Luísa Sandes e Yasmim Rosa - Do Portal
22/10/2009As comemorações pelos 100 anos de nascimento de Dom Helder Câmara (1909-1999) não ficaram restritas a celebrações religiosas. Para relembrar o arcebispo e torná-lo ainda mais conhecido, o Instituto de Estudos Avançados em Humanidades, a Comissão Centenário Dom Helder Câmara, a cátedra Carlo Maria Martini e o Núcleo de Memória da PUC-Rio organizaram o Seminário Dom Helder Câmara, realizado na terça, 20, e na quarta, 21.
Na programação de ontem, o bispo emérito de Volta Redonda, Dom Valdir Calheiros, contou sobre sua convivência com Dom Helder. Ao atuarem juntos no episcopado, lutaram pela liberdade durante a ditadura militar.
De acordo com o palestrante, o papel de Dom Helder foi muito importante não só para a Igreja, mas também para o Brasil e o mundo. Em 1952, o religioso criou Conferência Nacional dos Bispos do Brasil com o objetivo de que, juntos, os bispos pudessem tomar decisões e apresentar propostas concretas para o Concílio Vaticano II. Durante 12 anos, Dom Helder foi secretário da conferência.
– Ele era um anjo protetor, um mestre que fazia com que a definição isolada não existisse. Ele articulava projetos coletivamente – diz.
O encontro entre os bispos se difundiu, e com o tempo, tomou proporção na América Latina. Desse modo, puderam manter a Igreja fiel à proposta de Renovação do Concílio Vaticano.
Dom Helder contribuiu muito para a sociedade. A visão ampla e a preocupação em relação aos menos favorecidos explicitaram seu senso de justiça e a vontade de que o mundo tivesse espaço para todas as pessoas.
– Dom Helder foi uma figura indispensável na época da ditadura, pois o regime prejudicava os mais pobres. Ele se preocupava não só com nosso país, mas também com a África, por exemplo.
Para o diretor do Instituto de Estudos Avançados em Humanidades, Paulo Fernando Carneiro de Andrade, o seminário é uma maneira de resgatar a memória e celebrar o centenário de Dom Helder. De acordo com ele, as palestras servem como depoimentos históricos, registros que relatam a vivência do religioso de forma muito viva.
Palestra de Luis Alberto Gomes
Para o sociólogo Luis Alberto Gomes, um dos palestrantes, Dom Helder tratou de uma temática que ainda se faz presente hoje e, por isso, se explica a relevância em trazer seu pensamento para o cenário atual.
Idealizador da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Helder foi um homem à frente de seu tempo e firme em seus princípios. Lutou pelas causas sociais, enfrentou duras críticas e até mesmo o regime militar (1964-1984). Para Gomes, que conviveu com o religioso, ele era um homem incansável, que buscava sempre soluções para a problemática da pobreza no país.
– Ele não poupava forças quando o assunto era mudar a realidade brasileira. Usava do poder que tinha e de seu reconhecimento internacional para pressionar as autoridades e, por isso, viveu sob ameaças, principalmente durante a ditadura.
Segundo Gomes, dois pontos importantes guiaram Dom Helder em sua trajetória: a busca por uma igreja aberta, disposta a manter uma nova relação com o mundo, e o diálogo entre as crenças. Seriam estes os fundamentos necessários para uma sociedade mais humana.
– O trabalho do arcebispo era feito dentro da Igreja Católica. Ele queria que se pensasse o problema da pobreza de forma mais contundente. Dom Helder também acreditava na união de forças para um bem maior. Assim, com a tolerância religiosa, os conflitos cessariam e, unidas, elas seriam mais ativas – comenta.
O homem de ideias fortes e incômodas, conhecido internacionalmente por sua luta, foi perseguido e, por vezes, confundido com um seguidor do comunismo. Mas, por trás de seus preceitos, mostrava-se humilde.
– Ele era uma pessoa tão imponente e ao mesmo tempo tão simples e acessível. Gostava de estar próximo do povo. Nunca disse uma crítica, mas recebeu várias – afirmou o sociólogo.
Dom Helder Câmara nasceu em Fortaleza, no Ceará, em 1909. Se ordenou padre aos 22 anos e, aos 27, foi transferido para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1964. No mesmo ano, foi eleito bispo de Recife e Olinda. Morreu em agosto de 1999, mas deixou um legado de projetos e lutas sociais.
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