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PUC-Rio

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Rio de Janeiro, 13 de outubro de 2024


Campus

Sotaques superam as fronteiras do ensino e da comunicação

Bianca Baptista - Do Portal

10/11/2009

Lucas Landau

Alguns alunos podem reclamar dos nomes, complicados de pronunciar. Outros dos seus sotaques inconfundíveis. Reconhecidos pelo sucesso, e aparência um tanto diferente dos cariocas, professores dinamarquenses, iranianos, japoneses ilustram a pluralidade universitária. Radicados no Rio, eles fazem do intercâmbio cultural um trunfo para a aprendizagem.

– Uma das razões que me motivaram a ficar no Brasil foi a língua portuguesa – justifica Karl Erik Schollhammer, professor do Departamento de Letras.

Há 22 anos, Erik trocou a Dinamarca pelos trópicos, que também seduziram, por exemplo, o   iraniano Khosrow Ghavami e o japonês Hiroshi Nunokawa. Eles integram a "população internacional" da PUC-Rio, formada por 96 funcionários estrangeiros. 

O simpático iraniano

Ghavami, como é conhecido pelos colegas da Engenharia Civil, é um senhor baixo, calvo, simpático. Daqueles que parecem amigos logo à primeira conversa. Os alunos o chamam de "o piadista". Já está tropicalizado, à exceção do sotaque cheio de “erres”. 

– Sou naturalizado brasileiro. Em cinco meses como professor visitante da pós-graduação da PUC-Rio, decidi que o Brasil seria minha residência – lembra o pesquisador.

Professor da disciplina Materiais de Construção, Ghavami apresenta, segundo os alunos, uma metodologia de ensino diferente:

– Ele não dá somente a matéria. Ghavami interage com os alunos, cobra e nos faz estudar. Isso é algo muito bom. Além disso, ele brinca e corrige o nosso português – conta, rindo, o estudante Bruno Zagury, do 8º período de Engenharia Civil.

Os amigos e colegas mais próximos, como os da  Associação Brasileira de Materiais e Tecnologias Não-Convencionais  (Abmten), conhecem o currículo internacional do iraniano. Ghavami morou na Pérsia, na extinta União Soviética e na Inglaterra.

– Queria estudar a arquitetura persa, porém o governo da época, pró-Estados Unidos, proibia. Estudávamos a européia. Isso era um absurdo – lembra, indignado.

Este foi um dos fatores que levaram o então universitário a procurar outro curso. Começou a mandar seu currículo para diversas universidades, da Alemanha à União Soviética. No entanto, o governo iraniano, que passava por um golpe militar, proibiu a viagem ao país socialista.

– Mesmo assim, eu e um amigo meu, Mahmood Saghian, não desistimos – conta o professor.

Ghavami e o amigo Saghian utilizaram a aceitação de um colégio alemão para conseguir o passaporte. Começaram a jornada de trem de Teerã à cidade de Tabriz. Em seguida, foram de ônibus até a Arzeroum, na Turquia, e depois até Belgrado. Na capital da Iugoslávia, entrou em contato com a embaixada da União Soviética para conseguir o visto de estudante.

– Foi tudo feito legalmente, mas contra o desejo do governo iraniano – esclarece.

A desobediência foi punida com o exílio: se voltasse ao país de origem, seria preso. Para reencontrar com os pais, era necessário que ambos viajassem para a Europa. Com o término da faculdade, os soviéticos exigiram a volta dos estudantes ao Irã.

– Imagina, tive que fazer uma greve de fome para tentar evitar isso. Sorte que só durou um dia e depois disso o governo me empregou – diz, em tom de alívio. 

Seguiram-se pós-graduações, mestrados, doutorados em várias universidades do mundo. Na Inglaterra, encontrou emprego – numa firma de engenharia em Manchester – e a mulher de sua vida, Úrsula, uma alemã com quem está casado há 31 anos. Lá tiveram sua primeira filha, Suzan. A segunda, Maryam, nasceu no Brasil.

– Somos uma família multinacional – brinca.

O jeitinho oriental

Hiroshi Nunokawa também ganhou o mundo, parou no Brasil e virou queridinho de estudantes da PUC-Rio. Seu jeito japonês é aclamado pelos alunos.

– É impressionante sua dedicação e conhecimento – diz o estudante de Matemática Lucas Braune.

Professor das disciplinas Mecânica Analítica e Newtoniana, do ciclo básico, Hiroshi decidiu sair do Japão em 1995 para adquirir novos conhecimentos em Valência, na Espanha. O idioma e os costumes estrangeiros foram alguns dos obstáculos.

– A língua era completamente diferente da minha. Quando fui fazer o pós-doutorado em Física de Partículas Elementares, não sabia nada de espanhol, mas tinha, ao menos, o inglês – lembra o professor.

Depois de dois anos de estudo, era preciso voltar para o Japão. Mas novas perspectivas acadêmicas e profissionais o levariam para o outro lado do planeta:  

– Não voltei porque lá não havia estabilidade no emprego. Resolvi vir para o Brasil.

Hiroshi aterrissou no Brasil em 1998. Foi indicado por um amigo brasileiro para um pós-doutorado na Unicamp. Depois de trabalhar como pesquisador na universidade paulista, o japonês decidiu mergulhar mais fundo na vida acadêmica:.

– Além da pesquisa científica, tenho outra paixão: dar aula. Aqui na PUC-Rio, consegui o emprego ideal. Posso lecionar e seguir como pesquisador.

As duas atividades se refletem em benefícios para os estudantes. De acordo com Fábio Santos, aluno de doutorado de Hiroshi, os contatos internacionais do professor ajudam a expandir os us horizontes:

– Eu e um colega de doutorado fomos, por exemplo, à Conferência Internacional sobre partículas astrofísicas em julho de 2008, na Espanha. 

Outra faceta do Físico é a sua amizade cultivada com os alunos.

– Ele se reúne com os alunos. Para ele, o processo de aprendizado é muito mais do que a relação restrita aluno-professor – diz Fábio, emocionado.