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Rio de Janeiro, 13 de outubro de 2024


País

Burocracia dificulta qualificação de mão de obra no exterior

Isabela Castro - Do Portal

25/04/2012

 Arte Jefferson Barcellos

Em viagem aos Estados Unidos no início do mês, a presidente Dilma Rousseff assinou dois termos de cooperação para ampliar o intercâmbio de estudantes brasileiros em universidades americanas. A chefe de Estado, que visitou o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a Universidade de Harvard, pretende incentivar o fluxo de conhecimentos e inovações tecnológicas entre os dois países por meio, sobretudo, do programa Ciência Sem Fronteiras. A ação faz parte de um conjunto de iniciativas estratégicas para diminuir a distância entre a qualificação da mão de obra nacional e as demandas compatíveis com as ambições de sexta economia do mundo.

Especialistas lembram, contudo, que investimentos em setores como rede de ensino pública de qualidade e pesquisa de ponta são igualmente essenciais à capacitação inovadora necessária para impulsionar o desenvolvimento socioeconômico brasileiro. Não menos importante, avaliam, revela-se a desburocratização do intercâmbio.

Apesar do prognóstico positivo, estudantes ainda encontram dificuldades de acesso às principais instituições nos EUA, desde a burocracia pré-viagem até o acolhimento nos campi. Na opinião de especialistas, o acordo para o reconhecimento de diplomas e a simplificação para retirada do visto estão entre as medidas fundamentais ao avanço da formação de brasileiros em universidades americanas.

A estudante de Cinema Fabiana Stetson foi ao encontro do diploma americano. A jovem, que completou apenas um período de Cinema na PUC-Rio, preferiu o curso de dois anos na New York Film Academy:

– Decidi estudar fora porque queria um currículo mais técnico do que teórico. Acredito que estudar na NYFA me qualificou melhor para o mercado de trabalho – justifica.

Elton Marks, criador de site para auxiliar alunos brasileiros nos EUA, pondera, no entanto, que as dificuldades de reconhecimento do currículo externo ainda cruzam o caminho da formação em instituições americanas:

– Os dois governos precisam incentivar a nivelação das instituições. Hoje é muito difícil fazer uma faculdade nos EUA e ter o currículo aceito no Brasil sem que seja necessário fazer matérias adaptativas. Isso desestimula o aluno que, após cursar quatro ou cinco anos de universidade fora, ainda tem que estudar pelo menos mais um ano para validar o diploma – argumenta Marks, que trabalhou por 14 anos no Departamento de Extensão Universitária da Universidade da Califórnia.

A supervisora da Coordenação Central de Cooperação Internacional da PUC-RIO (CCCI), Rosa Marina Meyer, observa que esse tipo de acordo já existe entre o Brasil e a França. Ela também sugere cooperações governamentais para facilitar o processo burocrático pré-viagem:

– A abertura de dias extras dirigida à retirada de visto específico para estudantes e mais datas para a  execução dos exames de Toefl agilizariam muito o processo. A prova é pré-requisito para se estudar em uma universidade americana, e só é aplicada uma vez ao ano dependendo do estado brasileiro.

A burocracia no processo de inscrição também deve ser levada em conta, de acordo com Marks. Ele aconselha enviar os formulários com pelo menos 18 meses de antecedência e observa que o processo "se torna mais fácil" quando o aluno faz o final do ensino médio nos EUA:

– O envio dos pedidos para as universidades deve se feito no mínimo um ano antes, mas recomendo maior antecedência, em torno de 18 a 24 meses antes. Mas se o aluno fizer os últimos anos de colégio nos Estados Unidos, essa burocracia diminui bastante – afirma Marks.

A economista Izabel Leal fez um ano de intercâmbio na Emory University, em Atlanta. Ela recorda as "dificuldades com a papelada":

– A comunicação entre os centros de intercâmbio no Brasil e as universidades americanas ainda é muito complicada. Estudei um ano fora e tive que passar por toda burocracia duas vezes, porque o sistema entendeu que eu ficaria dois períodos de seis meses. Tive que ligar do Brasil diretamente para a universidade para poder resolver melhor.

Outro problema apontado por Marks remete ao "alto custo" das universidades americanas de ponta, que pode ser "agravado" pelas variações cambiais:

– A retomada da moeda americana, que estava enfraquecida nos últimos anos, aumenta o custo de estudar nos EUA, principalmente para a classe média, os mais atraídos pelas universidades americanas.

Para aqueles que não podem arcar com os custos, Rosa Meyer considera que programas financiados pelo governo, como o Ciência Sem Fronteiras, são "ótimas opções" para alcançar uma experiência internacional com preços reduzidos.

Outro enclave é a retirada do visto.  A especialista explica que os trâmites legais são baseados na reciprocidade entre os dois países. Ela considera a política brasileira "muito demorada":

– Se o Brasil leva três meses para conceder um visto para um estudante americano, os EUA agirão da mesma maneira. Com isso, ficamos em desvantagem com relação, por exemplo, à Argentina, que estabeleceu com os americanos uma política facilitadora que dispensa o visto.

Rosa também vê na “cultura americana insular” um empecilho para a formação de estudantes:

– A cultura americana é muito fechada em si, por eles acreditarem que tem o melhor sistema universitário do mundo. Eles não se interessam pelo estudante estrangeiro como nós.

A jornalista Aline Casado estudou um ano na Universidade Estadual de Nova York (SUNY). Ela conta que teve dificuldades em fazer amigos americanos:

– Os americanos não são curiosos com relação ao outro. Além de outros estrangeiros, fiz poucos amigos. Um deles montou, com o apoio da coordenação de intercâmbio, um grupo para estimular os alunos americanos a se aproximarem dos intercambistas. A iniciativa trouxe resultados positivos.