Rodrigo Serpellone - Do Portal
30/11/2012Se ainda é grande a resistência ao uso da tecnologia no futebol, o debate sobre o tema só fez crescer nos últimos anos. Especialistas discutiram o assunto na SoccerEx, exposição sobre futebol que ocorreu no Forte de Copacabana até esta quarta-feira, 28. O secretário geral da Fifa, Jérôme Valcke; Ronaldo, do Comitê Organizador Local da Copa (COL); o ministro Aldo Rebelo; o presidente da CBF, José Maria Marin; o coordenador técnico da Seleção, Carlos Alberto Parreira; e o ex-técnico Zagallo estavam entre as personalidades que participaram do evento, que reuniu 3.500 pessoas nos três dias de evento.
A Fifa já aprovou o uso de recurso eletrônico para detectar gols. Duas empresas mostraram seus dispositivos, em fase de testes, na feira.
O GoalRef é um chip instalado na bola que emite um sinal ao árbitro. O relógio do sistema, que ficará no pulso de juízes e assistentes, avisa se foi gol em menos de um segundo. No pequeno campo de futebol do estande da Fifa, o representante de gerenciamento operacional da GoalRef, Thomas Pelkofer, fez uma exibição. Assim que a esfera passou da linha, o relógio exibiu na tela: “Goal”.
Questionado pela plateia, Pelkofer garantiu que a bola com chip não faz diferença para os jogadores:
– Testamos a bola com chip com os freestylers na frente do estande da Fifa, e eles não perceberam diferença – afirmou, referindo-se aos freestylers Charly Iacono e Pedro Oliveira (Pedrinho), respectivamente campeões argentino e brasileiro da modalidade de futebol de estilo livre, que consiste em fazer malabarismos com a bola sem deixá-la cair. Eles foram à exposição a convite da Federação Brasileira de Freestyle, para divulgar a prática.
Do outro lado da moeda, a tecnologia HawkEye também está na disputa. Apresentado na feira pelo criador do projeto, Paul Hawkins, o sistema é formado por sete câmeras direcionadas para cada gol, que geram uma imagem instantânea. O árbitro acompanha por um monitor, a exemplo do que já é usado no tênis e no críquete.
De acordo com o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, ambas as tecnologias serão testadas no Mundial de Clubes que começa no dia 12 de dezembro, em Tóquio, tendo o Corinthians como representante sul-americano e o Chelsea, europeu. Somente uma será aprovada para testes finais no Brasil:
– Usaremos um dos sistemas testados em Tóquio para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. O dispositivo ficará nos estádios brasileiros como legado – afirmou o secretário-geral.
O ex-goleiro português Vitor Baía, que jogou no Barcelona, está de acordo com a tecnologia da linha do gol: “Já deveria ter sido aplicada anteriormente”. Baía acredita que isso evitará desgastes desnecessários que atrapalham a partida:
– Os conflitos entre os jogadores são uma imagem ruim, principalmente para os jovens. Agora, a justiça será feita, e sem atrapalhar o ritmo de jogo.
Carlos Eugênio Simon, ex-árbitro de três Copas do Mundo e hoje comentarista de arbitragem no canal Fox Sports, estava na primeira fila do debate Será que a tecnologia na linha do gol irá melhorar o futebol?. Ele concorda com a decisão tecnológica da Fifa sobre a linha do gol, mas discorda que seja usada em ocasiões como o impedimento e faltas:
– Quando a bola passa, tem que ser marcado gol. Em certos momentos, é humanamente impossível perceber se a bola entrou ou não. Já no caso do impedimento, demoraria muito tempo para ser analisado, e não creio que seja possível, já que a torcida pode ficar impaciente. Saber se a falta foi dentro ou fora da linha da grande área é uma questão interpretativa. Mesmo nos programas de televisão, os comentaristas divergem em suas opiniões após ver um replay em câmera lenta.
Já o técnico de futebol Antônio Lopes, atualmente sem clube, afirma que a nova tecnologia será de grande utilidade, pois evitará problemas. Mas, ao contrário de Simon, ele quer que a Fifa aprove recursos eletrônicos para outras ocasiões:
– A tecnologia do impedimento deveria ser a próxima, porque dá origem a mais discussões do que a linha do gol propriamente dita. Importante também ter recursos para a questão da linha da área, para ver se a falta foi dentro ou fora, pois ela coloca os árbitros em perigo. Infelizmente há um grande medo por parte da Fifa.
Também participaram do debate o consultor de mídia da SoccerEx, Matt Lorenzo; o ex-goleiro da Holanda Edwin Van der Sar; e o chefe do Gabinete da Secretaria Geral da Fifa, Cristoph Schmidt, quem avisou aos representantes de ambas as tecnologias para a linha do gol que, “se as duas derem conta do recado em um tempo razoável, que não atrapalhe o ritmo de jogo, o critério para escolher uma ou outra será o preço”.
O criador do HawkEye, Paul Hawkins, reconhece que o processo de implantação da tecnologia é caro e, por isso, não deve alcançar divisões inferiores, que não tenham tantos recursos financeiros:
– No futuro, o custo dos equipamentos vai cair. Mas, por enquanto, creio que somente competições de alto nível terão capacidade financeira de usufruir de qualquer tecnologia deste tipo – admitiu Hawkins.
Tecnologia também serve para a diversão
A SoccerEx reuniu quase cem estandes de clubes, investidores, cidades-sede da Copa do Mundo e criadoras de tecnologia esportiva, espalhados por uma área de 9 mil m². Enquanto alguns divulgavam novos aparatos de energia para estádios, cuidados para a grama das arenas e materiais mais leves para uniformes e bolas, uma sala escura chamava a atenção de quem andava pela feira.
Empresários e torcedores brasileiros e estrangeiros pararam durante um minuto para bater um pênalti virtual. O estande do Virtual Penalty permitia aos visitantes chutar uma bola real contra uma parede na qual está projetado um goleiro defendendo um gol. Assim que a bola real acerta a parede, a bola virtual entra em cena e o goleiro pula para tentar a defesa.
Segundo o representante da empresa na SoccerEx, Paulo Dalton, o simulador tem outras modalidades:
– O aplicativo tem futebol, basquete, hóquei no gelo, futebol americano e beisebol. O problema é que os “caras de terno” não sabem jogar bola. Três já escorregaram aqui hoje.
Após tumulto, ex-jogadores comentam o momento da Seleção Três dias após o anúncio da saída de Mano Menezes da seleção, o presidente da CBF, José Maria Marin, em sua primeira aparição pública depois do anúncio, foi o mais perseguido pelos jornalistas. Cercado de seguranças e mais de 20 repórteres e câmeras, o pelotão foi do estúdio de debates para o estande da Confederação Brasileira. Durante o trajeto, visitantes foram empurrados e um stand quase foi destruído, já que o fio de uma câmera enroscou e entortou o pilar de sustentação. Quando Marin deu uma breve entrevista aos jornalistas, que durou alguns minutos, o clima acalmou. Assim, os tricampeões mundiais da copa de 70 Paulo Cézar Caju e Carlos Alberto Torres puderam falar tranquilamente. Mas Caju não estava tranquilo. Ele criticou o atual momento do futebol brasileiro: – Hoje qualquer um veste a camisa da seleção. Eles comemoram qualquer campeonato como se fosse a Copa do Mundo (se referindo ao Superclássico das Américas, que o Brasil venceu sobre a Argentina). Carlos Alberto Torres analisou a decisão da CBF de demitir Mano Menezes, antes de contratar Luís Felipe Scolari para o cargo de técnico da Seleção Brasileira: – Todos fomos pegos de surpresa com esta decisão. Mas acho que o momento foi errado. Se fosse para demiti-lo, que o fizessem antes. Ou depois da Copa de 2014. Antes de ser contratado para a função de Coordenador de Seleções na CBF, Carlos Alberto Parreira comentou o legado da Era Mano e se colocou disposto para o cargo de técnico: – O Mano Menezes deixou uma base boa para quem assumir. Se precisar de mim, estou disponível. |
Cerimônia de abertura teve prêmio para Ronaldo Fenômeno
Antes dos discursos de Sérgio Cabral, José Maria Marin e Aldo Rebelo na abertura do SoccerEx, o ex-jogador e ex-técnico da seleção brasileira Zagallo entregou a Ronaldo o Prêmio João Havelange de Excelência e Legado, homenagem destinada a quem mais contribuiu para o futebol brasileiro no ano. Ao entregar o prêmio, Zagallo relembrou os velhos tempos e elogiou o fenômeno:
– Conheci o Ronaldo bem mais magrinho. Foi um dos melhores atacantes que já comandei como técnico. E ainda continua no esporte, com o mesmo sucesso.
Com o troféu em mãos, o ex-camisa 9 da seleção agradeceu:
– Fica difícil falar quando você recebe um prêmio da pessoa que foi o melhor treinador e a melhor relação humana que já tive no futebol. Precisamos de mais conferências como essa para melhorar o futebol em todos os aspectos.
Na mesma cerimônia, o presidente da CBF, José Maria Marin, exaltou as conquistas do Brasil nos últimos anos:
– Antes, nosso país sofria com arenas arcaicas. Agora, teremos 12 estádios de alto padrão que estão sendo construídos para a Copa, além das arenas de Grêmio e Palmeiras.