz que não perde uma grande reportagem do caderno, publicada geralmente aos domingos. “A entrevista com o Romário ficou muito boa, todos os meus amigos comentavam. Não costumo ler jornal, mas agora leio sempre a parte de esporte”, conta o jovem.      

A atração imediata dos jovens não foi uma surpresa. Para chamar a atenção dos internautas, o jornal contratou dois colunistas estratégicos: o ator e roteirista Bruno Mazzeo e o comediante Marcelo Adnet. “Quando eu contrato eles para o papel, eu penso no online, em atrair mais gente de novas mídias. O momento que o jornal impresso atravessa exige estratégia. São duas pessoas criativas, que fazem sucesso na televisão e que interagem com os jovens”, justifica o jornalista.

O estudante de jornalismo Lisandro Amaral, de 21 anos, avalia que a criação do suplemento foi uma resposta ao mercado: “A reformulação do caderno já se fazia necessária, diante da evolução de outros cadernos como Ataque, do Dia, e Jogo Extra, do jornal Extra. A mudança foi positiva de uma maneira geral. Esportes como luta, vôlei e basquete ganharam mais espaço. Também achei muito interessante a entrada dos novos colunistas, Bruno Mazzeo e Marcelo Adnet, que dão um ar mais jovem e leve ao caderno.” Já o jornalista Creso Soares Junior, professor da PUC-Rio, considera que o caderno imprime uma abordagem menos formal: “É a busca por um olhar não tecnicista sobre o futebol, uma ideia para aproximar quem não tem contato com a modalidade. É uma opção, mas acredito que ficou popularesco.”

A programação das principais competições mundiais no Rio de Janeiro - Copa 2014 e Olimpíadas 2016 - também ajuda a fortalecer a cobertura esportiva. De acordo com o editor, no Mundial de 2014, o caderno passará de oito para 16 páginas. Toninho observa que os torneios terão papéis estratégicos: 

- O único evento em que o brasileiro é um rei é a Copa do Mundo. Temos que aproveitar. Já as Olimpíadas representam uma salvação para o Rio de Janeiro. Se a cidade não conseguir se resgatar desta vez, nunca mais!

Segundo Toninho, até agora, o novo caderno recebeu mais elogios do que críticas. A ousadia para inovar, o bom trabalho ao longo dos anos e o momento histórico foram, para ele, essenciais ao sucesso da iniciativa nesta área "muito forte". “O esporte é a única editoria que trabalha com a paixão das pessoas”, conclui.