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Rio de Janeiro, 7 de dezembro de 2024


Campus

Mauro Salles: “Mais importante que as aulas foi a convivência”

Lucas Soares - Do Portal

10/12/2010

 Mauro Pimentel

Fotógrafo, jornalista, advogado, publicitário, poeta, político. Um grande comunicador, no sentido pleno. Formado em direito pela PUC-Rio, o também empresário Mauro Salles sempre foi “aficionado em aprender”. A paixão pela informação era tanta que mudou seus rumos desde cedo, antes mesmo de o jovem estudante ocupar as carteiras do tradicional Palacete Joppert, primeira sede da PUC-Rio, em Botafogo. Ex-aluno e ex-professor da universidade, Mauro explica que “a escolha do direito foi por vocação e do jornalismo, por paixão”.

Pernambucano, primogênito de sete irmãos, Mauro Salles veio para o Rio ainda pequeno, aos 10 anos, em 1942. Seu pai, o agrônomo Apolônio Salles, assumia o Ministério da Agricultura, a convite do presidente Getúlio Vargas. Na antiga capital da República, Mauro foi matriculado no tradicional Colégio São Bento. Ele lembra que sempre estudou em instituições de ordens religiosas. Na escolha da universidade não foi diferente.

Entre a renomada Faculdade Nacional de Direito e o curso de direito da nova faculdade na Rua São Clemente, Mauro preferiu esta. Embora tenha ficado entre os dez primeiros no vestibular da Nacional, escolheu a Universidade Católica administrada pelos jesuítas:

Mauro Pimentel– Na época diziam: “como que aquele aluno vai deixar de estudar na Faculdade de Direito para ir para uma tal de PUC?” Mesmo assim eu fui e não me arrependo, pelo contrário.

A turma contava 50 alunos. Dentre os mestres estava o político Carlos Lacerda, professor de quem Mauro teve "o orgulho de ser aluno". Segundo ele, a inteligência e a vocação para o debate, pouco comum nas antigas salas de aula, faziam de Lacerda um professor diferente:

– Eu gostava de debater com ele (Lacerda). Se eu achava uma flor amarela e ele vermelha, era suficiente para se montar um debate. Daí, tentávamos argumentar quem tinha razão.

A admiração virou amizade. A relação professor-aluno transcendeu os muros da PUC e os dois viraram grandes amigos. Mauro sempre prezou pela convivência. Achava tão importante quanto a aprendizagem. Para ele, a universidade representava "mais do que um terreiro de gente". A viagem de bonde do Centro até o campus de Botafogo era recompensada pelo riqueza da vida universitária.

Teresa Salles, esposa de Mauro há 55 anos, lembra que o sogro era austero: não permitia que Mauro e os irmãos andassem no carro oficial. "Tinham que ir estudar de bonde", lembra ela, em tom descontraído.

Enquanto frequentava as aulas de direito, Mauro já dava os primeiros passos no jornalismo. Aos 19 anos, fazia pequenas contribuições para periódicos cariocas. A habilidade em falar inglês, incomum na época, ajudou o jovem a se destacar profissionalmente. Começou na sucursal brasileira da revista americana Life. Lá, foi assistente de fotógrafos como Leonard McCombe e Dmitri Kessel, que o convidou para estagiar no departamento de fotografia.

Em 1954, passou pelo jornal O Mundo e pela recém-lançada revista O Mundo Ilustrado. Saiu em 1955, para trabalhar no Globo. Mauro conta que começou como fotógrafo, na cobertura da posse do presidente Juscelino Kubitschek, mas, como era um dos poucos que faziam entevistas em outros idiomas, tornou-se “um repórter obrigatório na recepção de autoridades internacionais”.

– A minha função, em princípio, era fotografar. Eu era portador de uma [máquina fotográfica] Leica – orgulha-se – Mas eu também tinha à disposição uma máquina de escrever, que acabei usando mais do que a câmera, devido à minha habilidade em recepcionar os gringos. Era só chegar alguém que diziam “Vai lá Mauro, cuidar da fera” – lembra.

Núcleo de MemóriaO universitário enfrentava diariamente a ginástica entre os afazeres de repórter e as atribuições acadêmicas. Trabalhava, às vezes, dez horas seguidas. Conciliava a maratona profissional com a rotina do campus, não mais em Botafogo, mas já na Gávea.

– Logo que a PUC se mudou, eu comecei a trabalhar no Globo. Era difícil conciliar, fazer bem as duas coisas. Mas eu gostava desta vida. A vida de repórter era a paixão que me movia – recorda.

Logo depois de formado, ainda na década de 1950, Mauro retornou à PUC-Rio como professor. Pela experiência no jornalismo, deu aula durante três anos no curso de Comunicação Social, sob o incentivo dos professores do Direito. A escritora e jornalista Nélida Piñon foi uma de suas alunas. Ela conta que “o professor Mauro Salles era brilhante e ativo”.

– Era um professor jovem, mais parecendo um aluno. Um discípulo que amava o Brasil, o jornalismo, e os carros esportes, que conhecia como poucos – afirma Nélida, ao lembrar de uma das  paixões do antigo mestre.

Um profissional com muitas atribuições

Mauro PimentelA receita do sucesso profissional foi, segundo Mauro, "levar a sério o trabalho e estar sempre em constante aprendizado”. Foi essa disposição para aprender que o permitiu desempenhar diversas atividades. Depois de passar pela revista Life e pelo jornal O Globo, no qual chegou a ser chefe de redação, Mauro licenciou-se por alguns meses para desempenhar cargos públicos. Foi secretário do Conselho de Ministros do Gabinete Parlamentar do ministro da Justiça, em 1961, e chefe de gabinete do ministro da Indústria e do Comércio Antônio Balbino, em 1963. Pouco depois, numa crise do governo, acabou nomeado ministro, no lugar de Balbino. Permaneceu no cargo por três meses.

Mauro teve participação fundamental no lançamento da TV Globo, onde foi diretor de jornalismo até a estreia da emissora. Em 1966, ele deixou as Organizações Globo para fundar sua agência, a Mauro Salles Publicidade. Em 1978, convidado pelo jornalista Roberto Marinho, assumiu uma das vice-presidências das Organizações Globo. Ficou responsável pela sucursal de rádio, TV e jornal em São Paulo.

Em 1984, coordenou a campanha de Tancredo Neves à presidência da República. Em paralelo, continuou administrando sua agência, a qual lhe rendeu muitos prêmios, como Homem de Propaganda, em 1970; Publicitário do Ano, em 1972; Personalidade Global, em 1973; Homem de vendas, em 1974; e Publicitário da Década, em 1981.