Pensar o papel do jornalismo para a construção de um Brasil melhor. Com base neste desafio, foi realizado na PUC-Rio, em 29 de outubro, o debate “O papel da Imprensa: o fortalecimento das instituições políticas”. Parte de um ciclo de encontros alusivos aos 40 anos da revista Veja, a palestra reuniu o jornalista e escritor Zuenir Ventura, o diretor de redação da revista BRAVO!, João Gabriel de Lima, e o jornalista e professor da PUC-Rio Alexandre Carauta. As discussões foram mediadas pelo editor da revista, Ronaldo França.
João Gabriel defendeu uma posição mais transparente dos veículos de comunicação brasileiros, que, diferentemente dos americanos, não declaram explicitamente apoio a candidatos e partidos políticos. “Você ter uma ideologia, ter um ponto de vista, não é anti-ético. Ao defender uma idéia com consistência e transprância, o leitor crítico pode fazer um balanço, e concordar ou discordar com você”, argumentou o jornalista. Depois de lembrar que um jornal ou revista jamais deve distorcer os fatos, até para manter a credibilidade sem a qual o público se afasta, João Gabriel destacou a capacidade de discernimento do leitor:
- O leitor sabe diferenciar informação de opinião. Ele pode discordar do veículo, mas ele deixa de acreditar no veículo a matéria ou a opinião é baseada em algum dado falso.
Como exemplo de transparência, os palestrantes observaram o posicionamento do Globo ao informar os leitores que omite os nomes de organizações criminosas para evitar a glamourização do crime. Zuenir acrescentou outro ingrediente primordial ao alinhamento da imprensa com o interesse público e o avanço social: a apuração cuidadosa, detalhada.
- O repórter tem de olhar além da superfície, mostrar o que está à sombra. Para exercer este papel essencial, é preciso ter liberdade, embora a liberdade plena seja impossível - ressalvou.
João Gabriel reforçou: “Com uma imprensa livre, que investigue, que seja múltipla, trazemos à tona as informações relevantes que vão fazer com que a gente caminhe na direção de mais democracia”. Ele admitiu que, por fatores diversos, como a cultura da espetacularizção, são observados excessos em coberturas supostamente jornalísticas. “Mas é muito melhor haver excessos do que você não ter imprensa”, completou.
Para o professor da PUC-Rio Alexandre Carauta, o jornalismo não precisa de mecanismos externos para coibir excessos. “Se o profissional tiver como perspectiva o interesse público, é desnecessário o uso de mecanismos externos, seja uma lei de imprensa ou uma lei eleitoral”, ressalvou. “Assim como você tem o compromisso de contar o que é relevante, você tem que contextualizar, o que às vezes a gente observa que não é feito.”
Zuenir arrematou:
- Já há um mecanismo externo: o público. Se o jornalista for leviano perderá a credibilidade e será castigado com a rejeição ou a indeferença.
Após o debate, Zuenir Ventura lembrou que, não apenas para um jornalista recém-formado como para qualquer profissional, é preciso ter humildade. “Você tem de aprender todo dia, tentar se superar e não achar que está pronto. Se você tiver soberba e arrogância, você quebra a cara”, ponderou o jornalista. “Eu tenho 50 anos de profissão e até hoje preciso usar isso, essa capacidade de aprender.” Outra armadilha, ensinou ele, é a acomodção:
- O jornalismo é feito de muita ralação. Claro que tem inspiração, mas tem muito mais transpiração. E é um trabalho permanente de busca da melhor informação, de conferir, de melhorar o texto, de ser mais preciso. É uma profissão de inquietação.
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