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Rio de Janeiro, 13 de outubro de 2024


Cultura

A história sob um ponto de vista inusitado

Carolina Heringer - Do Portal

03/02/2009

 Carolina Heringer

Pelo buraco da fechadura, assim o uruguaio Eduardo Galeano define sua maneira de ver o mundo. Através do ponto de vista de personagens que normalmente não são ouvidos, o escritor conta histórias ocultas, oficialmente negadas ou desprezadas. No novo livro Espelho: uma história quase universal, lançado no fim do ano passado na PUC-Rio, Galeano faz uma releitura da história da humanidade em 600 pequenas histórias, desde Adão e Eva até personagens atuais.

“Reconto a realidade do ponto de vista dos que estiveram lá, mas não foram lembrados porque a história oficial os suprimiu.”, conta Galeano. Em Espelho, o escritor faz um questionamento dos mitos e heróis, e também das versões oficiais e pomposas de episódios históricos. “Riviera é o nome da maior avenida do Uruguai, e a estátua de Roca é a mais alta da Argentina. Ambos foram cruéis assassinos de índios. Isso não está certo.”, afirmou Galeano.

No lançamento, o escritor leu também alguns dos relatos que estão no livro, entre eles “O herói”, que sintetiza a intenção do livro de mostrar “o lado B” de episódios já conhecidos. O texto diz: “Como teria sido a guerra de Tróia contada desde o ponto de vista de um soldado anônimo; um grego a pé, ignorado pelos deuses e desejado só pelos abutres que sobrevoam as batalhas. Um camponês metido a guerreiro, cantado por ninguém, esculpido por ninguém. Um homem qualquer obrigado a matar e sem o menor interesse de morrer pelos olhos de Helena.”

Depois de explorar a fundo a América Latina em suas obras, Galeano voltou-se para o mundo de uma maneira geral, sem restrições de tema. “Resolvi contar a história de todos, sem pensar nas fronteiras. A África está em meus textos porque dela não sabemos nada. Esse é um dos crimes que o sistema de educação e a imprensa cometem. Um crime racista.”, ressalta o escritor uruguaio.

Na variada bibliografia de Galeano estão obras como “Futebol ao sol e à sombra”, “Veias Abertas da América Latina” e “Mulheres”.