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Rio de Janeiro, 4 de novembro de 2024


Cidade

"Obras olímpicas devem prever enchentes"

Carolina Bastos - Do Portal

13/06/2011

 Luisa Nolasco

Por conta da geofísica do Rio de Janeiro, a cidade nunca estará livre de enchentes e deslizamentos, afirmou o professor Aquiles Chiroll, do Departamento de Geografia da PUC-Rio, quarta-feira passada, em palestra sobre mudanças climáticas. O importante, segundo ele, é "saber lidar com as chuvas" para reduzir a incidência e a gravidade de tragédias provocadas por temporais. Este aprendizado inclui, ainda de acordo com o especialista, um programa para as Olimpíadas de 2016 baseado na revalorização dos espaços já existentes, em detrimento de construções em novas áreas, como Vargem Grande e Vargem Pequena, na Zona Oeste. Aquiles identifica o “intervencionismo excessivo” como uma das principais causas dos desastes naturais cariocas.

– Temos que pensar menos no vale tudo e planejar com calma tudo o que deve ser feito – propõe – As mudanças não podem ser feitas do dia para a noite. É necessário um planejamento, um estudo sobre os locais das obras, para que nada dê errado.

O professor reconhece a responsibilidade parcial das mudanças climáticas na incidência de fenômenos mais drásticos, como chuvas extremas. Mas ressalva que não tanta diferença "se o intervencionismo do homem fosse feito de maneira correta”.

Para Aquiles, o crescimento acelerado do Rio mudou o contexto ambiental. Ele explica que os grandes desníveis no território da cidade e o relevo íngreme das encostas propiciam a ocorrência de deslizamentos e enchentes, mas o grande número de vítimas resulta da densidade populacional e de deficiências na urbanização. "O asfaltamento das encostas diminuiu a capacidade de infiltração do solo. As obras de canalização de rios interferiram na dinâmica destes, e a redução da área verde da cidade prejudica o controle desses processos", observa o professor. A redução dos impactos negativos dos temporais exige, portanto, uma´coordenação de ações e prevenções nos próximos anos:

– Primeiro, é necessário estabelecer as áreas de risco para fazer a evacuação delas da maneira correta. Depois, obras de contenção onde houver necessidade. Além disso, planejar políticas públicas para minimizar esses impactos. Verificar o que dá para manter e o que deve ser modificado – orienta.

 Luisa Nolasco 

Aquiles alerta também para o perigo de novas tragédias em áreas já atingidas.  Terrenos afetados por deslizamentos e regiões adjacentes tornam-se mais vulneráveis devido à degeneração florestal. “É importante fazer uma observação do local para que isso não ocorra. Pensar em como conservar e segurar o que posteriormente possa vir a deslizar”, propõe o especialista. O professor explica que a floresta degradada promove raízes menores, ou seja, menor interceptação e penetração da águ:.

– O local onde ocorreu um deslizamento perde a função de ancoragem, criando uma descontinuidade hidráulica, o que leva ao maior risco de ocorrência de deslizamentos ao redor.

Prefeitura faz mapeamento geotécnico para conter tragédias

No início do ano passado, a prefeitura concluiu um mapeamento das áreas mais vulneráveis. Segundo o estudo feito pelo Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro (Geo-Rio), estão em "alto risco" cerca de 18 mil imóveis de 117 comunidades da cidade. Foram mapeadas as encostas no Maciço da Tijuca e adjacências, abrangendo 52 bairros das Zonas Norte, Sul, Oeste e do Centro.

Com base neste levantamento, 47 dessas comunidades começaram a passar por obras de contenção e urbanização. Mais de três mil famílias foram reassentadas por meio do aluguel social e de unidades do programa Minha Casa, Minha Vida.

Segundo a Secretaria Municipal de Obras, 18 mil agentes do Programa de Saúde da Família foram treinados para coordenar as primeiras ações em caso de chuva extrema, alagamentos, deslizamentos de encosta e risco iminente de desabamentos. O grupo está em 25 comunidades. Cerca de 1.200 pessoas – principalmente líderes comunitários – também receberam o treinamento. Eles têm um meio de comunicação integrado, com celulares cedidos pela prefeitura para a troca de mensagens. Os telefones recebem torpedos com alertas sobre chuvas fortes, para fecilitar a condução dos moradores até os pontos de apoio próximos.