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Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 2024


Crítica de Cinema

'Rio de fé': encontro contagiante e sincero com Papa Francisco

Miguel Pereira* - aplicativo

10/01/2014

 Divulgação

Carlos Diegues, por iniciativa própria, resolveu arriscar, mais uma vez, a sua capacidade produtiva como fomentador e propulsor de novos talentos cinematográficos. Convocou para a realização de um filme sobre a Jornada Mundial da Juventude Flora Diegues, sua filha, ex-aluna do curso de cinema da PUC-Rio, Cadu Barcelos e Gustavo Mello, de 5 vezes favela, agora por nós mesmos, e mais Carlos Eduardo Valinoti e Marcos Moura, ex-aluno da primeira turma regular da Escuela Internacional de Cine e TV de San Antonio de los Baños, a famosa escola de Cuba fundada em dezembro de 1986. Sem roteiro prévio, cada unidade de produção acompanhou cinco focos iniciais de cobertura da JMJ: o papa, os peregrinos, os acolhedores, os organizadores e os não católicos. A cada dois dias, Cacá Diegues via o material filmado, afinava os métodos e indicava os caminhos a seguir. Mais de cem horas foram gravadas e nesse amplo material surgiram personagens singulares, situações de incrível valor dramático, momentos de celebração e testemunhos comoventes.

O título, Rio de fé, expressa bem o ambiente vivido nos dias da JMJ. Uma fé tão potente que fez com que um peregrino viesse a pé do Ceará ao Rio de Janeiro, com o apoio da solidariedade popular que encontrava pelo caminho. Esse espírito que consagra os heróis da fé é uma expressão autêntica da cultura brasileira. São modelos do bem, partilhados pela nossa vida social e expressões diretas de uma formação encarnada no cotidiano, sem mediações. De todos os heróis que o filme revelou, sem dúvida, a figura central foi a do Papa Francisco, além de inúmeros grupos coesos na fé e identificados os ideais de justiça, solidariedade e vida espiritual. O papa mostrou não apenas o seu carisma, mas um discurso oportuno e lúcido, e atitudes que desafiaram todos os aparatos oficiais e realizaram a pedagogia do encontro. Abriu  novas perspectivas  às ações da Igreja Católica e definiu diretrizes para o seu pontificado, indicou caminhos para os jovens e todos os habitantes do nosso surrado planeta. Sua mensagem ecoou como um apelo à consciência de todos para o patamar de uma vida coletiva mais justa e pacífica. Personagem inesquecível, o Papa Francisco, a cada projeção do filme, ganha contornos diferentes e nos faz pensar e sentir o mundo de outra maneira. Rio de fé é presente, e não história passada.

O filme do Cacá Diegues amplia, no espírito de Francisco, o respeito ao outro enquanto sujeito de si e de suas crenças. A diversidade religiosa, assim como as diferenças sexuais e a presença da mulher como protagonista da sociedade contemporânea, são importantes contribuições para a reflexão dos tempos atuais. Rio de fé é também a celebração dos jovens em movimento que buscam o seu espaço de expressão e vivência. O filme retrata a juventude da esperança, o que nos faz crer que ainda é possível mudar o mundo para melhor. É essa crença que Cacá Diegues imprimiu ao seu filme, que é também a sua qualidade artística principal. Contagia por sua verdade e sinceridade.

* Miguel Pereira é professor da PUC-Rio e crítico de cinema.