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Rio de Janeiro, 1 de novembro de 2024


Cultura

A comunidade acadêmica entra na Avenida e pede passagem

Glaucia Marinho* - Do Portal

01/02/2008

O campus nem de longe registra o movimento intenso do período de aulas. Mas para uma parte significativa da comunidade da PUC-Rio, o momento é de ansiedade e expectativa, e os corações batem acelerados, no ritmo dos tantãs. Funcionários, professores e alunos não vêem a hora de botar o bloco na rua e cair na folia.


O funcionário Valdir Nunes, responsável pela limpeza do ginásio esportivo, não perde um dia de ensaio de sua escola, a Acadêmicos da Rocinha. Aos 32 anos, desfila há cinco na agremiação, embora seu coração seja da Mocidade Independente de Padre Miguel. Ele entrou no mundo do carnaval a convite de uma amiga presidente de ala na Mocidade. Valdir é de Barreirinhas, Lençóis Maranhenses, e apesar de sido criado ao som do forró é apaixonado pelo samba. O convite para desfilar na Mocidade ocorreu logo que ele chegou ao Rio, há 12 anos.
A entrada na Acadêmicos da Rocinha se deu quando Valdir mudou-se para a comunidade. Ele começou ajudando na confecção das fantasias, mas agora só desfila. Para ele, é inexplicável a sensação de cruzar a Marquês de Sapucaí. Para fazer bonito, toda quarta-feira, bate ponto nos ensaios, na Praia de São Conrado. Para ele, todo sacrifício pela escola vale a pena. Apesar de achar que os jurados do carnaval são “todos comprados”.


Antônia Martins, 30 anos, nascida em Tianguá, Ceará, chegou ao Rio de Janeiro aos 12 e também se apaixonou pelo samba. A funcionária da limpeza do Departamento de Relações Internacionais desfilou em 2004 pela primeira vez. Sua estréia foi na Acadêmicos da Rocinha, na ala alegria. Depois, passou a sair na ala da comunidade e, em 2007, na ala das baianas. Ela conta que o carnavalesco tinha restrições à sua entrada, que logo foram superadas. Antônia lamenta que, para desfilar na ala da comunidade, seja preciso pagar taxa de R$ 70.


– Apenas a ala das baianas e a bateria são de graça – diz.


No futuro pretende entrar no curso de chocalho para poder integrar a bateria do mestre Pato Rocco. Suas filhas, Vitória, 9 anos, e Evelin, 12, desfilam na ala das crianças. Antônia lembra quando desfilou pela primeira vez e ligou para contar a novidade para sua família no Ceará. Segundo ela, a família ficou horrorizada, achando que Antônia desfilara nua. Um momento inesquecível foi a ascensão queda da Acadêmicos da Rocinha ao grupo especial. Mas no seu primeiro ano desfilando no grupo de elite do carnaval, faltou sorte: choveu muito, um carro alegórico pegou fogo e a escola foi penalizada, perdendo pontos preciosos e voltando para o grupo de acesso. Antônia lembra que junto com a chuva caíam lágrimas dos componentes da escola.


Edson Gomes da Silva, 42 anos, gerente da AFPUC, desde os 10 anos vive samba. Seu pai foi fundador do Bloco Carnavalesco Cacarecos Unidos do Leblon, onde Edson começou a carreira de compositor. O bloco nascido na Praia do Pinto, favela que ficava na Selva de Pedra, Leblon, e foi removida nos anos 60, no governo Negrão de Lima. A família de Edson foi levada para um conjunto habitacional na Cidade Alta, bairro de Cordovil, Zona Norte do Rio. O bloco resistiu à remoção, mas, na década de 80, acabou se fundido a uma escola de samba local. O Cacarecos acabou, mas o amor pelo samba continuou. Compôs para outros blocos como o Baba do Quiabo. Aos 17 anos, foi para o Acadêmicos do Salgueiro integrar a bateria a convite do tio de sua namorada, ficando por cinco anos. De lá, foi para São Clemente, da qual seu sogro, Jorge Gordo, é fundador. Para ele, hoje o carnaval é um jogo de cartas marcadas. “O bom da escola é o que se apresenta fora dela”, critica Edson, hoje trabalhando na dispersão.

O compositor Lula Branco Martins, 43 anos, sempre gostou de carnaval. Lula é professor do Departamento de Comunicação Social . Já desfilou pela Beija-flor de Nilópolis, trabalhou por 15 anos na Avenida cobrindo carnaval para o Jornal do Brasil. Agora, o professor se aventura na composição de sambas-enredo. Há dois anos, concorre na escolha do samba da Unidos da Tijuca e também na escola do grupo de acesso Império da Tijuca. Este ano, chegou à final na Império, com o enredo sobre a chegada da Família Real ao Brasil. Lula passou a freqüentar a Unidos da Tijuca por já conhecer Paulo Barros, o carnavalesco que modernizou que a folia carioca usando “alegorias humanas”. Este ano, o professor desfila na ala dos compositores, na segunda-feira de carnaval.


Mas não são apenas os funcionários e professores que vão curtir a folia. Nascido nas rodinhas semanais de samba na Vila dos Diretórios da PUC-Rio, o bloco carnavalesco A Rocha desfila há seis anos na Gávea – saindo da Praça Santos Dumont e indo até o Planetário. Tudo começou com encontros casuais dos alunos de Geografia, que, carentes por samba de raiz, resolveram se juntar para fazer um som. Segundo Léo Figueiredo, produtor do bloco, naquela época, fim dos anos 90, não se ouvia muito esse tipo de música pelos corredores da faculdade. A idéia deu certo, e com o tempo cada vez mais pessoas foram se juntando aos futuros geógrafos. Dois anos depois o grupo passou a se reunir no Planetário, e além do samba, jogava-se capoeira. Foi nesta época que nasceu o nome A Rocha, trocadilho com um dos objetos de estudo da Geografia e com a expressão “arrochar”. O bloco cresce a cada ano. Em 2006, cerca de 3 mil pessoas estiveram presentes no desfile. Para quem não consegue esperar até o carnaval, os ensaios do bloco acontecem toda quarta-feira às 19h na Casa Rosa, Laranjeiras.

*Colaborou Fernanda Ralile