Reflexões sobre o passado, análises do presente e propostas para o futuro do Rio de Janeiro. No XVII Seminário de Iniciação Cientifica da PUC, semana passada, a diversidade marcou as pesquisas apresentadas pelos alunos de História e Sociologia. Em comum, os jovens pesquisadores apontaram contradições e problemas crônicos da cidade, como a perda da identidade de algumas áreas.
Na pesquisa “O plano e o desejo do plano: A Esplanada do Castelo”, Maria Luiza Noujain, aluna do curso de História, analisou a destruição do Morro do Castelo em 1921, época da exposição comemorativa do centenário da independência, e a atual “colcha de retalhos” em que essa região da cidade se transformou:
- Muitos planos foram feitos, muitas construções, e atualmente a gente observa que é uma área confusa, sem identidade visual. Essa latência histórica motivou a nossa pesquisa - explica Maria Luiza.
A pesquisa aborda outras ações “modernizadoras” do poder público que resultaram na suposta incongruência visual de diversos pontos da cidade. Por exemplo, as remoções de favelas na década de 1960. Em especial, a favela da Praia do Pinto, no Leblon, consumida por um incêndio. Seus moradores foram transferidos para o conjunto habitacional Cruzada São Sebastião, idealizado por Dom Helder Câmara.
Na área de sociologia, Julia Moulin Souto apresentou o estudo “Pobreza e desigualdade na favela, pesquisa etnográfica em favela carioca”, sobre moradores do morro Dona Marta. "Tentamos identificar como vivem e trabalham os moradores, e as diferenças geracionais dentro das famílias", esclarece a estudante.
O trabalho expôs as características e a heterogeneidade da população dessa comunidade carioca e as diferenças em relação à comunidade de Rio das Pedras, na Barra da Tijuca. Nessa comparação, Julia relacionou a diferença entre as origens migratórias: nordestinos, em Rio das Pedras; e descendentes de imigrantes e trabalhadores rurais oriundos do Vale do Paraíba, no caso do Dona Marta.
Já o estudo de Ana Carolina Lopes, aluna de Ciências Sociais, comparou o comportamento da população de origem nordestina em contraponto ao dos cariocas nativos. “Relações de gênero, corpo, 'raça' e geração em contextos de sociabilidade na cidade do Rio de Janeiro” destaca as diferenças culturais. Em relação à percepção do corpo, por exemplo: enquanto o padrão de beleza do carioca dá preferência a mulheres magras e atléticas, o modelo de mulher bonita para o nordestino valoriza menos o esteriótipo atlético e mais as mulheres consideradas para muitos acima do peso.
Mais um ponto importante apresenato pelo estudo na relação dos dois grupos é a Feira de São Cristovão. A pesquisa confirma uma dupla função: como espaço de integração entre os nordestinos e como vitrine da cultura nordestina para a população carioca.
Já a pesquisa “Mapeamento de casas de religiões de matriz africana no Rio de Janeiro” aborda o projeto de mesmo nome que procura mapear todos os terreiros umbanda e candomblé no estado. A iniciativa pretende ajudar no desenvolvimento de uma política pública de preservação dessas religiões e, principalmente, combater o preconceito sofrido por seus adeptos. (Mais informações no endereço www.nima.puc-rio.br/mapeamento/.) Na pesquisa, Ana Luiza Guimarães ressalta a importância do combate à “ideologia maniqueísta” que associa crenças africanas a seitas de magia negra, gerando preconceito e até atos de violência contra os praticantes e seus templos:
- A perseguição contra as religiões africanas vem de muito antes - lembrou Ana Luiza, referindo-se às proibições que as religiões de matriz africana sofreram na época da escravidão.
Mais informalções sobre as pesquisas apresentadas no seminário são encontradas no endereço eletrônico do Programa Institucional de Iniciação Científica (www.puc-rio.br/pibic/).
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