Matheus Vasconcellos - aplicativo - Do Portal
05/01/2014O juiz tem um papel fundamental na condução e no controle da partida de futebol. Para isso, os futuros árbitros precisam cursar uma escola de arbitragem que esteja ligada a uma federação de futebol. Cerca de 60 alunos se matriculam todos os anos na Escola de Arbitragem do Rio de Janeiro, a Eaferj. Ali, além dos ensinamentos técnicos, o professor Max Tavares ensina aos futuros árbitros até palavrões e xingamentos em outros idiomas. Utilizando um projetor multimídia e um sistema de som no auditório da Federação de Futebol do Estado do Rio, o professor Max mostrava vídeos com imagens do campeonato espanhol em que jogadores xingavam e discutiam com os juízes.
Durante 11 meses de curso, os alunos estudam educação física, regras e súmula, além de português, espanhol, inglês, entre outras disciplinas. Mas o obstáculo mais difícil para integrar o quadro da Federação de Futebol é o teste físico. Em uma pista de atletismo com 400 metros, os candidatos precisam correr 150 metros em apenas 30 segundos, em 20 tiros. O teste é repetido durante toda a carreira do árbitro, pelo menos três vezes ao ano.
Para o ex-árbitro assistente e professor da Eaferj Marcelo Duarte, a parte física é o grande desafio dos juízes de futebol:
– O teste físico não é para qualquer um. Se os jogadores profissionais precisassem fazer esse teste, pouquíssimos passariam. Eles jogam em um dia e descansam no dia seguinte, mas nós não podemos descansar. Um dia sem treinar faz muita diferença.
Depois de aprovado em todas as provas, o árbitro começa a atuar pela federação em partidas de divisões de base. Os juízes recém-formados são analisados durante os jogos por um grupo de observadores formado por ex-árbitros, que fazem relatórios e encaminham as imagens do desempenho do trio de arbitragem à Comissão de Arbitragem de Futebol do Rio de Janeiro (Coaf). A federação promove reuniões com os árbitros para ajudar na formação. Quando chegam ao módulo de elite, os juízes de futebol são indicados pela comissão para fazer as provas da CBF.
O diretor da Eaferj, Carlos Elias Pimentel, conta que o acompanhamento aos árbitros recém-formados mesmo após o curso é importante para manter o bom nível da arbitragem brasileira:
– Nosso curso é reconhecidamente o melhor curso de formação de árbitros de futebol do Brasil. Só que, após a formação do árbitro, ele deve continuar sendo acompanhado com um treinamento específico e, pelo que me consta, apenas Rio e São Paulo têm um trabalho de acompanhamento desses árbitros depois de formados.
Formado pela Eaferj em 2011, Lucas Santos (foto), 19 anos, estudante de administração, acredita que o tempo do amadorismo na arbitragem brasileira já acabou, e aponta a como evidência a infraestrutura do curso.
– Antigamente, a arbitragem era tratada de forma mais amadora. Hoje contamos com uma estrutura muito boa de profissionais nos apoiando. Temos massagistas, preparadores físicos, nutricionistas e psicólogos. Tudo para nos ajudar dentro e fora de campo. Estamos caminhando para um tempo de excelência na arbitragem – opina Lucas, que hoje é árbitro em jogos do Campeonato Carioca Sub-15.
Profissão não é regulamentada
Apesar da formação rigorosa dos juízes de futebol, Marcelo Duarte não acredita que um dia a arbitragem possa ser regulamentada como profissão. Para o professor e ex-árbitro, assim como o jogador de futebol, o juiz também tem uma carreira curta. Marcelo conta que precisou se aposentar aos 40 anos, pois não aguentava as dores depois de treinar para os testes físicos da Confederação Brasileira de Futebol.
– Trabalhar dos 20 aos 40 anos não garante condições de receber aposentadoria, por isso os juízes precisam ter outra fonte de renda – defende.
A remuneração média de um árbitro profissional que apita jogos do Campeonato Brasileiro é de R$ 2.500, se o juiz pertencer ao quadro da CBF, e de R$ 3.500, caso seja da Fifa. O árbitro assistente recebe a metade.
Mulheres vêm se destacando
A turma da Eaferj de 2013 tem 43 alunos, dos quais nove são mulheres. Em 2009 se formaram 20 mulheres. O professor Marcelo diz que as árbitras hoje são as mais procuradas nas federações:
– A mulher que se forma e passa no teste físico segue carreira rápido. A CBF precisa de árbitras para o quadro principal, por isso as mulheres que cuidam da parte física e são responsáveis decolam.
É o caso de Suzana Coelho, 25 anos. Formada em Educação Física, ela escolheu ser juíza por causa da relação que tem desde pequena com o futebol.
– A vida inteira fui apaixonada por futebol, por isso decidi seguir esse caminho. Assim, posso ficar mais perto do esporte, viver minha paixão – conta Suzana, que ainda não decidiu qual função vai escolher dentro da arbitragem.
O amor pelo futebol é essencial para seguir na profissão. A proximidade com o campo e com os jogadores chama a atenção dos futuros árbitros de futebol. Washington Fernandes, 25 anos, auxiliar administrativo e árbitro federado de futebol de salão, sai todos os dias de Duque de Caxias para a sede da Ferj, no Maracanã, para fazer o curso de arbitragem, agora, no futebol de campo:
– Sempre gostei muito de futebol, mas chega uma hora em que você não consegue seguir carreira com a bola, e passa a se interessar pelas regras.
Hoje formado e árbitro pela Ferj, Lucas Santos afirma que cada vez é mais apaixonado pela atividade, apesar da visão comum de tornar o juiz de futebol o grande culpado:
– Na maioria das vezes somos vistos como vilões, mas ser árbitro nos enche de prazer, queremos cada vez mais entrar no campo de futebol. Toda a preparação e adrenalina que envolve uma simples partida são viciantes. Estar lá é simplesmente mágico.