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Rio de Janeiro, 1 de novembro de 2024


Mundo

Novo presidente francês quer mudanças no controle fiscal

Tiago Coelho - Do Portal

07/05/2012

 Divulgação

A austeridade fiscal é um caminho sem volta para os países europeus, mas a vitória do socialista François Hollande na eleição presidencial francesa trará políticas alternativas nesta área, afirmam especialistas. Eles acreditam que a conexão Paris-Berlim, apesar das posições opostas sobre o corte de gastos e da simpatia da chanceler alemã, Angela Merkel, por Nicolas Sarkozy, candidato derrotado nas urnas no domingo, será mantida porém reconfigurada para equilibrar o interesse dos dois países fundamentais à integração do bloco europeu.

Para o professor Márcio Scalércio, do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, a votação que decidiu a eleição do candidato do Partido Socialista é a velha disputa francesa entre esquerda e direita. O conservadorismo excessivo de Sarkozy ante a crise assustou os eleitores que optaram pelo discurso flexível de François Holland (veja quadro no fim deste texto):

– Desta vez a esquerda se saiu melhor. É preciso lembrar que Sarkozy, para atrair setores conservadores, enfatizou a xenofobia, o nacionalismo mais atrasado. Isso foi ruim, afastou muitos eleitores. Hollande representa o oposto deste tipo de política.

O principal desafio a ser enfrentado pela França é ter uma proposta concreta e viável para a resolução da crise europeia. Uma das reformas que deverá ser feita por Hollande remete à criação de mais empregos. Na teoria, o novo presidente quer “promover o desenvolvimento do país”, mas a medida pretende contemplar os setores populares que lhe garantiram apoio durante a campanha. Assim avalia a professora Elena Lazarou, pesquisadora do Centro de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, que considera inevitável a aproximação entre Hollande e Merkel:

– Holande entrou com um discurso alternativo na questão da austeridade implementada pelo eixo Sarkozy-Merkel, mas agora irá concretizar isso. Esta proposta, porém, precisa ser aprovada de um lado pelo povo francês, mas também necessita ser aceita pelas instituições europeias. A criação de mais postos de trabalho no setor público é uma das promessas de campanha que ele deverá pôr em prática.

Elena acrescenta ainda que não só a França buscará um caminho menos severo para superar a crise econômica. Outros países europeus vão rever os acordos feitos no ano passado pelos países europeus.  

– Outros países, como a Grécia e a Holanda, vão pressionar a Alemanha para renegociar a austeridade fiscal. Nós teremos muito em breve uma pressão grande pela renegociação das políticas acordadas anteriormente pelos países da União Europeia.

Outra política antagônica à de Sarkozy que será adotada pelo novo presidente, que assumirá o poder no dia 15, é a abertura das fronteiras aos imigrantes. Enquanto o primeiro pretendia adotar medidas mais rígidas e excludentes, Hollande dará mais importância a esta questão e terá uma visão mais humanística, como aponta Elena Lazarou:

– Sarkozy tinha o plano emergencial de fechar as fronteiras para imigrantes por um tempo. Isto será diferente no novo que tem uma visão construtiva nesta área de fluxo de imigrantes legais. Ele pretende implementar programas de treinamento do imigrante.

Escalércio observa que Hollande acenará para este assunto pensando na prevenção, e não em políticas de exclusão que beiram a xenofobia:

– No campo da imigração, ele deve promover mudanças com relação à África e ao mundo muçulmano. Deverá promover o desenvolvimento nos países de origem dos imigrantes.

Eleito pelo povo francês com 51% dos votos, François Hollande, do Partido Socialista, discursou em frente à praça da Bastilha reiterando propostas de mudanças que o diferenciam do conservador Nicolas Sarkozy, que perdeu a eleição obtendo 48,3% dos votos.

Aos 57 anos, o 24º presidente da França, o 5º socialista, pretende diminuir as medidas de austeridade fiscal que foram adotadas pelos países da União Europeia como medida para conter a crise econômica.

Para isso, o novo presidente deve contar com a reprovação da Alemanha, que defende a rigidez do controle de gastos. Apesar disto especialistas não veem outra possibilidade para a parceria franco-alemã que não seja a aproximação.

A política de imigração que irá adotar pretende ser cautelosa e conciliadora, diferente das medidas de fechamaento de fronteira de Sarkozy.

O próximo desafio de Hollande é conseguir a maioria no parlamento francês nas eleições que ocorrerão em junho.