A palestra “Televisão e Cinema: Recepção Comparada, História e Teoria” discutiu a importância dos dois veículos em relação a aspectos como memória, história e influência social. Entre os convidados estavam Gilberto Alexandre Sobrinho (Unicamp), Mary Beth Haralovich (University of Arizona) e Amy Villarejo (Cornell University), Esther Hamburger (USP), que falou sobre o papel da televisão e do cinema como estimuladores de estéticas, principalmente quando se trata de assuntos como violência, raça, gênero e universos urbanos periféricos. Segundo Esther, embora haja poucas salas de cinema no Brasil, o cinema se impõe sobre a TV porque filmes são fenômenos sociais, e por isso a abordagem dos temas deve ser tratada de maneira delicada. Ela dá exemplos como “Cidade de Deus”, “Palace II” e “Tropa de Elite”, que, para Esther, é uma intervenção em uma seqüência de interlocuções do gênero.
Qual a importância de a televisão e o cinema abordarem aspectos sociais, como a violência e o espaço periférico?
É interessante que é o cinema, e não a TV, que tradicionalmente fala sobre esse assunto. A história do cinema está marcada por abordar esses assuntos em momentos-chave, na emergência do cinema moderno e agora na emergência de um pós-moderno. É o que a gente tem hoje em dia. O cinema da retomada, essa é uma vertente muito importante. Um exemplo foi os ataques do PCC em São Paulo. Os jornais deram uma cobertura enorme, e os cineastas foram uma fonte importante de interpretação do assunto. Mais do que os políticos, os administradores, os técnicos especializados, ou tanto quanto.
Como tratar de temas como violência, por exemplo, sem contribuir com os estereótipos querem perpetuá-los?
É muito difícil lidar com esse assunto, porque se você não fala da violência, você se omite da existência dessa situação. Se você privilegia só o aspecto violento, parece que a vida das pessoas que moram nesses lugares está reduzida a isso, o que também não é verdade.
Como tratar desse assunto sem reproduzir a violência, sem contribuir pra aumentar uma situação que existe?
Essa é uma situação de política e estética ao mesmo tempo, uma solução que vai vir da interação entre as pessoas que estão dispostas a enfrentá-la. Acho que não vem nem de dentro nem de fora, tem que haver uma interação, com todos os curtos-circuitos que essa ela envolve.
Por que é tão importante a aproximação entre o realizador e o público?
É muito importante, porque o filme é uma interação, ele expressa uma relação sensível do imaginário. O realizador, quando está fazendo o filme, pensa em alguém, ele está se dirigindo a alguém. Pode ser que ele esteja acertando ou errando. Em geral, erra porque a gente nunca sabe exatamente, mas tem uma interlocução, cheia de imediações e imprecisões. Enquanto o cineasta não conhecer o público, ele não consegue produzir para o público. Não quer dizer que ele tenha que produzir para o público, o que o público quer, no sentido que o marketing faz. O cineasta tem que expressar o que faz sentido pra ele, mas se ele tem uma idéia de quem é esse público, ele vai expressar de uma forma ou de outra. Não estou dizendo que as coisas têm que ser didáticas. Tem que haver uma relação e essa relação deve ser estimulante. O público gosta de coisas que estimulam, e eu acredito que gosta de coisas que estimulam intelectualmente também. Então eu acho que aí que está o desafio. É mais difícil, exige mais. Essas coisas mais sofisticadas são aquelas que reúnem qualidade e quantidade, são mais difíceis.
O que explica o sucesso de Tropa de Elite?
É um novo ponto de vista. Você tem “Cidade de Deus”, que é uma perspectiva meio de dentro, meio de fora e “Falcão - meninos do tráfico”, que é uma resposta a “Cidade de Deus”, que diz que aquela situação de violência não é específica da Cidade de Deus, que está tudo espalhado. E agora você tem a versão do policial, que é uma versão inédita. Isso gerou um impacto muito grande, foi inesperado. “Tropa de Elite” mostra coisas que nunca tinham vindo à tona. É uma perspectiva totalmente nova.
Em sua opinião, há alguma possibilidade de o filme Tropa de Elite se tornar uma série de TV?
Acho que seria bom. O filme está provocando tanta polêmica, e isso é sempre bom. Está fazendo as pessoas pensarem e discutirem.
Mas a série não viria com uma versão muito menos violenta do que o filme?
Eu acho que, em geral, essa obrigação da amenização da televisão está tendo muitos resultados interessantes, as coisas são menos explícitas e mais abstratas. Isso pode ajudar a pensar em outras coisas, pode dar uma liberada na imaginação, que é o que a gente está precisando para enfrentar essa questão.
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