“As Olimpíadas não terão impacto arquitetônico na cidade do Rio de Janeiro”, disparou o crítico de arquitetura Fernando Serapião, no 1° Seminário da Revista Piauí, nesta segunda-feira, 5 de outubro, na PUC-Rio. Ele afirmou também que as comparações com Barcelona foram “exageradas”, pois a cidade catalã estava em 1992, quando sediou os Jogos Olímpicos, num estágio de urbanização superior ao do Rio. No calor da escolha do Rio para 2016, o encontro reuniu visões plurais sobre empreendimentos públicos.
Em contraste com a euforia pela vitória brasileira em Copenhague, Serapião acredita que ainda falta organização ao projeto. Ele defendeu, na mesa redonda, a obrigatoriedade de licitação pública para novas obras e a adoção de critérios de concessão sustentados menos no preço do que na qualidade dos serviços:
– Sem a qualidade e a utilidade devidas, as construções tendem a ficar como as o complexo do Pan: fechadas ou pouco utilizadas.
Em que pesem as críticas ao governo, o arquiteto formado pela Mackenzie elogiou a iniciativa da Cidade da Música. Para ele, a polêmica iniciativa adquire o status de “grande obra pública brasileira”.
– Toda cidade, para ser cosmopolita, necessita de uma construção de um grande arquiteto como Christian de Portzamparc – justificou.
A despeito dos atrasos, das polêmicas e das denúncias de irregularidades que marcam a construção da Cidade da Música, Serapião prevê uma capacidade integradora, talvez redentora, da obra:
– O espaço vai levar a população da Zona Sul, principalmente, a aceitar a Barra da Tijuca. Acredito que deixará de haver um preconceito com a Zona Oeste. O projeto deve mudar a cabeça das próximas gerações cariocas.
Depois do projeto Olímpico e da Cidade da Música, foi a vez de o poder central dominar o debate. Demétrio Magnoli opinou sobre a administração do país, “de posição dupla, mudança constante”. Para o doutor em geografia humana pela USP, a privatização é um emblema:
– Os governantes agem como seus antigos inimigos e tentam modernizar um método arcaico.
O Pré-Sal também esteve no centro das observações. Aos números que projetam crescimento e geração de empregos decorrentes da nova fonte de extração, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga lançou uma desconfiança de praxe: com os bilhões aplicados no Pré-Sal, setores como educação podem perder investimentos.
– A população tem de fiscalizar a forma pela qual a verba pública está sendo utilizada – lembrou.
Apesar do ceticismo em relação ao que insinuam a estabilidade econômica e as perspectivas do país no cenário internacional, não se pode dizer que Demétrio Magnoli cultiva um olhar incrédulo. Ele acredita que o Brasil “dará certo a longo prazo”. Admite que o país está à frente de muitos desenvolvidos:
– Possuímos uma integração territorial única, não sofremos com guerra civil étnica. E nossa democracia dá certo – arrematou.
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