Já começou a contagem regressiva para o maior espetáculo latino-americano do cinema em 2013. “É como escola de samba; acaba um festival e já começa o outro. Temos muitos planos para o próximo, como ajustar os projetos que começaram este ano”, afirmou Ilda Santiago, uma das organizadoras do Festival de Cinema do Rio, na última quinta-feira, dia 11, no Cine Odeon, palco da entrega do prêmio Redentor, que premia os melhores filmes eleitos pelo júri oficial e por votação popular. Ouça a matéria da Rádio PUC.
O 14º festival do Rio foi marcado pelo recorde de público – quase 280 mil pessoas se dividiram em 30 salas de cinema para assistir aos 427 filmes – e pela projeção ao ar livre na Praia de Copacabana, que atraiu mais de 4 mil espectadores à sessão de The Pleasure Garden (1925), de Alfred Hitchcock, filme mudo acompanhado de orquestra ao vivo. A maratona 2012 foi estendida até esta quinta, 18, com a exibição de 36 filmes no Odeon (confira a programação no site do Fest Rio). Ao mesmo tempo, já foi dada a largada nos preparativos para a próxima edição. O trabalho do próximo festival, de acordo com Ilda, já começa no dia seguinte ao da entrega dos prêmios.
– Voltamos à Praia de Copacabana, agora para ficar – antecipou Ilda.
Se o FestRio tem como final feliz a certeza de uma continuação, a mostra apresentou falhas em projeções e teve sessões canceladas de última hora. Ilda atribuiu os problemas à dificuldade de projetar diferentes formatos:
– Num manancial de 74 filmes brasileiros, havia 62 nos mais variados formatos digitais, e somente 12 vieram em 35mm. Para o próximo ano, precisamos achar uma forma de exibir os filmes com a melhor qualidade possível.
Uma novidade desta edição foi a parceria com a PUC-Rio. A sala 102K foi cenário de bate-papos com diretores após a exibição de filmes como Jorge Mautner – O filho do holocausto, de Pedro Bial e Heitor D’Alincourt, e de seis curtas produzidos por alunos de cinema da universidade que integraram a seleção oficial do festival.
– A ideia do Fest Rio é se aproximar cada vez mais da PUC-Rio e das escolas de cinema, levando o festival até o nosso público – afirmou Ilda.
Coordenador do projeto, o professor de cinema da PUC-Rio Arturo Netto confirmou o interesse do curso em “repetir e incrementar essa parceria”.
Ilda destacou ainda o fato inédito de uma animação brasileira, Uma história de amor e fúria (2012), ter entrado na briga pelo troféu Redentor. Segundo llda, isso é o retrato do que acontece no mercado:
– A animação é muito presente tanto em curtas quanto em longas. É um prazer tê-la na competição. Assim como ter um filme hour concours prioritariamente argentino (Infância clandestina, 2012), mas feito em co-produção com o Brasil. Estes são os novos caminhos e novas portas que se abrem para o cinema brasileiro e para o mundo.
Os eleitos pelo júri oficial
Dos 427 filmes exibidos na mostra, 73 formavam a Premiére Brasil. Dos 12 concorrentes, O som ao redor (2012) rendeu ao diretor e roteirista Kleber Mendonça Filho, em seu primeiro longa de ficção, o principal Redentor. A produção nordestina mostra a tensão que toma conta de uma rua de classe média do Recife a partir da chegada de uma milícia.
– É muito importante sair do eixo Rio-São Paulo para que outras vozes possam ser ouvidas. Filmes do Nordeste e do Norte são uma oportunidade de assistir a diferentes abordagens – analisou o ator Lúcio Mauro Filho, que dividiu com a atriz Maria Clara Gueiros a apresentação do prêmio.
Outro longa que saiu bem cotado para a estreia, no dia 9 de novembro, foi Disparos (2012). A diretora e roteirista Juliana Reis levou três Redentores para sua equipe: ator coadjuvante, para Caco Ciocler; montagem, para Pedro Bronz e Marília Moraes; e fotografia, para Gustavo Hadba.
– Acho que vou ter que refazer os cartazes, o trailer. Vai dar um trabalho danado, é um ótimo problema – comemora Juliana.
Da ficção para a realidade, o documentário Hélio Oiticica (2012), sobre o artista plástico brasileiro, levou o prêmio na categoria. O diretor e sobrinho do homenageado, César Oiticica Filho, foi ovacionado pela plateia.
– Depois de dez anos de trabalho, o projeto não poderia ter prêmio melhor – desabafou ao receber o troféu.
Na categoria melhor curta, o vencedor foi Realejo (2012), de Marcus Vinícius Vasconcelos.
Quando o assunto é interpretação o filme que se destacou foi O gorila (2012). Otávio Muller foi eleito melhor ator e Alessandra Negrini, melhor atriz coadjuvante pelo filme de José Eduardo Belmonte. Leandra Leal levou o prêmio de melhor atriz por Éden, de Bruno Safadi.
Os premiados foram escolhidos pelo júri oficial composto pela produtora Lucy Barreto, o produtor e diretor Marcos Prado, o diretor e cinematógrafo Renato Falcão e o diretor do Departamento de Cinema do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa) Rajendra Roy. O melhor diretor foi Eryc Rocha por Jards (2012), documentário sobre o músico Jards Macalé.
Homenagens especiais
Lucy e seu marido, Luiz Carlos Barreto, donos da produtora LC Barreto, responsável por sucessos do cinema nacional como Dona Flor e seus dois maridos (1976) e O quatrilho (1995), foram homenageados com o prêmio “Personalidades Latino-Americanas do Ano”. A LC Barreto comemora 50 anos de existência.
O pesquisador Antonio Venâncio, recebeu o Prêmio Especial do Júri. A honraria foi dada pelo trabalho em Hélio Oiticica, Dossiê Jango, O dia que durou 21 anos, Sobral – O homem que não tinha preço e outros documentários que trazem sua investigação.
Apontar os caminhos do novo cinema brasileiro é o que pretende a mostra Novos Rumos. Nesta categoria, foram premiados o curta Canção para minha irmã, de Pedro Severien, e os longas A batalha do passinho, de Emílio Domingos, e Super nada, de Ruben Rewald. O júri, formado pelos diretores Roberto Berliner e Eduardo Nunes e pela atriz Maria Ribeiro, fez uma homenagem especial a Jair Rodrigues, pela participação em Super nada, e a Gambá, jovem assassinado em janeiro, que participou de A batalha do Passinho.