Mariana Felisberto* - Da sala de aula
29/08/2012Se hoje o Brasil tem os melhores para-atletas do mundo em diversas modalidades, como a velocista Terezinha Guilhermina, o judoca Antônio Tenório e os nadadores Daniel Dias e Clodoaldo, nem sempre foi assim. Há 16 anos, nas Paraolimpíadas de Atlanta, a delegação brasileira conquistou apenas dois ouros e ficou em 37º lugar no quadro de medalhas.
O progresso é impressionante. Quatro anos depois, na edição de Sidney, o país somou seis ouros, dez pratas, seis bronzes e subiu 13 posições. Em Atenas, em 2004, a delegação foi com 98 brasileiros para a Grécia e voltou com sete bronzes, 12 pratas e 14 ouros. Em Pequim, em 2008, a mídia presenciou um desempenho histórico da equipe brasileira, composta por 188 atletas. O nono lugar no quadro de medalhas veio com 16 ouros, 14 pratas e 17 bronzes.
A cobertura jornalística da conquista do inédito 14° lugar foi fundamental para o desenvolvimento do esporte. O envolvimento dos meios de comunicação revelou números impressionantes: quase dois bilhões de pessoas assistiram a esta edição dos jogos paralímpicos. Só no Brasil, foram 168 horas de transmissão.
– Depois dali veio a credibilidade do esporte paralímpico, veio a admiração, o respeito e ali abriu várias portas para o esporte ser o que é hoje – explica o nadador Clodoaldo Silva, 6 medalhas de ouro em Atenas.
A Paralimpíada – nova grafia da palavra paraolimpíadas que será oficializada no lançamento da logomarca dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 – será realizada em Londres, na Grã Bretanha, entre hoje e 9 de setembro, sendo a 14ª edição do evento. A meta do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) para a competição é ousada. A esperança é chegar ao sétimo lugar.
Para chegar a este nível de desempenho, foram necessários investimentos em modernos centros de treinamento, uso da ciência no aperfeiçoamento dos competidores, patrocínios e a formação de um intenso calendário de competições.
O cenário nem sempre foi este. Antes de 1995, quando foi criado o CPB, os atletas não eram reconhecidos e encontravam dificuldades no início da carreira.
– As condições que os atletas têm hoje são inimagináveis, por exemplo, para quando o Clodoaldo Silva (nadador 13 vezes medalhista paralímpico) e Antônio Tenório (judoca tetracampeão) começaram.
Hoje, existem 271 associações, instituições e escolas espalhadas pelo Brasil que investem no esporte para pessoas com deficiência como ferramenta de inclusão social e ainda orientam para o caminho da competitividade.
Terezinha Guilhermina é uma das atletas beneficiadas pelo avanço do esporte. Velocista cega e recordista mundial nos 100m, 200m e 400m rasos, ela é uma das maiores para-atletas da atualidade. Foi indicada ao prêmio Laureus paralímpico de 2011, considerado o Oscar do esporte. No início da carreira, Terezinha chegou a correr 21 km por um prêmio de cem reais. Hoje, a mineira tem renda mensal em torno de trinta mil reais.
Após conquistar três medalhas em Pequim (ouro, prata e bronze), a velocista faz parte do "Projeto Ouro" lançado pelo CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro), que contempla 14 atletas de elite. Recordista mundial em três provas, a mineira acredita que está no auge da carreira. E o segredo dessa performance está na infraestrutura.
– O Comitê ofereceu todo um suporte científico para trabalhar a minha condição física, tendo respeitadas as minhas características pessoais biológicas – disse Terezinha.
Hoje, o atleta pode construir uma carreira sólida no Brasil. Mas a aquisição de equipamentos importados ainda é um obstáculo a ser vencido.
Prata nas Paralimpíadas de Pequim e bronze no Mundial da Nova Zelândia, em 2011, o velocista Alan Fonteles teve as duas pernas amputadas quando ainda era criança. Desde então começou a usar próteses. Alan tinha apenas um modelo, que chegou a quebrar no meio de uma competição.
Para não correr o risco de ficar sem prótese em um torneio, ele agora tem três pares. Cada uma custa em torno de R$ 50 mil. Para representar o país, ele teria que desembolsar R$ 150 mil, só em equipamentos. Mas por ser medalhista da seleção brasileira, ele não tem custo algum.
Porém, não são todos os atletas que têm acesso a esse incentivo. Os altos preços ainda são obstáculos para o crescimento de algumas modalidades. Este é o principal desafio no Brasil, investir na tecnologia e equipamentos, não só para atletas de ponta, mas, sobretudo para os iniciantes.
* Reportagem produzida para a disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso.
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