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Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2024


Crítica de Cinema

Oscar consolida diluição de fronteiras cinematográficas

Miguel Pereira * - Do Portal

05/03/2012

 Divulgação

Na madrugada de 26 de fevereiro, foram anunciados os vencedores do Oscar de 2012. Propala-se que é o show de maior audiência da televisão mundial. E certamente é verdade. Cada vez mais a cerimônia da entrega dos prêmios vai assumindo a linguagem televisiva e os esquemas de transmissão são preparados para revestir aquele momento de surpresa, expectativa e atrações espetaculares. Claro que todos ali são atores consagrados e representam muito bem seus papeis, com instruções precisas dos diretores da festa. Mas, como o segredo é a alma do negócio, os produtores de Hollywood são mestres nesse jogo de esconde e revela. Montam as suas estratégias com requintes e cuidados estéticos. Buscam manter a tradição, como linha básica do show, mas inserem sempre algo que possa surpreender os espectadores. Assim, a cerimônia ganha um tom particular a cada ano, renovando-se e fazendo com que o espectador invente comparações com as edições anteriores.

Os indicados deste ano representam, sem dúvida, uma abertura maior para cinematografias não americanas. Na origem, o Oscar era apenas para os filmes hollywoodianos, com a exceção da categoria melhor estrangeiro. Hoje, os indicados são de diferentes procedências, configurando assim uma globalização cultural. Além dessa marca, outra mais importante é a conquista de territórios. O cinema é tão estratégico para o desenvolvimento dos negócios norte-americanos que de vitrine espiritual virou produção material. Não é por outro motivo que essa indústria custou a se reciclar do ponto de vista tecnológico. Só agora as cadeias de cinema dos Estados Unidos foram convertidas quase que totalmente ao digital, com a qualidade que o mercado consumidor exige. Essa cadeia produtiva não poderia ficar restrita a um território. E isso já está refletido no Oscar. O abrandamento das fronteiras nacionais criou novas formas de aliciamento dos negócios, e, não nos iludamos, essa foi a grande marca do Oscar de 2012. De um lado a abertura para cinemas nacionais – Irã, França, Inglaterra, entre outros – e de outro a expansão de um capital e modelo concentrador, como sempre foi o cinema mundial. Só que agora essa estratégia chegou ao Oscar.

Apesar da minha lista de premiações não ser exatamente a mesma dos que votaram nas diferentes categorias, considero que os resultados foram bastante equilibrados. Senti apenas o fato de A árvore da vida, de Terrence Malick, não ter sido agraciado, pois, na minha avaliação é um dos melhores filmes da safra americana recente. Está um pouco na contracorrente da onda dos que usam os efeitos apenas para encantar, sem abrir espaço para um tempo de emoção e reflexão. Isso o filme de Malick tem de sobra. Toca no fundo da sensibilidade humanística contemporânea.

Mas, o Oscar é assim mesmo. Agrada a uns e desagrada a outros. Seu valor está no fato de que permanece como o espetáculo mais aguardado do mundo do cinema, pois na sua calda os negócios se reacendem. Nem sempre o melhor vence.

* Miguel Pereira é professor da PUC-Rio e crítico de cinema. 

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