Andressa Pessanha e Maria Sílvia Vieira - aplicativo - Do Portal
27/08/2014Estudar fora nunca foi tão comum. Os embarques do gênero saltarão para 232,4 mil neste ano, 15% a mais do que no ano passado, projeta levantamento da Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais (Belta). Quase 75% deles empreendidos por jovens de 18 a 30 anos, de olho na valorização dessas experiências pelo mercado de trabalho. O interesse primário ainda se concentra no idioma, mas o modelo que une trabalho e estudo, conhecido como Au Pair, ganha espaço, pois custa, em média, R$ 1,4 mil mensais por um ano de estada (hospedagem em casa de família), enquanto o programa regular sai em torno de R$ 5 mil para apenas um mês. Ganham força também destinos menos tradicionais. Os mais procurados nos dois últimos anos são, segundo a gerente de produtos da agência de viagens S7 Study, Fernanda Lassala, Austrália e Nova Zelândia.
Apesar desses destinos emergentes, aos quais se juntam África do Sul, China, Coreia do Sul e Japão, opções como Canadá e Estados Unidos seguem em alta. Tais países são, respectivamente, os mais procurados para o aprendizado de inglês, ainda de acordo com a Belta. A liderança canadense mostra-se ameaçada pela nova lei do setor. Desde junho, os alunos de intercâmbio para cursos de francês e inglês não podem mais trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Segundo Fernanda, a restrição já se reflete numa queda de procura para o Canadá.
– Em geral, universitários buscam destinos nos quais possam conciliar o estudo com alguma atividade remunerada. Afinal, os custos de viver fora do Brasil são bem caros – explica Fernanda. (Veja o infográfico dos destinos mais procurados para idiomas)
O tipo de curso mais procurado entre os estudantes de nível superior ainda é o de idiomas, seguido do Work Experience, no qual o jovem trabalha no exterior, nas férias de fim de ano. Com procura crescente, o Au Pair casa o ensino da lígua estrangeira com um trabalho temporário como cuidar dos filhos da família que receberá o estudante, que, fora a vantagem econômica, agrega "experiência de vida", ressaltam os especialistas em intercâmbio.
Essas viagens buscam a conjugação entre desenvolvimento da fluência em língua estrangeira; mudança de rotina, impulsionada pelo contato com uma outra cultura; e certa experiência profissional. Esses ingredientes combinados formam, segundo analistas de carreira, um trunfo para o ingresso no mercado de trabalho. O estudante de Comunicação da PUC-Rio Evandro Lima diz que o intercâmbio deve ser “encarado como uma necessidade”, pois o contato com os diferentes costumes torna o futuro profissional "apto a vivenciar relações em qualquer local do mundo de modo confortável".
Experiência ajuda o futuro profissional na tomada de decisões
Embora a fluência em língua estrangeira e a tal "experiência de vida" útil à formação profissional sejam os motores do intercâmbio, observa-se também vantagens psicológicas do investimento numa temporada fora do país. Assim afirma Júnia Vilhena, professora de psicologia da PUC-Rio. Ela argumenta que a vivência de uma nova cultura, novos códigos de comportamento, faz o jovem ficar mais “preparado para tomar decisões maduras no futuro profissional e pessoal”.
Graduada em Letras também pela PUC-Rio, Larissa Rumiantzeff confirma a tese. Um intercâmbio High School e outro por convênio da universidade, nos Estados Unidos e no Canadá, foram registrados no blog Intercambista Profissional. Na página ela conta que as experiências, sobretudo os obstáculos superados, a tornaram mais "segura, extrovertida e independente".
– Os obstáculos que enfrentei lá me fizeram ter que brigar mais. Antes eu era muito tímida, com medo de confrontos, e não sabia me defender ou brigar pelo que queria. Viver em outro país acrescenta habilidades extras, como trabalho em grupo, diplomacia, conhecimento de cooperação internacional, cultura geral, entre outras. Também permite ampliar a rede de relacionamentos – justifica a tradutora.
Daniel Mograbi, também professor de psicologia da PUC-Rio, conta que o doutorado na Inglaterra foi decisivo para proprocionar um "senso de perspectiva único” sobre o Brasil e o contexto em que nos formamos. A avaliação positiva vai ao encontro dos esforços do Departamento para abrir essas janelas aos estudantes. Em 1º de setembro será aberta a inscrição, para os alunos de graduação, do processo seletivo do intercâmbio em parceria com o Goldsmiths College, em Londres.
Estudante deve focar na formação acadêmica, recomenda especialista
Para extrair dessas experiências as vantagens desejadas, como uma formação valorizada pelo mercado de trabalho, é necessário, no entanto, ajustá-las ao plano de vida profissional e não confundí-las com "uma simples oportunidade de morar no exterior", alerta o titular da Coordenação Central de Cooperação Internacional (CCCI) da PUC-Rio, Ricardo Alencar. A principal função da viagem, esclarece o coordenador, é a qualificação acadêmica:
– Fazer turismo e conhecer outras culturas é uma pequena parte de toda a experiência vivida. O processo deve focar na qualidade acadêmica que o nosso parceiro tem e que vai dar subsídios para o futuro profissional do aluno – reforça Alencar.
Para tornar a viagem proveitosa, é importante também cuidar dos detalhes burocráticos e de cuidados para a melhor adaptação a cultura e rotinas diferentes (veja o quadro com recomendações básicas, no fim do texto). A organização dos documentos necessários ao intercâmbio. Os básicos são cópia do RG, CPF e passaporte, além do histórico escolar traduzido e juramentado e do diploma de conclusão do 2º grau. No programa Work Experience (experiência de estágio ou trabalho), a declaração de matrícula da universidade no Brasil é obrigatória.
De acordo com o gerente da IE Intercâmbio, Marcelo Albuquerque, o atraso na entrega dos documentos exigidos pelo programa, na retirada do passaporte ou do visto são os principais entreves à decolagem do estudante. As agências recomendam, portanto, a retirada de passaporte com antecedência e a verificação de necessidade do visto no país desejado.
PUC-Rio encaminha 600 alunos para o exterior por ano
A recíproca é observada. Ao passo que envia, a cada ano, aproximadamente 600 alunos para mais de 150 instituições de ensino no exterior, a PUC-Rio recebe, em média, 1.400 estudantes estrangeiros. A procura por intercâmbio via CCCI mostra-se plural. Reúne jovens de diversos cursos e faixas de renda, inclusive os que buscam bolsas associadas ao desempenho acadêmico.
Para a escolha do curso e país específico, deve-se ficar atento aos três principais programas que a universidade oferece: o acadêmico normal, no qual o jovem passa de seis meses a um ano em uma universidade estrangeira; o dupla-diplomação, que, com o sugere o nome, permite o diploma da PUC-Rio e da universidade parceira; e o de curta duração, voltado ao aprendizado intensivo de língua estrangeira durante as férias no Brasil. A coordenação oferece, no início de cada semestre, palestras sobre todas as fases do intercâmbio.
Embora Nova Zelândia e Austrália tenham amealhado uma procura crescente nas últimas temporadas, a maior parte dos alunos da PUC interessados em intercâmbio mostra-se fiel a destinos tradicionais. Entre os preferidos, seguem Estados Unidos, França, Espanha, Portugal e Alemanha. Quanto ao modelo, o preferido é o o programa de dupla-diplomação. Alencar explica:
– Em geral, os programas de dupla-diplomação são mais procurados na Europa, principalmente pelos alunos de arquitetura e engenharia. Pois, com esse tipo de diploma, pode-se trabalhar tanto no Brasil, quanto na Europa, o que é muito interessante.
Países ásiaticos, sobretudo a China, pelo importante papel na economia mundial, tornam-se mais procurados. A dificuldade no aprendizado da língua representa, contudo, um obstáculo aos universitários. As aulas são predominantemente em mandarim, sem a opção de um idioma mais falado, como o inglês. (Veja o infográfico)
A procura crescente pelo aprendizado fora do país desencadeia um processo seletivo concorrido. No caso da PUC-Rio, exige, entre outros pontos, Coeficiente de Rendimento (CR) acima de 7,0 e histórico com, no máximo, três reprovações. O candidato deve ter em ordem também duas cartas de recomendação, escritas por professores da universidade e aqueles documentos básicos. Após a fase de seleção, é marcada uma entrevista com uma banca para avaliar se o aluno tem condição de participar do intercâmbio. Por fim, o jovem aprovado recebe orientações sobre o país no qual passará de um a 12 meses.
Para tirar 10 no intercâmbio • Verifique se, para o destino do intercâmbio, é obrigatório ou recomendado tomar algum tipo de vacina. • Faça um seguro de viagem com validade internacional. Feito por prazos determinados, este tipo de seguro é uma garantia em caso de emergência de saúde no exterior. • Verifique se o país escolhido exige visto específico e, se for o caso, as exigências para tirá-lo e o tempo de validade. • Experimente, antes de viajar, a culinária local, conheça os sabores e os hábitos culinários do país no qual se ficará, no mínimo, um mês. • Informe-se também sobre os principais traços culturais do país e, em particular, da região da hospedagem. Não só para facilitar a adaptação, mas para extrair melhores experiências da passagem no exterior. • Não tenha medo nem perca oportunidades de praticar o idioma do destino escolhido. • Se ficar em casa de família, ajuste-se à rotina, aos hábitos, e estabeleça um convívio cordato. Em outras palavras, não tenha vergonha e se tranque no quarto. Os anfitriões estão acostumados a receber estrangeiros e podem dar dicas preciosas. • Planeje os gastos. Lembre-se de contar as despesas com alimentação, transporte e lazer. • Resista à tentação de ficar só passeando e mantenha o foco nos estudos. • Saiba onde fica o consulado brasileiro no destino. • Tenha uma quantia mínima de dinheiro nas mãos para os gastos básicos, com locomoção e refeição. Jamais carregue todo o dinheiro. • Faça um cartão de débito internacional em um banco de confiança, pois é mais prático, tanto para a família mandar dinheiro do Brasil, quanto para fazer compras durante a viagem. • Não caia na tentação de andar só com brasileiros, para que a experiência seja bem aproveitada. Assim, procure se inserir na cultura e nos costumes locais. • Fuja dos fast-foods e siga uma dieta balanceada. Deixe para experimentar guloseimas gordurosas nos fins de semana. • Evite exageros e excesso de peso na mala. As companhias aéreas cobram altas taxas por peso extra.
Links úteis: Coordenação Central de Cooperação Internacional da PUC-Rio (CCCI) Códigos para efetuar ligações do exterior Data e hora de diversos destinos Consulados do Brasil no exterior Tradutor de textos e mensagens Internacional Where+How: escolas com cursos de idiomas no exterior Programa de Estágios Remunerados no Exterior Informações sobre cursos e universidades em todos os continentes |
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