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Rio de Janeiro, 7 de novembro de 2024


Cidade

Estudante revela bastidores da marcha por ruas cariocas

Rafaella Nogueira - Do Portal

19/06/2013

 Carlos Serra

O protesto que ganhou o Centro carioca na tarde desta segunda (17) teve duas feições bem distintas. A primeira, predominante, começou com a concentração de milhares de manifestantes, a maioria estudantes, em torno das 16h, na Candelária, e ganhou a Avenida Rio Branco logo depois. Roupas pretas, camisas em volta da cabeça e coturnos contrastavam com as blusas brancas predominantes e pinturas faciais que lembram os caras-pintadas dos anos Collor. “Limpa o rosto, que o nosso movimento não é comprado. A gente não veio esconder a cara”, criticavam alguns. Outros discordavam de bandeiras de partidos empunhadas na multidão: “Sem partido, sem partido!”. Estes gritos evidenciavam um dos traços principais da recente onda de protestos: o caráter apartidário. Via-se, ali, uma aversão ao que pudesse ser associado a representantes oficiais do cidadão, como legendas políticas, parlamentares, gestores públicos.

A passeata transcorreu sem sobressaltos ao longo da Rio Branco. Músicas de protestos somavam-se a palavras de ordem que apontavam os principais alvos da manifestação: “Vem para a rua contra o aumento”; “Se a passagem não baixar, o Rio vai parar”; “Da Copa, abro mão. Quero dinheiro para saúde e educação”. Eram cantadas com entusiasmo pela aglomeração formada, predominantemente, por jovens – a maioria estreante em protestos do gênero.

Àquela altura, quase seis da noite, uma das principais artérias do Centro já estava completamente tomada pelo brado das ruas. Um exercício de cidadania inédito para grande parte dos participantes. Pacífico, como se espera. Nenhum motivo aparente para sacar o kit protesto, itens para se proteger de um eventual confronto com a polícia (vinagre, máscara, cachecol). Nem sinal de repressão. Acreditava-se que os policiais estavam concentrados na Cinelândia, para onde a massa se dirigia (leia a orientação jurídica para os próximos protestos).Preto no branco: as duas feições

Das janelas dos escritórios, trabalhadores aderiam ao apelo popular. Estendiam lençóis brancos, jogavam papel picado, piscavam a luz quando se ouvia a multidão cantando: “Quem apoia pisca luz”. A cada movimento de apoio, os manifestantes ovacionavam e se entusiasmavam.

 Divulgação: Agência Brasil A marcha manteve-se pacífica até pouco antes das oito da noite, quando uma ínfima minoria radical, não mais do que 400, partiram rumo à Assembleia Legislativa (Alerj). “Vamos para a Alerj, vamos invadir”, conclamavam. Desenhava-se a segunda feição do protesto, oposta ao que se via até ali. A civilidade era atormentada por uma correria inicialmente sem explicação. Instalava-se a tensão, mas era difícil prever que culminaria nas cenas de vandalismo que ganharia as manchetes nacionais e internacionais (veja quadro abaixo).

A sensação predominante era de desorientação. Enquanto dezenas optavam por seguir até a Alerj, a maioria tentava encontrar uma forma de deixar a multidão, voltar para casa; ou, temendo a iminência de um confronto, simplesmente encontrar um refúgio. Em meio à confusão nos arredores da Cinelândia, faltavam agentes públicos para indicar as melhores alternativas. Os que optaram pelo metrô enfrentaram longas filas, mas sem baderna.

A correria fez baixar as portas dos comércios que ainda estavam abertos. Apesar dos ânimos exaltados, não se observou violência naqueles 200 metros até a Alerj. A violência, quase incontrolável, viria logo depois. Dezenas de manifestantes promoveram uma chuva de objetos sobre os policiais que guardavam a entrada. Lixeiras, pedras, morteiros. Já não havia mais passeata. Só fúria. Pichações, carro queimado, invasão de lojas e agências bancárias, invasão da Assembleia. As ações furiosas, criminosas, só foram contidas com a chegada dos agentes do choque de ordem, pouco antes das 23h. Foram detidos 28 manifestantes.

Nas redes sociais, participantes dos protestos no Rio e em outras capitais, como São Paulo e Belo Horizonte, repudiaram os atos de vandalismo. Ressaltaram que “esta pequena minoria” não os representa: “Ativismo não é vandalismo”.

Repercussão internacional dos protestos

  The New York Times: "Milhares de manifestantes se reúnem nas maiores cidades do Brasil."

El País: "O descontentamento no Brasil provoca o protesto mais maciço em décadas."

The Guardian: "Brasil entra em erupção em protesto contra os serviços e os custos da Copa do Mundo."

Le Monde: "No Brasil, protestos contra o alto custo de vida acontecem, enquanto a Copa do Mundo se aproxima."

The Washington Post: "100 mil manifestantes inundaram ruas brasileiras em protestos expressando sua raiva sobre os serviços governamentais ruins."

Clarín: "Brasil: crescem os protestos e os confrontos com a polícia."