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Rio de Janeiro, 7 de dezembro de 2024


Economia

Jovens europeus fogem da crise e procuram empregos no Brasil

Danilo Azevedo - aplicativo - Do Portal

16/01/2014

 Arte Danilo Azevedo

Com a Europa mergulhada numa crise econômica apontada por especialistas como a pior desde a crise de 1929, a taxa de desemprego no continente bateu recorde em julho passado, com 12,1%. Se o mercado se mantém difícil para trabalhadores experientes europeus, que muitas vezes precisam aceitar empregos alternativos a sua área de atuação, a situação para os jovens de até 25 anos é ainda pior. O velho continente enfrenta uma taxa de desemprego jovem de 24%. Em países como a Grécia, a taxa chega a 62,9%, e na Espanha, 56,1% dos jovens estão sem emprego. Portugal (42,5%), Itália (40,5%) e França (26,5%) também estão entre os países mais afetados.

Além das dificuldades de contratação, agravada pela falta de experiência, os jovens não costumam ter empregos estáveis. Em 2012, 42% dos empregos jovens eram temporários e 32% em expediente reduzido ou meio expediente.

Com as dificuldades econômicas na Europa, o Brasil aparece como mercado atraente para os jovens europeus. Em dezembro, o IBGE divulgou que a taxa de desemprego no Brasil atingiu 4,6%, o menor patamar da história. De 2010 para 2012, o número de estrangeiros vivendo legalmente no Brasil aumentou 60%, atingindo 1,5 milhão de pessoas, segundo o Ministério da Justiça. A cidade mais procurada é São Paulo, pela boa oferta de cargos. A Alemanha tem o desemprego mais baixo do continente, 7,5% entre os jovens, e também atrai alguns europeus, pela proximidade e pela dispensa de visto. Fora da Europa, um destino também muito procurado é a Austrália, que tem a taxa geral de desemprego em 5,8% e o segundo melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, atrás apenas da Noruega.

O arquiteto de interiores Erin Barreiro é natural da Galícia, na Espanha, e chegou ao Brasil em meados de 2012, com 26 anos. Procurou emprego pela internet e visitando empresas para entregar seu currículo em mãos. Em dezembro, por estar ilegal no Brasil, ele voltou ao seu país, com má impressão do mercado de trabalho daqui:

– O mercado brasileiro está muito pouco regulado, tanto para os próprios brasileiros como para os estrangeiros. O patrão continua parecendo escravista. Há pouco reconhecimento, e não se valoriza o trabalho de forma positiva – critica ele, que trabalhou em dois bares.

Qualificação beneficia estrangeiros

Para o professor de economia internacional Roberto Simonard (PUC-Rio e ESPM), o quadro econômico brasileiro favorece essa migração, especialmente de jovens com qualificação:

– O mercado brasileiro é atrativo porque, apesar do baixo crescimento econômico, está absorvendo mão de obra, inclusive aquela mais qualificada. Deste modo, de um lado temos um grande contingente de mão de obra qualificada jovem, que não consegue emprego na sua região, e de outro lado temos um país com baixo desemprego e carência de mão de obra qualificada. Por último, há que se lembrar dos fortes laços que unem alguns países europeus, como Portugal, Espanha e Itália, ao Brasil. Muitos jovens europeus têm familiares morando aqui, o que facilita a migração.Arquivo pessoal

É o caso do ator Brandão de Mello (foto), de 19 anos, que aceitou o convite do tio para vir morar no Rio de Janeiro com ele. Pretende ficar, inicialmente, nove meses no Brasil e, se conseguir alguma oportunidade, ficar mais tempo por aqui.

– O teatro está com muitas dificuldades em Portugal. O Estado quer melhorar a economia, e o primeiro corte foi logo na cultura. Eles acham que a cultura é descartável. A própria população está com tanta dificuldade, que vai menos ao teatro também. E o Estado ainda dificulta tudo  – desabafa Brandão, que também procura emprego fora de sua área. A princípio, vai trabalhar em um bar, para fazer renda e ganhar sotaque local.

Algumas medidas já foram tomadas pelo bloco para facilitar que os jovens entrem no mercado de trabalho. Em junho de 2013, a União Europeia (UE) liberou 6 bilhões de euros (R$ 17 bilhões) para combater o desemprego jovem. A verba foi destinada aos países com taxas superiores a 25%. O Parlamento Europeu (foto), órgão legislativo da UE, promoveu um debate entre jovens que se chamou Ágora dos Cidadãos sobre o Desemprego. O evento, em Bruxelas, na Bélgica, durou três dias, entre 6 e 8 de novembro de 2013. A estudante romena Eugenia Simina Faur, de 24 anos, por exemplo, sugeriu na Ágora que os países beneficiados com fundos da UE recebam também formação para saber como utilizá-los.Pietro Naj-Oleari EP (27/11/2012)

Roberto Simonard ressalta que o foco deve ser o combate direto à crise, melhorando naturalmente a oferta de empregos.

— Os 6 bilhões de euros deverão ser investidos, principalmente, em incentivos fiscais e vantagens mercadológicas naquelas empresas que priorizarem o emprego de jovens, sobretudo aqueles que estiverem em busca do primeiro emprego. Em termos quantitativos é pouco, mas se espera que este seja somente o primeiro desembolso de outros. Em termos políticos, os trabalhadores mais velhos temem que tal política provoque a troca dos seus empregos pelos empregos dos mais jovens, o que só modificaria o problema de posição. Deste modo, os sindicatos ainda não têm uma posição estabelecida sobre esta política de emprego para os jovens.

O economista ainda lembra que a UE está mantendo a atividade econômica baixa, para conseguir restabelecer os níveis anteriores. Porém, dessa forma, a geração de empregos se mantém prejudicada.

 

Para obter visto, contrato de trabalho e até casamento

Os jovens que chegam ao Brasil também encontram problemas para conseguir visto e para permanecer de maneira legal no país. O visto normal para quem já vêm ao país com contrato de trabalho é de dois anos, podendo se tornar permanente caso o contrato não tenha previsão de encerramento. Para quem não tem contrato de trabalho, o visto para cidadãos europeus costuma ser de estadia de três meses a cada período de seis meses, o mesmo do visto para turismo. Porém, muitos dos jovens que chegam acabam trabalhando informalmente e não assinam contrato.

– Consegui o visto de turista facilmente e depois fiquei o tempo todo ilegal, o que me gerou problemas no trabalho, por não ter direitos como empregado. Achei só dois trabalhos de freelancer na minha área. Sempre ilegal, claro – desabafa Erin.

Caso o estrangeiro se case com um brasileiro e o matrimônio dure pelo menos um ano, ele consegue o visto permanente. Muitos estrangeiros se arriscam comprando casamentos de fachada para obter o visto. A Polícia Federal costuma investigar esses tipos de casamento, crime de falsidade ideológica cuja pena para o brasileiro é de cinco anos, mais multa. O estrangeiro é deportado e multado pela estadia ilegal no país.