“Vocês estão olhando para mim desarmados. Eu noto isso no olhar de vocês”. Desarmados e ansiosos, mais de 200 estudantes, a maioria de Jornalismo, mal piscam ao acompanhar, na sexta-feira passada, um William Bonner espirituoso. A palestra para divulgar o recém-lançado Jornal Nacional – Modo de fazer logo transforma-se em algo próximo a uma coletiva de imprensa, na qual o editor-chefe e apresentador acrescenta, às aguardadas histórias de bastidor do telejornal, generosas pitadas de humor.
O audiório lotado do RDC vem abaixo com a imitação perfeita do presidente Lula. Ouve paralisado de atenção as receitas de bom jornalismo e, de quebra, de um bom sanduíche italiano, única refeição do apresentador na cobertura da morte do papa João Paulo II, em Roma. E compartilha das curiosidades da produção diária do telejornal.
O lado piadista do sóbrio apresentador é recebido com alegre surpresa pelos universitários. Entre dicas de jornalismo, imitações bem humoradas de personalidades públicas e explicações sobre o funcionamento do telejornal, Bonner dá uma palestra descontraída.
Assédio de ídolo
Às 9h, uma hora do início da palestra, o burburinho já é intenso nos arredores do Auditório RCD. Estudantes espremiam-se no corredor do Rio Data-Centro. Crachá no peito, livro na mão (todos os inscritos ganharam um exemplar de Jornal Nacional – Modo de fazer), aguardam ansiosamente pelo "ídolo".
O "aparecimento" de Bonner no canto esquerdo do auditório gera burburinho ainda maior. Enquanto o jornalista concede entrevistas a veículos de comunicação, inclusive da PUC-Rio, alguns estudantes se esforçam para ler os lábios do "mestre".
Olhares atentos
“William Bonner dispensa apresentações”. O riso ansioso da plateia confirma a introdução feita pelo professor do Departamento de Comunicação Social César Romero Jacob. Aos aplausos que abafam as primeiras palavras do jornalista, segue-se um silêncio absoluto, obrigatório, cortado só pelos flashes de câmeras e celulares.
Boa parte dos universitários toma nota dos ensinamentos do editor-chefe do telejornal mais assistido do país. As cadeiras do RDC, apesar de giratórias, estão paralisdas: os corpos, em sua maioria inclinados para frente, não se permitem desviar a atenção do palestrante. As cadeiras movem-se só quando o próprio Bonner pede que isso seja feito, ao explicar a teoria por trás do formato da nova bancada do JN, que, segundo ele, “abraça o apresentador”, pois não é convexa como de costume.
Um celular toca. Os olhares de reprovação são amenizados pela observação imediata do palestrante: “É Coldplay?”, referindo-se à música do aparelho impertinente. Mais risos e admiração. “Ele é muito brincalhão”, surpreendiam-se.
A reverência dobra quando o jornalista anuncia uma dica ou história “importante”. O silêncio é quase concreto quando ele conta como se emocionara durante a leitura, ao vivo no JN, da carta dos filhos de Roberto Marinho, no dia da morte do patriarca das Organizações Globo.
O ícone se revela engraçado
Lembra, em alguns momentos, um show de humor. As curiosas histórias, as tiradas de Bonner, os lapsos de memória. Ao se perder num comentário, ele caçoa de si próprio antes de retomar o assunto.
O jornalista cativa os alunos ao imitar o presidente Lula, o ex-presidente Fernando Collor e Cid Moreira. Ao esbugalhar os olhos e reproduzir o discurso empostado de Collor, o apresentador do Jornal Nacional arranca aplausos. As risadas acusam, além de contentamento, uma certa perplexidade com a diferença entre a irreverência e o imaginário que cerca William Bonner.
“Coletiva de imprensa”
Programado para durar três horas, o seminário estendeu-se por mais 40 minutos. A “coletiva de imprensa” realizada pela plateia, com perguntas diversas, parecia não ter fim. O RDC ultrapassou sua lotação comum: os devidamente acomodados nos assentos dividiam o espaço com pessoas de pé e sentadas nas escadas; cerca de 30 estudantes assistiam à palestra por um telão na entrada do Auditório.
Mesmo os que não cursam Comunicação querem conhecer pessoalmente a voz do “boa noite” na Rede Globo. Laura Teixeira, aluna de Engenharia Civil, chega por volta do meio-dia. Asssiste pelo telão, do lado de fora, até conseguir entrar depois das 13h.
– Ele [Bonner] é bem diferente do que eu imaginava, me diverti muito com as histórias.
Aos futuros profissionais, Bonner faz recomendações como estudar história e português, se possível todo dia. Ao lembrar a importância de uma conduta lícita, observou que ética “se aprende em casa, não na universidade”. À saída, o comentário recorrente: “ele arrasou”.
Dicas no bloquinho
Diante da estagiária que tremia ao tentar cumprir a missão de entrevistá-lo, William Bonner tomou posse, por alguns instantes, do bloquinho de anotações para escrever as seguintes dicas aos que desejam seguir a profissão:
1 - Ser curioso.
2 - Ser aplicado.
3 - Ser ético.
4 - Ser humanista por convicção.
5 - Ser justo.
– É preciso ter sorte também, disso não tenho dúvidas. Mas as qualidades que listei são as que dependem somente do profissional, por isso as mais importantes – ressalta o jornalista.
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