Já são trinta anos de carreira, sucessos e muitas lembranças. Em 2008, o grupo Boca Livre celebra a data redonda com uma nova fase. Depois de um jejum de shows, o quarteto volta aos palcos inspirado pelo lançamento do DVD “Boca Livre Ao Vivo”, que encerrou uma antiga “dívida” com os fãs.
Professor da PUC-Rio há quatro anos e um dos integrante originais do “Boca”, David Tygel guarda na memória os conflitos, as dificuldades e as conquistas que marcaram a história do grupo. Formado em 1978, o Boca Livre ganhou reconhecimento nacional no ano seguinte, ao bater recordes de venda com um disco lançado sem o apoio de uma grande gravadora. O perfil independente tornou-se uma marca do grupo:
- Nós cantamos o que gostamos de cantar. Não vamos mudar o nosso repertório para aparecer no Faustão, por exemplo. O Boca não faz música para balançar o esqueleto. É para dançar com os miolos, e não com o corpo. Nosso primeiro disco foi classificado como “invendável” pelas gravadoras, mas rendeu mais de 100 mil cópias. Foi um sucesso espontâneo, e a certeza de que era um caminho viável - lembra Tygel.
Embora seja menos conhecido das gerações novas, o Boca Livre permanece em alta para os que conheceram o grupo nas décadas de 80 e 90. Segundo Tygel, o Boca continua lembrado “em qualquer lugar do Brasil”:
- Para muitos, o grupo é importante. Tem gente que se casou com a nossa música, que deu o primeiro beijo durante um show nosso. Lotávamos qualquer teatro ou ginásio. O Boca viajava tanto que às vezes nem dava para saber em qual cidade a gente estava.
O Boca Livre também viveu momentos turbulentos. Nas palavras de Tygel, “o grupo já brigou tudo que podia brigar”. Para evitar os desgastes, é preciso conciliar a agenda comum com os projetos individuais.
- Todos do Boca têm carreira solo. Isso é suicídio, mas também é a nossa salvação. Vivemos meio que na corda-bamba. Já superamos fases difíceis. Eu, por exemplo, precisei me afastar numa certa época porque estava ficando muito cansado. Mas o Boca é um vício.
Tantos anos de estrada renderam ao Boca Livre encontros com craques da música brasileira, como Ivan Lins, João Bosco, Gonzaguinha, Edu Lobo e Chico Buarque. À troca de experiências musicais, somava-se uma espécie de consultoria: queriam conhecer o método de fazer sucesso de maneira independente. Tygel nutre carinho especial por um deles:
- O Tom [Jobim] era meu amigo. A gente se encontrava várias vezes. Ele fez uma participação no segundo disco do Boca. Certa vez, o Tom escreveu uma carta de recomendações para eu conseguir uma bolsa de estudos nos Estados Unidos. Era de um carinho incrível. Não ligava para o poder que só os grandes artistas têm.
Em seu apartamento, o músico e professor conserva o manuscrito da carta de recomendações assinada por Tom. Fica exposta num quadro que Tygel fez para “guardar a amizade”. Lembrança de uma das maiores alegrias que a carreira do Boca Livre lhe proporcionou.
Músicas infantis, o novo sonho
A história do Boca Livre começa em 1978, mas a parceira entre David Tygel e Maurício Maestro é bem mais antiga. Colegas desde a época de colégio, fizeram parte do grupo “Momento Quatro”, em parceria com Ricardo Vilas e Zé Rodrix. O quarteto gravou um disco em 1968 que incluía composições de Edu Lobo, Milton Nascimento e Gilberto Gil.
Tygel e Maestro juntaram-se a Cláudio Nucci e Zé Renato para dar início ao Boca Livre. O primeiro disco – lançado de maneira independente – vendeu aproximadamente 100 mil cópias, tornando o “Boca” um fenômeno nacional. Nos trinta anos de carreira, o grupo lançou seis LPs e oito CDs. O primeiro DVD – “Boca Livre Ao Vivo” – chegou às lojas no ano passado.
A lista dos maiores sucessos inclui músicas como “Toada”, “Quem Tem a Viola”, “Ponta de Areia” e “Bicicleta”. Atualmente, o Boca Livre é composto por David Tygel, Lourenço Baeta, Maurício Maestro e Zé Renato. Querem conciliar a volta aos palcos com a gravação de um CD de músicas infantis.
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