Os conceitos de música desenvolvidos pelos matemáticos Pitágoras e Kepler e a história das músicas eletrônica e concreta são alguns dos temas estudados na eletiva A Física na Música, do Departamento de Física. Ministrada pelo professor Alexandre Bräutigam, a disciplina reúne alunos de departamentos variados, como de Administração, Comunicação, das engenharias, de Letras e Química.
Segundo o professor, a ideia de criar a disciplina surgiu em uma conversa com uma amiga. Ela acreditava que física e música não tinham aspectos comuns, diferentemente dele. O professor pensou no assunto e decidiu criar a matéria.
– Quando pensamos em tecnologia, a relacionamos com computadores ou sensores, mas o piano é uma tecnologia. Ao percebermos a construção desse instrumento, como ele gera sons específicos, também é uma técnica que foi desenvolvida. Inclusive, o nome tem relação com isso. Na verdade, o instrumento se chama pianoforte, piano é uma redução do termo. E o pianoforte é um instrumento musical capaz de emitir notas, que vão desde o piano até o forte. Além disso, o piano é um instrumento de teclado que possibilita o músico tocar mais forte ou mais fraco, dependendo da intensidade e da força que é feita na tecla – ressaltou.
O principal motivo que levou o aluno de intercâmbio, o americano Landon Robinson, de 22 anos, a se matricular no curso foi o interesse em estudar a música em uma perspectiva diferente. Para ele, quem quer ter uma profissão relacionada a essa arte, deve entender os principais aspectos.
– Eu adoro a música. Pretendo começar a entender essa arte na perspectiva da física. Normalmente os alunos não estudam a física da música, mas a música tocada, numa outra perspectiva – acrescentou Robinson, que cursa português na universidade durante a temporada no Brasil.
A aluna do 10° período de design Isabela Taylor, de 23 anos, espera entender melhor como funciona a técnica da música. A universitária disse que conhece bastante os artistas e os músicos, até mesmo os equipamentos, mas não entende muito a teoria. A eletiva, para Isabela, a ajudará no projeto de conclusão de curso, que tem relação com essa arte.
– Cursar a eletiva é mais uma maneira de entrar nesse universo. Eu gosto muito de música, pesquiso muito sobre música – contou.
Na opinião de Alexandre Bräutigam, o desenvolvimento da sensibilidade e do senso estético é mais importante do que ter somente a técnica. Para ele, é mais interessante tocar piano sem o objetivo de reproduzir canções, mas observando a sonoridade do instrumento. No curso, o professor explica a história de alguns gêneros musicais abordados na disciplina. O compositor e engenheiro francês Pierre Shaeffer, por exemplo, segundo Bräutigam, ampliou o universo musical ao criar a música concreta, no século XX, que consiste em transformar qualquer tipo de som em música.
– Uma das primeiras músicas que ele fez usava o som de um trem. No primeiro filme do cinema, produzido pelos irmãos Lumière, tem uma locomotiva chegando à estação. Tanto na música quanto no cinema existe essa primeira peça em comum – observou.
Na Alemanha, no início dos anos 1950, segundo o professor, foi desenvolvida a música eletrônica, que era o extremo oposto da música concreta francesa. De acordo com Bräutigam, as tecnologias da nova arte criavam sons com base em objetos eletrônicos, sons não encontrados na natureza. A partir da música eletrônica alemã foram criados os sintetizadores, instrumentos que visam produzir sons artificialmente.
O compositor alemão Karlheinz Stosckhausen, conforme ressaltou o professor, frequentou laboratórios de música franceses e compôs o Cântico dos adolescentes (Gesang der Junglinge), primeira música que uniu as duas escolas. Stosckhausen passou a chamar a nova tendência de música eletroacústica, que junta a música eletrônica com o acústico da música concreta. De acordo com Bräutigam, a partir do conceito de música eletroacústica, surgiram as músicas acusmática e mista.
– A música mista trabalha com instrumentos convencionais, mas são importados para o computador e reprocessados. A sonoridade fica completamente diferente. A acusmática rompeu com isso. Nesse tipo de música é utilizado o conceito de Pitágoras: o ouvinte recebe o som sem saber sua origem.
Segundo o professor, Pitágoras tinha o hábito de expôr suas ideias aos discípulos de maneira diferente: ele se posicionava atrás de uma cortina para palestrar, com o objetivo de obter total atenção. Assim, o filósofo e matemático desenvolveu o método de foco no som.
Alexandre Bräutigam aprendeu a tocar diferentes instrumentos musicais convencionais. Sua paixão por essa arte começou quando era menino. Ele tinha o piano da avó em casa, com candelabros, e gostava quando o pai apagava as luzes, acendias as velas e tocava canções, como as dos Beatles. Quando adolescente, após aprender piano, começou a se interessar por rock pesado e a tocar guitarra.
– Comecei a tocar baixo em uma banda e bateria porque meu irmão comprou uma. Fiz Rio Maracatu, aprendi percussão. Depois disso, escolhi tocar violoncelo na [Escola de Música] Villa Lobos, por um ano e meio, e aprendi música eletroacústica. Descobri que minha alma é muito mais de compositor do que de instrumentista – concluiu.
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