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Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2024


Campus

Aula magistral debate mudanças no ensino do país

Thaís Chaves - Do Portal

23/09/2010

 Isabela Sued Durante três décadas, a professora do Departamento de Educação da PUC-Rio Zaia Brandão constatou mudanças no sistema de ensino brasileiro, desde a publicação de seu livro Democratização do ensino, meta ou mito?, da Editora Francisco Alves, lançado em 1979, no Rio de Janeiro. A falta de leis e de políticas que garantem o ensino para alunos de famílias com baixa renda foi solucionada ao longo desses anos, mas a qualidade de ensino, para a professora, ainda é um grande problema. O assunto foi detalhado na aula magistral Democratização do ensino, meta ou mito? Revisitando um tema 30 anos depois, quando Zaia Brandão (à direita na foto ao lado) tomou posse como professora titular na PUC-Rio, na última segunda-feira (20/09).

– Defendo a valorização do ensino e dos professores. Não acredito no apelo da “ajuda diletante”, que consiste na inclusão de diferentes responsabilidades no ensino das crianças e exclui o agente principal, o governo. A jornada escolar deve ser ampliada, junto com a infraestrutura administrativa – avaliou.

 Isabela SuedZaia Brandão contou que após 30 anos do lançamento de seu livro, tema da aula, a inclusão social aumentou a partir de programas como Bolsa família, com o objetivo de transferir renda para famílias em situação de pobreza, os acessos à educação e assistência social, assim como a ampliação dos ensinos infantil e fundamental, até a nona série.

– O acesso dos alunos com baixa renda familiar e a maior facilidade da permanência deles nas escolas aumentaram. As políticas de avaliação, como desempenho dos perfis dos docentes, características das escolas e o Exame Nacional do Ensino Médio, Enem, também são outros fatores que merecem destaque – ressaltou.

A tarefa de educar, conforme disse a professora, não é exclusiva da escola. As famílias de baixa renda não têm condições de suprir as lacunas dos sistemas de ensino. 

Zaia Brandão afirmou que nas décadas de 1960 e 1970, as crenças no poder da educação e no capital humano eram grandes. Os países desenvolvidos, então, passaram a ampliar o ensino para as diferentes camadas sociais. Com o acesso democrático às escolas, a distribuição desigual das oportunidades se tornaram pauta de reflexão.

 – Foram criados inquéritos educacionais, como o Relatório Coleman, nos Estados Unidos, em 1966, que concluiu sobre a importância das características familiares em relação aos fatores escolares no desempenho do aluno – explicou.

 Isabela SuedSegundo Zaia Brandão, a desvalorização e a autodesvalorização das escolas dos setores populares também eram temas debatidos naquelas décadas. O sistema escolar foi tema de reflexão de pensadores como Paulo Freire e Ivan Illich. O primeiro estabeleceu uma relação entre cultura e linguagem. Já o austríaco Ivan Illich criou o conceito de educação em rede, uma ideia que, de acordo com a professora, pode ser considerada precursora da internet.

A professora Zaia foi agraciada com Menção Honrosa do Prêmio Jovens Cientistas, em 2008, por sua atuação na formação de pesquisadores. Foi eleita Personalidade Educacional (ABI, ABE, Folha Dirigida), por votação direta da comunidade educacional, também em 2008.    

Zaia Brandão elaborou diferentes projetos de pesquisa, como o Escola Básica no Brasil. O levantamento consistiu em uma investigação interdisciplinar incluindo história, política e trabalho de campo, com o foco nas práticas pedagógicas da Escola Básica (de 1ª à 4ª séries do antigo ensino primário). Lecionou também na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), na Fundação Cesgranrio, na Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire) e no Serviço de Escolas Tele Radiofônicas (Seter), em São Paulo.