Gabriela Ferreira, Gustavo Coelho e Olívia Haiad - Do Portal
11/08/2008Com objetivo de discutir soluções para a chamada sustentabilidade ambiental, a XIV Semana do Meio Ambiente da PUC-Rio promoveu, no primeiro semestre deste ano, uma série de debates sobre proteção da biodiversidade. No primeiro dia de palestras, o superintendente do Ibama no Rio de Janeiro, Rogério Rocco, criticou a burocracia, a falta de comunicação com outros órgãos do governo e o modelo desenvolvimentista adotado por governos locais. Especialistas apontaram o aperfeiçoamento gerencial e a coordenação de esforços entre esferas públicas como ações essenciais à preservação do meio ambiente.
A secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, destacou a necessidade de reestruturação do sistema de gestão. Propôs a divisão das áreas hídricas do estado do Rio em dez regiões e a criação de Comitês de Bacias para administrá-las. Para melhorar as condições ambientais, Marilene considera urgentes duas providências: investir mais na educação e intensificar a fiscalização. Ela aposta na criação de um Disque-ambiente que receba denúncias da população.
– A fiscalização é precária. O Estado deve agir e punir severamente quem comete crimes ambientais. Há diversas maneiras modernas de fiscalizar áreas de preservação. Não é necessário mandar fiscais todos os dias. Temos também que levar a discussão para as escolas e universidades – sugeriu.
Marilene enfatizou, no seminário, que os programas de investimentos em saneamento precisam tirar o Estado do Rio do “vergonhoso” patamar de 25% de tratamento de esgoto e 60% de coleta. A meta é chegar a 80% de coleta e tratamento.
Para Rocco, a maior dificuldade do Ibama é encontrar um equilíbrio:
– Ainda temos um longo caminho antes de conseguir equilibrar os sistemas de preservação e de desenvolvimento. Até hoje, conservar é considerado anti-econômico, e desenvolver é visto como anti-ambiental. Felizmente, projetos como os corredores ecológicos já resultaram na criação de áreas de preservação em todo o estado, e vêm estimulando o poder público a trabalhar mais.
O professor Rogério de Oliveira, do Departamento de Geografia da PUC-Rio, ressaltou a importância de se compreender as mudanças nos ecossistemas. De acordo com Oliveira, as paisagens atuais guardam um distante parentesco com o que havia séculos atrás:
– O que era natureza pura, intocada, não existe mais. Tudo que há é uma herança, deixada por séculos de transformação na paisagem. Nosso desafio é gerir sistemas sócio-ecológicos, que ainda precisam de estudos mais aprofundados.
Energia e Meio Ambiente
“Às vezes, ser moderno é olhar para trás”. A frase de Gilberto Gil ilustra como foi a palestra “Energia e Meio Ambiente”. Os participantes defenderam o uso de energias renováveis como alternativa ao consumo mundial de combustíveis derivados do petróleo. Mediada por Hortêncio Alves Borges, diretor do Departamento de Física da universidade, a palestra reuniu especialistas como Antônio Roberto Oliveira, doutor em Engenharia de Minas; Hamilton Moss, do Centro de Referência para Energia Solar e Eólica (CRESESB); Eloi Fernandes y Fernandes, do Instituto de Energia da PUC; e Alcir de Faro Orlando, professor do Departamento de Engenharia Mecânica.
A grande estrela da palestra foi o Sol, que se revelou uma unanimidade entre os participantes. Em dias nos quais o consumo de energia per capita representa o dobro do registrado na época da Revolução Industrial, e nos quais a cotação do barril de petróleo dispara no mercado internacional, a busca de alternativas mostra-se indispensável. Uma das mais enficazes, frisou Hamilton Moss, é a energia solar:
– O Sol envia para a Terra cerca de 10.000 vezes o consumo mundial de energia bruta. É uma fonte importantíssima, e estará aí por milhões de anos.
Foram apresentadas à platéia projetos como bombas que substituem o tradicional painel solar e um avião que capta a luz do Sol para funcionar. Antônio Oliveira mostrou, em slides, uma casa de 500m² na qual desde a cafeteira até a água quente alimentados exclusivamente por um gerador solar. Ele reforçou também a utilidade das energias eólica e a hidráulica.
– O modelo hidrelétrico criticado hoje é o mesmo que nos salvou na época dos apagões. E a energia dos ventos pode ser utilizado quase 24 horas por dia. O Nordeste mostra-se riquíssimo para extrair energia dos ventos – argumentou Oliveira.
Para o especialista, o etanol, considerado por países desenvoldidos um dos responsáveis pela crise mundial de alimentos, é um dos caminhos viáveis na busca de combustíveis mais limpos, que não agridam o meio ambiente. Fernandes y Fernandes fez previsões menos otimistas. Para ele, a China emitirá, em 2030, o dobro de monóxido de carbônio (CO2) em relação aos países desenvolvidos. O ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP) deixou uma pergunta no ar: “Até quando o mundo conseguirá sobreviver com sua dependência do petróleo?” Igualmente cauteloso, ou aflito, com os rumos ambientais, Moss também previu, em duas décadas, um convívio diário com os efeitos do aquecimento global.
– O aquecimento global será uma realidade na rotina de todos. Vocês, jovens, terão que conviver com isso. Já eu ainda posso aproveitar mais uns anos de ar-condicionado – brincou, dirigindo-se aos estudantes.
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