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Rio de Janeiro, 4 de novembro de 2024


Cidade

Apito prestes a ecoar, fora do Maracanã, é dos índios

Laís Fernandes * - Da sala de aula

23/10/2012

 Yzadora Monteiro

Após a escolha do Rio de Janeiro para sediar a final da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, a cidade vem se modificando com as obras de edifícios e pontos turísticos. Uma das reformas mais significativas é a do estádio do Maracanã, onde mais da metade das obras já foram concluídas. Mas, na quarta cidade em população indígena urbana do país, vinte índios temem pelo futuro de seu patrimônio cultural.

Antigo prédio do Museu do Índio, o edifício fica na esquina da Radial Oeste com a Rua Mata Machado, a apenas 100 metros do estádio. De posse do Ministério da Agricultura, a área abriga, desde 2006, a Aldeia Maracanã, onde indígenas de diversas etnias, como guajajaras, pataxós e tukanos, vivem em ocas de palha e casebres de alvenaria. Sem acesso ao projeto do estádio, os índios já temiam que o prédio fosse demolido por causa da reforma - anunciada recentemente pelo governo do estado. Segundo o líder da aldeia, Carlos Tukano, de 52 anos, os índios nunca foram procurados para negociar qualquer tipo de intervenção na área e todas as informações que eles têm são as divulgadas pela imprensa.

– A única vez em que nos procuraram foi quando começaram a obra e disseram que teriam que interditar a porta do prédio, mas que abririam outra para a rua principal. Ninguém nunca veio conversar sobre nada.

De acordo com Tukano, o projeto inicial previa a construção de uma passarela que ligaria a Quinta da Boa Vista ao Maracanã e passaria por dentro da área da aldeia, mas a ideia foi vetada devido ao alto custo da obra. O líder acredita que o espaço está nos planos do governo porque ao lado da aldeia será construída a Central de Imprensa para a Copa do Mundo, deixando o prédio entre o estádio e a área que abrigará os jornalistas.

 Yzadora Monteiro O imóvel, que abrigou o Museu do Índio até 1977, quando a instituição foi transferida para o Instituto Superior de Estudos Brasileiros, em Botafogo, está em péssimo estado de conservação. De acordo com o relatório de visita da Comissão Especial de Patrimônio Cultural da cidade do Rio ao prédio, em outubro de 2011, não há mais instalações de água e esgoto disponíveis e o forro e o teto do edifício podem desabar a qualquer momento. Os índios chegaram a morar dentro do imóvel durante três anos, mas o risco de desmoronamento os obrigou a sair e a construírem casas ao redor dele. De acordo com Carlos Tukano, o orçamento para reforma do prédio, que não é tombado pelo patrimônio histórico de nenhuma esfera governamental, ficou em R$ 2 milhões.

Os índios reivindicam o imóvel para a criação de uma universidade indígena, um centro de referência para divulgação da cultura e um novo museu, comandado por eles próprios. Enquanto isso, os moradores da Aldeia Maracanã realizam, no segundo sábado de cada mês, atividades que atraem cerca de 80 pessoas por encontro.

– Acho que deveria haver uma divulgação sobre esse lugar. É triste saber que um prédio que já abrigou o Museu do Índio possa simplesmente desaparecer – afirma a estudante de jornalismo da PUC Yzadora Monteiro, de 21 anos, que descobriu o local durante um engarrafamento na Radial Oeste, ao ver um índio passando de cocar, segurando um saco de pão. Curiosa, a jovem foi até o local para conhecer a cultura da aldeia e está produzindo um documentário sobre a cultura desses indígenas.

Ao longo do ano, a Aldeia Maracanã recebe índios de todo o país, que vêm para o Rio estudar ou trabalhar. De acordo com o Censo Demográfico de 2010, divulgado em abril deste ano pelo IBGE, a população indígena na cidade diminuiu 43% em relação a 2000, quando mais de 15 mil índios moravam no Rio. Hoje, este número não passa de sete mil. 

Os grandes eventos esportivos estão movimentando o setor hoteleiro. Muitos imóveis estão sendo demolidos para a construção de hotéis e antigos edifícios estão sendo reformados, o que vai aumentar o número de estadias disponíveis. Mas alguns projetos ainda não saíram do papel. É o caso do Hotel Nacional, em São Conrado, onde as obras deveriam ter começado em março deste ano, mas a Secretaria Municipal de Urbanismo não sabe informar sobre o início das intervenções no prédio. Já no edifício Milton Santos, no Flamengo, os moradores contestam o perdão de dívidas que a prefeitura do Rio pretende conceder ao Clube de Regatas do Flamengo, dona do imóvel, para que possa ser concluída a negociação com o empresário Eike Batista.

* Reportagem produzida para a disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso da professora Carla Rodrigues no primeiro semestre de 2012.