Com quase 100 anos de história, assim como a seleção brasileira, o condomínio Santa Genoveva, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio, repetiu nesta Copa uma tradição mantida pelos moradores mais antigos há 32 anos: enfeitar as ruas e reunir os vizinhos para assistir aos jogos do Brasil. Na última terça-feira, cerca de 60 moradores e convidados montaram a festa na rua, que terminaria com tristeza e frustração, como em 1982, 1986, 1990, 1998, 2006 e 2010.
Quando adolescente, o funcionário público Marco Aurélio Polillo, de 52 anos, que nasceu e cresceu na vila, era um dos organizadores das festas no condomínio. O fim do sonho do hexacampeonato em 2014 fez Polillo se lembrar do sentimento de decepção da Copa de 82, para ele a mais marcante:
– Era o melhor time do mundo. Tínhamos Zico, Sócrates, Toninho, e perdemos para a Itália na segunda fase. A frustação foi grande porque acreditávamos muito naqueles jogadores. Tínhamos certeza de que seríamos campeões, o Brasil era o favorito.
Aos 22 anos, sua sobrinha, a estudante de medicina Rafaela Polillo (foto), tem lembranças da Copa de 1998, quando o Brasil perdeu de 3 a 0 para a França:
– Eu tinha só 6 anos, mas guardo até hoje as imagens de Zidane fazendo o gol e do Ronaldo machucado. Também me lembro da Copa do pentacampeonato e da música: “Ai, ai, ai, ai, ai, ai/Brasil penta puxa e vai!”. Foi uma festa muito bonita aqui no condomínio, nunca vou me esquecer.
Uma das organizadoras, a professora de biologia Giuseppina Polillo, 53 anos, mãe de Rafaela, ressaltava antes do jogo a beleza do clima da Copa e os laços criados pela vizinhança nas festas:
– A confraternização na Copa é uma união de povos. Rivalidades são superadas, vizinhos que antes não se falavam passam a ser amigos, é um clima bonito, mesmo quando o Brasil não consegue ganhar o campeonato.
No intervalo, os torcedores não desanimaram. Ao som da música Tá escrito, do grupo de pagode Revelação, cantaram e dançaram. O dentista Antônio Neves, de 51 anos, tentava levantar o astral: “Não vamos deixar a peteca cair, vamos Brasil!”.
No entanto, depois do sexto gol da Alemanha, muitos torcedores dispersaram a atenção no jogo, revoltados com o placar e com o desempenho da seleção. O marido de Giuseppina, o comerciante Orlando Martins, de 53 anos, reclamava do esquema tático adotado pelo técnico Luiz Felipe Scolari.
– O Brasil sempre perde pela teimosia dos técnicos. Podemos ter bons jogadores, mas não temos jogadores experientes, são meninos que nunca tinham ido para a Copa, com exceção do Júlio César. Também não acredito em técnicos que só trabalham na época da Copa. Felipão não atua mais como técnico, como Dunga na Copa de 2010. Os técnicos também devem está trabalhando efetivamente, assim como os jogadores.
À medida que a seleção alemã impunha a derrota ao Brasil, os ânimos se acirraram entre os torcedores. A estudante de engenharia civil Andressa Azevedo, de 21 anos, se mostrava indignada com os que criticavam a seleção:
– Brasileiro é antipatriota, torce contra o próprio país para provar que o time é ruim.
Polillo retrucou:
– Tenho muito orgulho de ser brasileiro, de ter nascido nesta nação. Mas nem por isso deixo de ser crítico; não é por reclamar da seleção ou do técnico que passo a ser menos patriota.
Depois do jogo, Orlando Martins se comoveu com a tristeza de jovens e crianças com a perda do hexa.
– Eu já esperava que perdêssemos, mas não de 7 a 1, foi vergonhoso. O nosso time não era bom o suficiente para ganhar, e não só da Alemanha, mas para ganhar a Copa. Fico mais triste pelas crianças que estavam no estádio chorando e aquelas que nunca viram o Brasil ser campeão. Minha filha já tem 22 anos e mesmo assim ficou chateada, tive que consolá-la.
A estudante de contabilidade Camila Savelli, 21 anos, estava bastante emocionada:
– Fico muito abalada quando o Brasil perde em Copas. Eu me lembro bem da nossa derrota em 2006, nas oitavas-de-final contra a França. Chorei muito.
Comovida, a professora Lucia de Fatima e Souza, 50 anos, lamentava:
– Vejo o Brasil se despedindo do hexa debaixo de chuva. São as lágrimas dos brasileiros.
Outros, porém, não se deixaram abater, como a estudante de administração Beatriz Mattos, de 21 anos, moradora do Bairro da Tijuca, que foi assistir à partida com as amigas:
– Infelizmente desta vez o hexa ainda não vai ser nosso. O que nos resta agora é comer e beber, daqui a pouco a gente esquece isso.