Paula Laureano - Do Portal
27/11/2014No Atlas das condições de vida da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, estudo inédito cruzando dados do Instituto de Segurança Pública, do IBGE, do Sistema Único de Saúde e do Tribunal Superior Eleitoral, o cientista político César Romero Jacob, em parceria com Dora Rodrigues Hees, da PUC-Rio e Phillipe Waniez, da Universidade de Bourdaux, na França, expõe a localidade e a predominância de cada crime. Para Jacob, o que mais chama atenção é que o tráfico de drogas está presente em todas as regiões do Rio de Janeiro.
As apreensões de drogas realizadas pela polícia dizem respeito a toda a Região Metropolitana do Rio, apesar de se darem em diferentes intensidades. A capital é responsável por 59% das 6.714 ocorrências registradas pelo ISP. O que chama a atenção no mapa é a concentração de apreensões de drogas na parte leste do município do Rio: a presença de um grande número de favelas junto à Baía de Guanabara é um fator que facilita o tráfico, como pode ser visto pelas apreensões que ocorreram numa extensa área que se estende das delegacias policiais de São Cristóvão (17ª DP) à Penha (22ª DP).
No Centro, algumas áreas se destacam como locais de venda e consumo, como as da 4ª DP (Praça da República), 5ª DP (Mem de Sá) e 6ª DP (Cidade Nova); por fim, a orla litorânea, de Botafogo ao Leblon, se destaca como uma área de consumo de drogas de clientes dos bairros mais abastados do Rio.
– O tráfico de drogas é geral. É o único tipo de crime que é universal, está em toda a Região Metropolitana.
O roubo a transeuntes, que atinge as pessoas que se deslocam a pé pelas ruas, é um dos crimes que apresentam maior volume de ocorrência: 46.464 em 2012. O Centro da cidade tem o maior número de registros desse caso: são 3.029 para 100 mil habitantes. O mapa com a distribuição de roubos a transeuntes revela um nítido contraste entre os bairros da Zona Sul do Rio, que apresentam valores relativamente reduzidos, inferiores a 500 por 100 mil, e os da Zona Norte, onde a importância deste tipo de roubo é muito maior, sempre acima de 600, chegando a atingir 1.178 em Madureira (29ª DP).
– No Centro é uma coisa clara. Há muita gente circulando, muita gente trabalhando. É um local sempre muito visado para roubo. Ele também está muito degradado, tem uma vagabundagem que circula por lá, por exemplo, gangue de pivetes. Então, junto à Central do Brasil, sobretudo, mas no Centro todo é um problema sério, grave. O centro da cidade todo tem uma população de morador de rua, que muitas vezes é morador de rua porque não tem dinheiro para voltar para a periferia. Por razões diversas, você tem uma população de rua, que por sua vez tem filhos e esses filhos também vão ser criados na rua. Enfim, o Centro é visado porque é um grande centro de negócios, de serviços – explica Jacob.
Já os roubos e furtos de veículos foram responsáveis por 33.500 casos na Região Metropolitana do Rio, em 2012, o que equivale a uma média de 283 por 100 mil, sendo que somente a capital foi responsável por 18.035 desses casos. O Centro da cidade e os bairros da Zona Sul se mostram menos afetados por este problema. A maioria dos roubos ocorre em Vicente de Carvalho, que registrou 1.518 ocorrências em 2012. Outras delegacias da Zona Norte apresentam, também, números elevados, mas em menor grau, desde o Méier até a Pavuna. A concentração de roubos e furtos de veículos nessa área da capital aumenta em direção à Baixada Fluminense, como em Duque de Caxias e em Nova Iguaçu.
– Na Zona Norte há uma rota de fuga. Na Zona Sul, as rotas de fuga são muito menores. Você deixa de ter limites claros entre o município do Rio e os municípios da Baixada. Quer dizer, você atravessa uma rua e de um lado você está em Nilópolis ou em Duque de Caxias ou em Nova Iguaçu. São limites pouco nítidos, então muitas rotas de fuga. Quanto mais rotas de fuga, mais roubo de veículos – diz César Romero Jacob.
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