Projeto Comunicar
PUC-Rio

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Rio de Janeiro, 2 de novembro de 2024


Cultura

Movida a adrenalina

Fernanda Ralile - Do Portal

13/02/2008

Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo *

Quem veio?

Denise Garrido, produtora de arte, e Vává Torres, supervisor de caracterização.

Por que veio?

Convidados pelo Departamento de Comunicação da PUC-Rio para palestrar no seminário “Estética – encontro entre TV e cinema nas minisséries da Rede Globo”. Denise falou sobre o dinamismo do trabalho da produção de arte, as diversas situações vividas por ela, e o que fazer quando imprevistos acontecem numa produção. Vavá mostrou através de fotos alguns de seus trabalhos e o desafio da maquiagem com a entrada da TV em alta definição.

Onde e quando?

Na sala 102K, dia 31 de Maio, das 11h às 13h.

 

Melhores Momentos

(D) “O cargo da produção de arte foi criado na televisão por volta de 1973. Por conta de uma necessidade de etiqueta, numa novela chamada O Rebu que se passava inteira durante um jantar, com mesmo elenco, figurino e situação. Então sentiu-se a necessidade de trazer pessoas que entendessem de etiqueta, qual a comida, o melhor arranjo e figurino. É até engraçado porque, durante muito tempo na Globo, essa função tinha uma coisa de que as produtoras de arte eram as ‘moças bem nascidas e bem criadas, que usavam os seus lenços no pescoço e sabiam normas de etiqueta’. Mas isso tudo foi mudando muito.

(D) “Tem aquele que eu chamo de santo, que é o contra-regra de rua. Eu chego pra ele e digo assim: ‘Eu preciso de 167 mil moscas!’ Aí ele pensa ‘Bom, aonde eu vou encontrar?’ e sai, vai pro ranário, vai pra igreja rezar para as moscas aparecerem, qualquer coisa que ele possa fazer. O contra-regra de rua é fundamental para o trabalho da produção de arte. Não foram 167 mil, mas já tive que providenciar 10 mil moscas!”

(D) “Nosso trabalho vira uma cachaça. É um processo meio de gincana, correria e adrenalina que a gente acaba ficando viciado. Eu fiquei de férias agora um tempo, esperando essa novela começar, aí você fica: ‘Ai que ótimo estou de férias há um mês! Ai que ótimo estou de férias há dois meses!’, e aí? Cadê a adrenalina? Aí você começa a arrumar o armário, a gaveta, lava a casa, o carro, porque é a adrenalina que faz falta, é o que move o nosso trabalho.”

(D) “Por mais que a gente tenha se preparado, feito a pesquisa, falado com o fornecedor, conversado com o diretor...chega na hora da cena, alguma coisa de errado acontece!”

(D) “Novela de época, eu falo para as minhas assistentes, é estudo do primeiro dia que você recebe a sinopse até o último capítulo. Porque tem sempre uma pessoa no set muito bem intencionada que fala na hora de um momento de cena: ‘Ah, mas eu ouvi dizer que não era bem assim!’. Tem sempre alguém que acha por alguma razão que sabe mais do que a pessoa que pesquisou e leu milhares de livros, que viu milhares de filmes. Então, você tem que ter uma firmeza muito grande para o seu trabalho não ir pelo ralo.”

(D) “Os animais são a loucura da produção de arte. Não há nada melhor do que trabalhar com animal! E o diretor ás vezes não entende que a gente não têm o controle mental sobre eles (risos), por mais que a gente tente!”

(D) “A nossa sala é um misto de informação, referência, peças, é bicho que fica em baixo do pé, eu já fiquei com cobra em baixo do meu pé, é o cachorrinho de cena que vem e entra, tem de tudo. É engraçado porque é uma sala muito visitada pelo elenco, eles gostam muito de ir lá. Porque tem meio que a mágica de tudo que acontece, tanto com os personagens deles como na novela como um todo.”

(D) “Produção de arte tem que ter uma parabólica na cabeça o tempo inteiro. Porque de uma hora pra outra você tá andando na rua e vê uma situação que lá na frente você pode usar numa cena. E aí você já tem uma idéia do que fazer, porque você já viu.”

(D) “As pessoas que fizeram o remake de Cabocla não viram a versão antiga para que não houvesse uma contaminação visual. Porque são mentes diferentes, recursos de iluminação diferentes, equipamentos de áudio e vídeo diferentes, e a gente têm que evoluir.”

 

Uma palavrinha a mais

- O que a produção de arte proporciona que as outras áreas de criação não proporcionam?

(D) - A adrenalina é a mesma, completamente. A gente está agora nesse processo de criação da próxima novela das oito, e assim, ainda não temos todos os capítulos na mão. Mas a gente parte sempre junto, nunca um querendo passar a frente do outro porque nosso objetivo é o mesmo. E quando você e sua equipe não conseguem fazer algo que foi pedido, o que vocês fazem, ou dizem para o diretor?

(D) - Eu sempre tenho que dar uma solução, mesmo se não for a solução exata do que foi pedido pelo autor ou pelo diretor. Nessa situação que eu contei, quando o diretor pede na hora da cena ‘Ah, eu queria tanto um jantar japonês aqui!’, você fala ‘Ok, vou tentar!’, e vai atrás. Se você não conseguir você tem que chegar e falar: ‘ Não tem jantar japonês, mas fiz uma linda macarronada italiana!’, entendeu? Toda vez que você tem uma situação dessa você tem que estar sempre com a solução, você não pode ser só o problema, porque é o que eu falo, o diretor é o nosso cliente, o autor é nosso cliente. De uma certa forma temos que estar sempre com a preocupação de ver além. Alguma história para contar pra gente?

(D) - Agora gravando Cobras e Lagartos foi uma loucura, na primeira cena eu tinha um balão inflável, imenso, que fazia parte de uma cena de uma festa numa ilha. E aí o camarada levou uma quantidade de gás que não durava o dia inteiro de gravação, o que você faz? Você está numa ilha, você não tem o gás, então você começa a propor soluções ao diretor: ‘Olha você começa a gravar aqui enquanto a produção vai buscar o gás!’. Problemas e imprevistos acontecem, mas você tem que ter sempre a atitude de correr atrás e tentar resolver tudo da melhor forma possível.

- Em sua palestra Edson Pimentel afirma que o profissional do futuro é o homem de caracterização, o que você acha disso?

(V) - Acho maravilhoso! O maquiador do futuro vai ter que ter muita sensibilidade, mais do que tem hoje. Com a alta definição (HD) você vai ter que ter uma mão mais leve, sutil, apesar de ainda ter o recurso da iluminação, que nos ajuda muito. Porque se você tem uma luz branca e fria, você consegue disfarçar algumas imperfeições que a maquiagem possa deixar. Mas se você que usar uma luz quente e amarelada, você vai ter que ter muito mais cuidado porque senão ela vai registrar. Mas eu concordo totalmente com o Edson.

* Acompanhe a seqüência do seminário “Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo”:


1 – Luís Erlanger.
2 – Luiz Fernando Carvalho.
3 – Luiz Gleiser.
4 – Geraldo Carneiro.
5 – Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira.
6 – Antônio Calmon.
7 – Daniel Filho.
8 – Guel Arraes.
9 – José Lavigne.
10 – Walcyr Carrasco.
11 – Sílvio de Abreu.
12 – Sérgio Marques.
13 – Glória Perez.
14 – Edson Pimentel.
15 – Maristela Veloso e Alexandre Ishikawa.
16 – Eduardo Figueira e Maurício Farias.
17 – José Tadeu e Celso Araújo.
18 – José Cláudio Ferreira e Keller da Veiga.
19 – Ariano Suassuna.
20 – Luiz Fernando Carvalho (e equipe).
21 – Betty Filipecki e Emília Duncan.
22 – Denise Garrido e Vavá Torres.
23 – Cláudio Sampaio e Alexandre Romano.
24 – Edna Palatinik e Cecília Castro.
25 – Roberto Barreira e Marcinho.
26 – Cadu Rodrigues