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Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2024


Cidade

Luta para manter a Gávea com jeito de interior

Shenara Pantaleão - Da sala de aula

02/03/2009

 Shenara Pantaleão

Moradores da Gávea se mobilizam contra velhas aflições, como especulação imobiliária, flanelinhas, população de rua. “Estão querendo ‘copacabanizar’ a Gávea”, diz o morador Álvaro Albuquerque, de 49 anos, um dos organizadores da campanha realizada, em 2008, contra a demolição de casarios antigos na Rua Marquês de São Vicente. Eles abrigavam estabelecimentos comerciais, como a única agência dos Correios da Gávea, uma papelaria e um salão de cabelereiro.

Moradora da Gávea há 16 anos, a arquiteta Marta Jubér, de 49 anos, afirma que além de diminuir as opções de comércio, a expansão desordenada causa grande impacto no trânsito. “Se em uma casa você pode ter dois carros, em um prédio você pode ter cem. Como na Gávea há  poucas opções de acesso, forma-se um gargalo”, alerta.

Para Albuquerque, grandes prédios descaracterizariam uma das principais marcas do bairro: a sensação de se morar em uma cidade do interior. Ele sonha com a redução do gabarito: “Espero que possa ter um prédio de cinco andares em vez de onze (número máximo de andares permitidos atualmente)”.

Motivo de orgulho, a Praça Santos Dumont também preocupa os moradores. Famosa por ser um reduto “artístico-intelectual”, devido ao Baixo Gávea e à Feira de Antiguidades, o local, à noite, é tomado por mendigos e flanelinhas. “Além disso, o banheiro químico não tem manutenção adequada”, critica o vendedor de antiguidades Marcos Afonso, de 45 anos. 

A psicóloga Paula Werneck, de 27 anos, mora no bairro há nove. Ela se diz vítima frequente de flanelinhas. “Eles entram na frente do carro exigindo dinheiro”, denuncia.

Há cinco anos trabalhando na floricultura da Praça, Roberto Silva, de 30 anos, afirma que os postes de luz queimados facilitam a ação de criminosos. “As madames ficam pedindo para a gente passar com elas ali”, conta.

Morador de Inhaúma, Zona Norte, e flanelinha desde os 13 anos, Elton Medeiros, de 30 anos, nega que haja intimidação, muito menos tentativa de assalto ou tráfico de drogas na Praça. Ele alega que os guardadores de carro até ajudam na segurança do local: “Vem maluco aqui e rouba e a culpa é sempre do flanelinha. Se aparecer aqui querendo roubar, a gente quebra mesmo, para não sujar o nosso nome.”