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Rio de Janeiro, 13 de outubro de 2024


Campus

Gustavo Franco aconselha novos economistas

Bruno Alfano - Do Portal

24/09/2010

 Isabela Sued

Na época em que o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco frequentava os pilotis da PUC-Rio como aluno de economia, ouviu de um professor no primeiro período que o Brasil estava fadado ao subdesenvolvimento. A opinião quase o fez desistir da gradução.

A ideia não vingou e depois da formatura Gustavo Franco fez mestrado na universidade, doutorado em Harvard e voltou à PUC-Rio como professor. Hoje, depois de atuação determinante no Plano Real e voltar a lecionar, Gustavo Franco dá conselhos no livro Cartas a um jovem economista, lançado nesta terça-feira (22/09), na livraria da Travessa. Na obra, publicada pela editora Campus, o autor conta que a inflação no Brasil era a questão a ser combatida pela sua geração e relata a sua versão da história do plano econômico que resolveu o problema no início da década de 1990.

Em entrevista ao Portal PUC-Rio Digital, Gustavo Franco elegeu outra questão como o principal desafio dos jovens profissionais da área:

– O novo desafio é a taxa de juros. Ela tem a ver com as finanças públicas e o tamanho do Estado. A sua solução vai requerer muita força de vontade dos novos profissionais.

Segundo o autor, as questões de ontem e hoje estão relacionadas. Segundo ele, a alta taxa de juros no país “é uma doença parecida com a que provocou a inflação”. No começo dos anos 1990, o Brasil precisava, nas palavras do autor, da “cura do câncer”. O país acumulara 20.759.903.275.651% de inflação em 15 anos. A equipe do governo que Gustavo Franco trabalhava conseguiu, em quatro anos, baixar a taxa de 7.260% para 2% ao mês. Em Cartas a um jovem economista, o autor lembra da apatia dos brasileiros na época.

– A gravidade daquele problema entorpecia a sociedade. Felizmente não vemos mais isso hoje. A vida econômica está menos turva, então existe mais participação. Uma democracia mais ampla.

 Isabela Sued Depois da luta vencida, Gustavo Franco voltou às salas de aula da PUC-Rio. O autor se supreendeu com a postura dos alunos no primeiro dia de aula depois da sua saída do Banco Central: “Pareciam que estavam de cintos afivelados em uma sala em turbulência”. A enorme quantidade de repórteres fez o professor achar que nada seria como antes. Entretanto, conta que logo em seguida já estava tudo como sempre foi.

– Caiu na normalidade muito rápido – diz, com bom humor.

Nessa volta, o aluno Gabriel Buchmann passou pelas salas do professor Franco. Depois do mestrado, o rapaz de 28 anos tentava conquistar uma vaga em Harvard, nos EUA, para continuar sua pesquisa sobre redução da pobreza extrema no mundo. Para isso, pediu – e conseguiu – uma carta de recomendação de Gustavo Franco, ex-aluno da instituição.

Entretanto, em agosto de 2009, em um dos últimos destinos da expedição que fazia para conhecer melhor os problemas que iria estudar, o jovem faleceu no monte Mulanje, no Malauí. No livro recém-lançado, Gustavo Franco reservou a última das dez cartas para Gabriel. “Ninguém como você tornou tão clara a ideia de ir a campo”, escreveu para o rapaz.

No conjunto da obra, com as histórias de Gabriel, do Plano Real, da PUC e de Harvard, Franco quer deixar um impressão do futuro diferente daquela que seu professor havia profetizado. Para ele, o Brasil não está fadado ao fracasso, tudo dependerá de trabalho:

– A impressão que eu quero deixar no livro é que o nosso destino econômico não está determinado por nenhuma lei da natureza que nos leve nem ao fracasso nem ao sucesso. Ele vai ser tão bom quanto o trabalho que a gente fizer.