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Rio de Janeiro, 7 de dezembro de 2024


Cultura

Júlio Diniz desconstrói o nacionalismo brasileiro

Luísa Sandes - Do Portal

11/05/2010

Ser brasileirinho é mais do que ser brasileiro. Os brasileirinhos, como Maria Bethânia e Ferreira Gullar, não se limitam a um conceito de identidade nacional fechada. Para Júlio Diniz, diretor e professor do Departamento de Letras da PUC-Rio, homens nobres, como artistas e educadores, lutam contra clichês e preconceitos que envolvem mitos acerca do país. Afinal, o Brasil não tem uma única essência, ele se divide em muitos, cada um com suas particularidades.

– Chamo de "brasileirinho" quem tem o poder da criança de inventar para si cada dia um personagem diferente, quem constrói no lúdico novas identidades – declarou o professor Diniz, que se inspirou no show da turnê do CD Brasileirinho, de Maria Bethânia (sua amiga há 22 anos), para desenvolver o artigo Os brasileirinhos inventaram o Brasil.

Nem todo brasileiro gosta de carnaval e futebol. No Sul, por exemplo, o samba não é característica da cultura local. Segundo Júlio Diniz, as pessoas acreditam que devemos estar felizes o tempo todo, como em uma “ditadura da felicidade”, na qual precisamos sorrir mesmo quando a vida está difícil. O famoso “jeitinho brasileiro”, para o professor, é outra forma de essencialismo, já que apenas a elite econômica e política do país se favoreceria dele.

De acordo com Diniz, é preciso produzir novos saberes que expressem as diferentes identidades flutuantes que caracterizam o Brasil. O educador, mais do que apenas um professor, pode contribuir para isso ao não seguir normas burocráticas de maneira automática. O brasileiro deve inovar, se desvencilhar de síndromes patológicas, como a de vira-lata e da mania de grandeza.

– Eu estava na Dinamarca em um evento musical. Para homenagear o Brasil, os dinamarqueses jogaram capoeira e dançaram samba. Então me deram um pandeiro para que eu tocasse, mas não sei tocar pandeiro. Quando disse que tocava piano, eles ficaram abismados, acharam um absurdo, como se eu tivesse a obrigação de tocar pandeiro por ser brasileiro e ter minha primeira formação em música – contou Júlio Diniz para exemplificar a ideia do essencialismo brasileiro.

O diretor do Departamento de Letras acredita que o nacionalismo exacerbado tende à cegueira. Para ele, o Rio de Janeiro, local onde mora, se transformou "em um inferno". E, por mais que as pessoas não concordem, ele considera que o Rio não é uma cidade maravilhosa. É uma cidade em um lugar maravilhoso, repleto de mazelas sociais, como a violência.

O ponto de vista de Júlio Diniz, apresentado na palestra Os brasileirinhos inventaram o Brasil, foi título de um artigo que o professor escreveu na revista Leituras Compartilhadas. Em ano de Copa do Mundo e eleições presidenciais, vários textos foram publicados na edição, que tinha como tema a Brasilidade, e estão sendo apresentados pelos seus autores, em palestras, desde o dia 16/04. De acordo com o professor do Departamento de Letras Ricardo Oiticica, a ideia de expor oralmente os artigos teve como motivação desautomatizar o discurso nacionalista, pois as pessoas são brasileiras apenas de quatro em quatro anos. As palestras vão ocorrer até 28/05, às sextas-feiras, 17h, na Cátedra Unesco de Leitura da PUC-Rio.