Lara Aleixo - aplicativo - Do Portal
14/03/2014O número de bibliotecas no Brasil ainda está longe do desejado: 4.763, o que representa menos de uma (0,8) por município. Mas quase a metade delas (45%) já tem computadores com acesso à internet, revela pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A mudança impõe novos hábitos não só ao leitor, mas ao profissional que gerencia os acervos. O bibliotecário tem de dominar essas novas tecnologias, para que se consuma a promessa de melhor acesso trazida com a era digital. (O acesso a livros ainda é um dos desafios para o avanço do nível de leitura no país, alerta o presidente da Associação Nacional de Livrarias, Ednilson Xavier, em entrevista ao Portal.)
Na avaliação do bibliotecônomo Leonardo Fernandes Souto, autor do livro “Gestão da Informação e do Conhecimento - Práticas e Reflexões” (Editora Interciência, 2013), o bibliotecário torna-se cada vez mais um facilitador à letura ora disponível também em computadores e plataformas móveis. “A função do bibliotecário é muito além da organização de documentos físicos e disponibilização de referências. Essa é uma visão reducionista e limitada”.
Para corresponder ao potencial de leitura amplificado com a digitalização, o bibliotecário deve, ainda de acordo com Fernandes Souto, afinar-se à interatividade possibilitada pela integração de linguagens em vídeo, áudio e texto. O domínio desses recursos impõe-se como uma competência básica do ofício, para facilitar o acesso e a leitura dos acervos ora digitais das bibliotecas.
A bibliotecária Graziela Burnett, da PUC-Rio, garante que não está apreensiva diante da ncessidade de se adaptar às novas plataformas. Levada a lidar diariamente com um acervo de 740 mil títulos digitalizados, ela descarta um esvaziamento da profissão:
– Não tenho medo quanto ao futuro do bibliotecário. A nossa função nunca vai acabar. Agora temos de orientar também o leitor a usar melhor as novas ferramentas. E, mesmo para buscar um livro na estante, algumas pessoas precisam de orientação. Assim, não há um temor quanto à extinção do ofício.
A sobrevivência da profissão também passa, acrescenta Fernandes Souto, pelo respeito ao direito autoral nas obras disponíveis na internet. Além disso, as blibliotecas e os bibliotecários contituem-se ainda essencais para a preservação das informações e do conhecimento, que se tornam mais dispersos com a pulverização na web. "Pois nas bibliotecas já existe essa cultura (da preservação), enquanto na internet, não.", pondera o especialista
As novas tecnologias favorecem também a comunicação entre o bibliotecário e o usuário. Mídias sociais, por exemplo, servem para divulgar novidades do acervo digital, conta Graziela.
Para atrair o leitor, inclusive às novas possibilidades digitais, as bibliotecas tendem a intensionar um repertório de atividades como palestras, exibição de filmes e, claro, oficinas de leitura. Tornam-se, assim, espaços de valorização do convivio social, como forma de cativar estudantes, professores, acadêmicos. Sob a orientação também do bibliotecário, tais atividades permitem, conforme Fernandes Souto, a construção de redes unidades por interesses afins, sem que se perca o contato presencial com a biblioteca.
Graziela percebe que a entrada da biblioteca no mundo digital tem atraído mais frequentadores. Segundo ela, os usuários vêm se apegando cada vez mais a esse novo meio de acesso a livros. Para a estudante de Jornalismo, Jade Matiolle, a novidade "traz praticidade e economia", inclusive de espaço. A também universitária Ana Carolina Borsoi, aluna de Medicina da Unigranrio, diz que se "desapegou por completo" dos impressos e conta com o acervo digitalizado para estudar.
Já Beatriz Martins, estudante de Cinema da PUC-Rio, mantém-se fiel às versões impressas. Ela reconhece a importância das ferramentas digitais, que permitem, por exemplo, a "carregar diversos livros em um único dispositivo", mas ainda prefere o contato com o papel:
– Achei que fosse gostar de manter meus livros todos reunidos em um único lugar e carregando menos peso, mas ainda não consegui me adaptar. Preciso sentir o papel, me ajuda mais na concentração – justifica.
Souto Fernandes admite que, embora promissor, o mercado de títulos eletrônicos ainda não se consolidou no Brasil. Já existem nos países mais desenvolvidos bibliotecas com acervos totalmente digitais, compara o bibliotecônomo. Instituições como a biblioteca da PUC-Rio têm investido em Repositórios Digitais. Desde 2000 a universidade adota este modelo, que reúne periódicos com artigos científicos, e-books e todas as teses e dissertações defendidas, diponíveis mesmo para quem é de fora da PUC-Rio. "E ainda há projetos conjuntos, como Maxwell, do Departamento de Engenharia Elétrica, que é o repositório oficial, com teses, monografias e algumas aulas para integrar na nossa pesquisa", observa Graziela.
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