Luiza Cunha - Da sala de aula
12/05/2011Engenheiros, advogados, médicos, economistas, administradores e estudantes se juntaram para montar o Partido Novo, uma nova legenda política para o país que apresenta o diferencial de nascer sem políticos e se coloca como uma plataforma onde os cidadãos possam participar da vida pública. Para Ana Luiza Amoedo, uma das fundadoras do partido, “ter, logo no início, um político conhecido como um espelho poderia estigmatizar e taxar o partido antes mesmo da divulgação das propostas”. Sem descartar a presença no futuro de políticos tradicionais, o presidente do Novo concorda. João Dionísio, engenheiro civil e administrador de empresas afirma que “um partido que se inicia sem políticos gera um incentivo maior à participação do cidadão”.
Pela lei, o Novo ainda não existe como partido registrado no TSE, já que está em processo de recolhimento das 500 mil assinaturas. "O trabalho de consciência é o mais árduo", conta João Dionísio:
– Além da divulgação do projeto, temos que conscientizar a população que a sua assinatura é somente um apoio, mas como a Legislação Eleitoral exige os dados das pessoas e a assinatura física é um trabalho manual e complicado – afirma.
Segundo João Dionísio, o Novo não é uma legenda apolítica, pelo contrário, está nascendo para ser um partido político, “apenas é diferenciado dos demais que já nascem com políticos”. Segundo ele, o engajamento dessa nova legenda vêm da manifestação política da sociedade civil que espera por melhores representações nos Poderes Executivo e Legislativo. O presidente do partido ressalta que “a proposta é criar um espaço adicional para aqueles que anseiam por uma representação e atuação diferente no segmento publico”.
Atualmente, segundo o Partido Novo, essa mobilização para constituir um Estado eficiente na gestão dos recursos está desacreditada devido à construção de uma imagem negativa em relação à política. Para o cientista político Paulo Mesquita, esse descontentamento não é algo nem datado nem particular ao imaginário brasileiro. Segundo Mesquita, a desconfiança é algo muito mais difundido pelo mundo do que se pensa:
– Em função de seu caráter sempre ‘negocial’, a política é muito mais a frustração organizada das expectativas do que a realização cabal dos projetos particulares. A organização política do dissenso é fundamental para a ordem social – acrescenta Mesquita.
Por outro lado, Eduardo Raposo, professor de ciências políticas da PUC-Rio, acredita que essa visão negativa está relacionada com a desarticulação da oposição. Raposo frisa que “a oposição está desconjuntada, perdeu o discurso, o mote e a capacidade de reunião em função do terceiro mandato do PT”. Com isso, segundo ele, espaços para novas tentativas de organização partidária foram abertas. O primeiro passo para Ana Luiza Amoedo - uma das fundadoras do partido - é modificar a mentalidade negativa em relação à política.
– Atrair e engajar pessoas que se disponham a contribuir com ideias, esforços, talento e competência, em prol do bem comum – conta.
Por isso, segundo os fundadores do Novo, a criação desse espaço no cenário nacional pode ajudar a fomentar o senso de cidadania nos indivíduos e reascender o debate político. Para o presidente João Dionísio, o Novo surge com o objetivo de incentivar as pessoas que nunca tiveram a política como profissão. Essa nova legenda espera que os jovens confiem em indivíduos da população que ainda não teriam sido “contaminados” pela imagem da política como profissão e atividade dirigida ao benefício próprio, afirma Eduardo Raposo.O Partido Novo é, portanto, “uma tentativa mais republicana que coloca à frente as pessoas sem interesses corporativos”, acrescenta o cientista político.
– A novidade é que eles não são ‘políticos profissionais’. São pessoas que não vivem dá política, mas para a política – afirma Raposo.
Portanto, o cientista político acrescenta que não sendo eleitas essas pessoas voltarão para as suas atividades originais que lhes davam identidade social. Além disso, de acordo com o professor, no Brasil, as instituições partidárias não são muito fortes, o que existe é o voto nas pessoas que ocupam esses partidos. Segundo Raposo, “esse novo conceito de fazer um partido de profissionais liberais é válido e desafiador”.
No entanto, segundo Paulo Mesquita – cientista político baseado no Iuperj – uma representação política sem agentes políticos não existe, muito menos partidos.
– Não vejo conseqüências significativas desta opção de marketing político para o Brasil – acrescenta.
O discurso de lançar uma legenda nova sem políticos tem vida curta, “anima uma eleição aqui e acolá, mas não vai longe”. Para Mesquita, essa nova plataforma "é um filão do mercado, um produto eleitoralmente vendável, que vez por outra faz algum sucesso.”
A estratégia da campanha de Fernando Gabeira para a Prefeitura do Rio de Janeiro foi um exemplo, cita Paulo Mesquita. A campanha recebeu boa aceitação entre o eleitorado de mais alta renda e escolaridade, sobretudo das Zonas Sul e Norte, particularmente entre os chamados formadores de opinião: artistas, intelectuais e jornalistas.
– A questão era associar que os partidos não são importantes, mas sim ideias – ressalta o cientista.
De acordo com professor Eduardo Raposo, a essência da política é a organização de um grupo de pessoas que se mobiliza em torno de uma pauta. Portanto, se eles não são políticos hoje, vão se transformar quando o partido existir.
– Quando se fala em política é preciso levar em consideração os dois lados, já que na conjuntura todos ficam insatisfeitos porque um projeto particular jamais se realiza totalmente – acrescenta Raposo.
Segundo os especialistas, entender por que na maioria das vezes a política é vinculada a uma atividade corrupta – e sem fins positivos – é a chave para desmistificar os paradigmas. Para Mesquita, o primeiro ponto a ser levantado é a dificuldade do julgamento da intenção dos políticos.
– Se a política é um processo negocial na qual diferentes expectativas concorrem para conseguir seus fins, é complicado definir quais são ou quais foram os resultados positivos e negativos. Há sempre custos e benefícios, no qual alguns se sentem satisfeitos e outros não – acrescenta o cientista político – O fundamental é o debate para reascender a consciência dos indivíduos sobre cidadania.
Tirar da inércia essa grande parte da população, que espera e anseia por mudanças, e reuní-las no Novo é o objetivo do presidente do partido:
– A nossa intenção é conscientizar as pessoas e mudar os atores para que, de fato, as mudanças ocorram – destaca João Dionísio.
Para Paulo Mesquita, as ideias do Partido Novo contribuem para difundir a discussão sobre o político como indivíduo.
– Esse discurso evidencia a política para além das manchetes incendiárias. Entretanto, a legenda só se colocará no atual agrupamento partidário quando posta a prova eleitoral – afirma Mesquita.
Eduardo Raposo, por sua vez, apoia a iniciativa.
– É interessante essa postura que eles adotam pensando que pode, deve e que é interesse do país mudar. Se deixarmos a política nas mãos dos canalhas estaremos perdidos – afirma.
Segundo os fundadores do Novo, a utilização da internet como suporte está sendo fundamental para expor o partido, que recebeu adeptos de cidades pequenas como Dois Irmãos (RS), Vitoria de Santo Antão (PE) e Ananideua (PA).
– A divulgação está mais no boca a boca, através das redes sociais, web e marketing de rua – conta Ana Luiza.
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