Gabriel Picanço - Do Portal
10/12/2010A relação do ilustrador, designer e professor Ricardo Cunha Lima com a PUC-Rio vem de casa. A mãe, Edna Lúcia Cunha Lima, é professora do Departamento de Design há muitos anos. Antes de parar na PUC, onde estudou entre 2004 e 2006, Ricardo teve uma trajetória diferente da maioria dos colegas. Iniciou o curso de comunicação visual na Faculdade da Cidade e foi para Brasília trabalhar como ilustrador do Correio Braziliense. Na capital começou a estudar jornalismo, mas logo voltou para o Rio e decidiu terminar a primeira graduação, na PUC. Ele conta que teve a sorte de ingressar na universidade numa "época especial":
– Foi decisivo ter entrado na PUC. Era uma época de expansão na universidade, incluindo a reestruturação do curso de design gráfico. O astral era ótimo. As pessoas estavam muito animadas, tentando coisas novas.
Mais maduro, premiado no exterior, Ricardo se esforçou para aliar estudo e trabalho. Com os conhecimentos acumulados, enriqueceu a vida universitária. Compartilhava a experiência profissional com os alunos mais jovens – o que se revelou uma espécie de treinamento: pouco depois de formado, começou a dar aulas de jornalismo gráfico na Escola de Comunicação da UFRJ.
– Ao voltar para o mundo do aluno, entendi melhor o ponto de vista do professor. Tinha contato com a galera mais nova, conversava muito com eles, ajudava-os em matérias que eu já tinha cursado. Foi uma experiência interessante para mim, um cara com 33 anos na época, ter contato com pessoas de 18, gente que está começando a vida. Era legal estar em outro ritmo – destaca.
Ricardo foi aluno de alguns colegas de mercado e da própria mãe, professora da disciplina de analise gráfica. Edna conta se preocupou em não dar um tratamento que privilegiasse o filho, mesmo sendo ele um "profissional pronto":
– Tinha medo de que achassem que eu estava privilegiando meu filho. Então pedi para minha estagiária dar a nota. Eu iria dar 10, foi um trabalho excelente. Por fim, foi essa a nota que recebeu.
Ricardo também compartilhou a PUC com o irmão mais novo, Leonardo Cunha Lima, que foi aluno de filosofia. Até acompanhou algumas aulas desta área, mas o design acabou prevalecendo. Em grande parte, por influência da mãe e do pai, o também designer Guilherme Cunha Lima.
– Sempre gostei de estudar filosofia. Eu ia junto com o meu irmão para as aulas. Assisti a algumas com o grande filósofo Danilo Marcondes. A PUC tem uma tradição de filosofia muito boa. Cheguei até a considerar a possibilidade de fazer a pós nessa área – conta.
O encontro com a filosofia seria retomado anos mais tarde, na concepção do trabalho final de graduação. Ricardo produziu capas para obras de Shakespeare.
– Tive que estudar sobre tragédia, ler Aristóteles, entender a origem. Assisti a umas aulas no curso de extensão na PUC sobre Shakespeare, indicado por uma professora de literatura – lembra.
Fora do design, Ricardo destaca a experiência nas aulas da disciplina O Homem e o Fenômeno Religioso:
– Foi uma matéria muito interessante. Não porque eu era uma pessoa mística ou religiosa, pelo contrário. Era uma matéria muito aberta, foi uma experiência legal.
Além da filosofia, outra área de afinidade do ilustrador é o jornalismo. Iniciou o curso de comunicação quando morava em Brasília, produziu ilustrações para diversas revistas da Editora Abril e hoje trabalha no Departamento de Arte do jornal O Globo. Ricardo vê uma enorme importância na integração das duas esferas de conhecimento:
– De certa maneira, o design gráfico antecipou certas coisas do jornalismo. Pessoas que vão trabalhar com design estão cada vez mais interessadas em jornalismo, e no fundo, o infografista, assim como o ilustrador, é um tipo de jornalista.
Para ele, é importante o contato com novas propostas de ensino, como as aulas experimentais, “meio loucas”, desenvolvidas pela professora Ana Branco na barraca do Departamento de Design. Até hoje, Ricardo usa uma receita adotada nos tempos de universidade: paciência e sagacidade para absorver experiências e conhecimentos que se apresentavam tanto em sala quanto nas conversas com os colegas. As lembranças ficaram eternizadas nos cadernos, lotados de desenhos que fazia durante as aulas. Desenhos de colegas, cenas, lugares que marcaram o mundo universitário.
– Era uma oportunidade de voltar a estudar e ter contato com várias coisas diferentes. Foi muito rico terminar o curso na PUC.
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