Os produtos importados ganham espaço embaixo da árvore de Natal dos brasileiros. Com preços mais em conta, devido à desvalorização do dólar frente ao real – cotado, em média, a R$ 1,70 –, as classes C e D reforçam o consumo das mercadorias que vêm de fora. O economista João Carlos Gomes, superintendente de Economia e Pesquisa da Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), explica que o aumento no poder de compra do consumidor decorre do avanço da renda em comparação com a média dos preços. Em relação à redução no valor de importados, Gomes observa que, especialmente no período em que as lojas efetuam as encomendas de fim de ano – entre setembro e novembro –, o dólar esteve avaliado 5% abaixo das cotações do mesmo período de 2009. “Esse quadro, aliado à concorrência acirrada no comércio, sugere preços mais convidativos ao consumidor nesse Natal”, avalia.
Alinhado à opinião de Gomes, o economista Luiz Roberto de Azevedo Cunha, decano do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio, acrescenta que, além do dólar mais em conta, a queda nos preços de importados resulta do enfraquecimento dos mercados de países desenvolvidos. A saída dos produtores naquelas regiões, segundo Cunha, é a diminuição dos preços. Economistas observam que importados de diferentes setores ficaram mais baratos, porém “às vésperas do Natal, isso fica mais evidente nos produtos que compõem a cesta natalina”, ressalta Gomes.
Alguns exemplos de importados para o Natal
Para a ceia:
-Bacalhau/1Kg: R$24
-Azeite extra virgem: R$8,80
-Panetones c/ frutas argentino: R$4,50 (500g).
-Panetones c/ chocolate argentino: R$4,80.-Vinho chileno Santa Carolina: R$20.
-Champagne Chandon: R$44,90.
Para presentear:
-Nintendo DS Lite: R$599.
-Perfume francês Roger Gallet: R$59.
Kit Natal c/ boneco papail noel e barra de chocolate belga: R$58.
O preço do bacalhau caiu 4,15%, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Assim, o peixe renova o cacife na concorrência com outras carnes tradicionais da ceia do brasileiro, como o lombinho suíno e o frango inteiro. O azeite – que acompanha o bacalhau –, panetones, castanhas e nozes também ficaram mais baratos. O vinho também. Paulo Santos, gerente da Lidador, loja especializada no ramo, estima que houve uma diminuição de 10% a 15% nos preços dos vinhos tintos, “principalmente chilenos e argentinos”.
Além dos alimentos, utensílios de cozinha estrangeiros ganham terreno. João Sales, gerente das Lojas Americanas Express, destaca a grande demanda pelos faqueiros importados da loja. Mas identifica um problema:
– Os faqueiros nacionais estão perdendo a competição com os importados. Ambos custam o mesmo preço e contém o mesmo número de peças, mas o consumidor tem a tendência de optar pelo estrangeiro nessas condições.
No setor de eletroeletrônicos, o iPad, mais novo lançamento da empresa americana Apple no Brasil, vem superando as expectativas de venda, segundo os comerciantes do ramo. Na loja Ponto Frio, por exemplo, os tablets foram esgotados rapidamente. O vendedor Renê Santos conta que, em quatro dias, foram comercializadas 500 unidades. A personal trainner Andréa Materazzi justifica por que preferiu a versão mais cara (com tecnologia Wi-Fi e 3G):
– O dólar desvalorizado facilitou. Embora não seja barato, a certeza de que em outras épocas o mesmo produto chegaria ao Brasil por um preço muito maior foi determinante para efetuar a compra.
Decorrente pelo câmbio, a queda no preço dos computadores impulsiona a saída das prateleiras. O MacBook Air com tela de 11,6 polegadas, por exemplo, antes na faixa dos R$ 5.000, já é encontrado por R$ 3.200 nas lojas.
Cunha aponta outro comportamento adotado por parte dos consumidores em decorrência da desvalorização da moeda americana: compras de Natal no exterior. O economista observa que, graças à maré cambial, muitos concretizam o sonho de “comprar uma gama de produtos importados que, em alguns casos, nem chegaram ao Brasil”.
Engano e riscos
Embora represente um chamariz à compra de importados, o dólar barato nem sempre se reflete nos preços; e às vezes pode iludir o consumidor. Beatriz Rocha, gerente da loja especialista em perfumes Fragrance, relata que muitos clientes se surpreendem com a permanência dos preços desses produtos, mesmo com a moeda americana em baixa. “O preço não diminui pois, geralmente, a cotação de perfumes é feita em euro”, explica. O mesmo é observado na loja World Tennis, por exemplo, como reconhece o sub-gerente, Edson Gonçalves:
– Os calçados são tabelados pela própria marca. A maioria são multinacionais dificilmente afetadas por crises financeiras.
Cunha ainda alerta sobre os riscos da desvalorização do dólar para a economia brasileira. Segundo o economista, uma grande demanda por produtos importados pode prejudicar a produção da indústria brasileira:
– A diferença entre o crescimento do comércio e da indústria (cresceu apenas 0,4% na última pesquisa divulgada pelo IBGE) é conseqüência das importações.
Economistas: rebaixamentos exigem reformas
Economia aguarda reequilíbrio entre Executivo e Legislativo
Economia do compartilhamento se estende às cidades
Economistas condicionam saída da crise a reforma previdenciária
Novas profissões: instagrammer ganha por viajar e ter seguidores
Avanço de serviços de música via internet muda rumos do rádio