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Rio de Janeiro, 14 de novembro de 2024


País

A busca pelo primeiro milhão

José Augusto Martini - Do Portal

02/09/2008

 Paula Giolito

A cada dia que passa mais jovens têm se interessado pelo mercado de ações. Por não terem vivido a hiperinflação dos anos 80 e início dos 1990, os jovens se mostram mais dispostos a arriscar num mercado considerado de alto risco. O aluno de Administração da PUC-Rio, Pedro Carvalho, 22 anos, foi um desses jovens que se viu atraído pela Bovespa: “Comecei há um ano. Após ler relatórios de bancos e jornais de economia vi que aplicando em ações teria um retorno maior do que a poupança e outras aplicações de renda fixa ou variável”. Ao longo da história, a Bolsa mostrou-se o melhor investimento de longo prazo - em 2007 a Bolsa foi o investimento mais rentável no país -, apesar disso trata-se de um mercado instável e imprevisível. A turbulência registrada nas últimas semanas - em que o principal indicador da Bovespa, o Ibovespa, caiu dos 70 mil pontos para os 54 mil – serve para ensinar aos mais novos essa dinâmica.

Segundo a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, o número de investidores individuais na Bovespa mais que dobrou de um ano para cá, passando de 219.634 contas em 2007 para 528.769 no final de julho. Segundo estimativa do professor de Administração da PUC-Rio, Marcelo Cabús Klotzle, pelo menos 40% do total de investidores estão abaixo dos 35 anos. “Nos últimos cinco anos houve um boom no crescimento da bolsa, que atraiu muitos investidores, inclusive os mais jovens”, explica Klotzle.

A evolução do home-broker – sistema que permite a negociação de ações via Internet – facilitou a entrada dos jovens no mercado de ações. Dados da Bovespa de julho de 2007 indicam que mais de 54 mil jovens entre 11 e 20 anos investem na Bolsa. Apesar do número pequeno, se comparado à população brasileira de 190 milhões de pessoas, trata-se da segunda maior parcela de investidores da bolsa paulista quando se fala em pessoa física. Para Marcelo, as ofertas públicas iniciais de ações (IPO) – quando uma empresa abre o capital na bolsa – ajudaram a atrair um grande número de pequenos investidores. “O jovem, de uma maneira geral, pensa numa fortuna rápida, quer ganhar o primeiro milhão de um dia para o outro. A pessoa mais nova é levada pela propaganda boca-a-boca, o problema é que a bolsa só dá um rendimento bom a longo prazo”, conta.

O gerente comercial da corretora Ágora, Hélio Pio, percebeu um interesse crescente de jovens, principalmente estudantes de Economia, Administração e Engenharia, que tentam levar a teoria aprendida em sala de aula para o dia-a-dia do mercado financeiro. “Muitos já estão pensando na sua carreira profissional pós-faculdade, onde eles conseguem ser remunerados por isso, o que profissionaliza cada vez mais esse tipo de negócio”.

Assim que começou a estagiar e ganhar seu próprio dinheiro, João Alexandre Prado, 22 anos, estudante de Engenharia da Computação, decidiu aplicar seu dinheiro. A rentabilidade da bolsa paulista no ano passado, superior à poupança, chamou a atenção de João Alexandre que começou a ler jornais especializados e fez um curso básico para iniciantes oferecido pela Bovespa. “Apesar de ter estudado ainda não investi. Fiquei com medo, pois não tenho muita experiência nem muito dinheiro aplicar”, revela. Os indicadores  instáveis da economia mundial ajudaram a manter o receio do universitário em colocar todo seu dinheiro em ações: “Muitos bancos quebraram e vejo que estão todos com medo. Até que se estabilize não pretendo meter a cara”.

Apesar da euforia dos últimos anos, quando a bolsa rendeu bem mais do que os fundos de renda fixa – tradicionais formas de aplicação do brasileiro, como a poupança, por exemplo –, Marcelo Klotzle faz um alerta: “A bolsa é traiçoeira. Da mesma forma que uma pessoa pode ganhar muito, pode perder. Nessas horas é importante manter o sangue-frio e investir de acordo com sua aversão a risco, ou seja, saber quanto você está disposto a perder”.

A procura dos universitários por cursos de especialização na área levaram a PUC-Rio a criar a disciplina Finanças Comportamentais, que fará parte do Mestrado Acadêmico de Administração. “Mais de 80% dos meus amigos estão investindo. Ano passado eles estavam mais eufóricos e agora com a queda da bolsa estão com o dinheiro parado esperando a bolsa melhorar”, conta Pedro Carvalho, com ar de quem investiu na hora certa e conseguiu realizar um bom percentual de lucro.

 Colaborou Adolfo Fuzinato