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Rio de Janeiro, 15 de outubro de 2024


Cultura

Inovação e polêmica cercam a Luluzinha adolescente

Tatiana Carvalho - Do Portal

03/07/2009

 Divulgação

Ela inspirou a expressão “clube da Luluzinha”, sinônimo de lugar proibido para meninos. Embalou também a Festa do Bolinha, de Roberto e Erasmo. Nascida em 1935, no jornal americano The Saturday Evening Post, Luluzinha virou história em quadrinhos para adolescentes. Na nova versão, lançada no Brasil em junho, Luluzinha tem 15 anos. Seu amigo Bolinha emagreceu e deixou o violino de lado para montar uma banda de rock. Os exemplares de Luluzinha Teen e Sua Turma (R$ 6,40), publicados mensalmente pelo selo Pixel Media, despertam curiosidade e polêmica. Para a publicitária e escritora Luciana Pessanha, professora do departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, a estratégia de marketing funciona:

– A marca cativa o leitor em alfabetização e lança um novo produto quando este público cresce. Conquista consumidores novos. Os pais que se sentem atraídos a comprar as revistinhas para seus filhos, pois são histórias que marcaram a infância. É importante renovar a marca. Quando eu era criança, a personagem já era considerada antiga.

Iniciativa semelhante fez Maurício de Sousa, que lançou a revista mensal Turma da Mônica Jovem em agosto do ano passado, na Bienal de São Paulo. Nas novas histórias, Cebolinha quase não troca mais o “r” pelo “l”, Cascão toma banho e Mônica está mais magra. Este emagrecimento preocupa Joana Medina, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do LIPIS da PUC-Rio, que oferece atendimento psicológico para pessoas com distúrbios relacionados à imagem corporal.

– A mudança causa mais espanto nos pais, acostumados com as versões antigas dos personagens. Os leitores atuais já nasceram dentro do padrão de beleza vigente. Ainda assim, isso causa danos aos adolescentes, pois estão em formação e são mais suscetíveis a mudanças. Eles se espelham nos moldes exibidos pela mídia e tentam se enquadrar, querem ser magros de qualquer maneira. Hoje, o Bolinha antigo (gordo) seria motivo de chacota no colégio – acredita a professora.

Polêmica à parte, a nova revistinha de Mauricio de Sousa fez mais sucesso do que a original. Na semana de lançamento, a primeira edição de Turma da Mônica Jovem vendeu 57% da tiragem inicial. Por isso, a editora Panini Comics aumentou de 80 mil para 230 mil exemplares, volume superior aos 200 mil da primeira edição da revista antiga. Juntas, as quatro primeiras edições da nova versão venderam mais de 1,5 milhão de exemplares.

As histórias originais da Turma da Mônica e da Luluzinha marcaram a vida de inúmeras crianças, como a jornalista Lívia Brandão. Ex-aluna da PUC-Rio, ela conta que aprendeu a ler com as aventuras criadas por Maurício de Sousa. Quando estava na pré-escola, seu pai tinha o hábito de comprar, junto aos exemplares dominicais de O Globo e Jornal do Brasil, revistas em quadrinhos para que a filha treinasse a leitura.

– Eu devorava aquelas revistinhas em instantes. Minha mãe brincava que não ia sobrar nada para ler no restante da semana. Como as revistas da Luluzinha marcaram a infância dela, minha mãe sempre comprava para mim quando encontrava na banca de jornal. Eu era uma das poucas crianças da minha idade que conheciam a personagem. Não tinha com quem comentar as histórias, pois eram mais difíceis de serem encontradas.

Lívia ficou “meio chocada” quando soube da nova versão de Turma da Mônica, mas considera a iniciativa válida para estimular pré-adolescentes a criarem o hábito da leitura:

– As histórias dos personagens de Maurício tiveram um papel fundamental no desenvolvimento do meu gosto pela leitura.

Casada com o quadrinista Arnaldo Branco, a jornalista prefere histórias adultas. As revistas da Mônica viraram leitura de sala de espera, mas ainda a divertem. Lívia lembra de dois exemplares que a marcaram, nos quais Maurício adaptou o romance Romeu e Julieta e Jurassic Park:

– Queria saber onde foi parar minha coleção, desconfio que minha mãe doou para alguém.

No mundo da moda, utilizar personagens de desenhos animados para ilustrar roupas é um artifício relativamente comum. Em 2003, a Disney pediu ao estilista brasileiro Alexandre Herchcovitch que criasse uma coleção em homenagem aos 50 anos de Mickey Mouse. Ele gostou tanto da ideia que criou também, para seu desfile feminino nas semanas de moda, peças estampadas pela Branca de Neve e pelo Bambi. Na linha masculina, os homenageados foram o Pinóquio e o Mickey. Os modelos usaram chapéus com as famosas orelhas do ratinho. Neste ano, a C&A também lançou camisetas estampadas por personagens da Disney, como Ariel e Bela.

O toque fashion de Luluzinha ficou por conta da consultoria de moda de Gloria Kalil, que colaborou na criação dos figurinos dos personagens. As novas histórias terão a participação de pessoas reais, como a cantora Pitty, que aparece no primeiro exemplar. Outra novidade: em vez de escrever no clássico diário, Lulu atualizará um blog com os outros personagens da revista e terá páginas nas redes sociais Orkut e Twitter.

Criada pela cartunista americana Marjorie Henderson Buell, Luluzinha ganhou seu próprio gibi em 1945 e chegou ao Brasil aproximadamente 10 anos depois, pela editora O Cruzeiro. Os exemplares da personagem, garota-propaganda de marcas como Pepsi e Kleenex, pararam de ser veiculados 40 anos mais tarde.