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Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2024


País

"Novas alianças reforçam ascensão na diplomacia global"

Ana Studart * - Da sala de aula

11/01/2012

 Ana Studart

Em 2002, o então candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva tentava pela quarta vez ser eleito presidente do Brasil. Derrotando José Serra (PSDB), Lula tomou posse em 2003 e governou até 2010, deixando o cargo com Dilma Rousseff, do mesmo partido. Nesses oito anos de governo, o país alcançou mais visibilidade. Reforçou a importância dos Brics (grupo de emergentes formado também por China, Rússia e Índia), tornou-se mais influente em negociações com a América Latina e com o G-20, o conjunto dos 20 países mais ricos do mundo. Com essas mudanças, o Brasil ganhou destaque na diplomacia internacional, porém ainda almeja uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Dos seus quinze membros, os cinco permanentes têm direito a veto e tomam decisões estratégicas, como sanções internacionais e ações militares.         

Segundo o professor de Relações Internacionais na PUC-Rio Diego Santos, a política externa do governo Lula se distingue da política externa de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, que governou o Brasil de 1995 a 2002:

– A política externa de FHC foi caracterizada pela busca de “autonomia pela participação”, ou seja, o Brasil buscava uma adaptação às instituições internacionais e a adesão a normas e regimes internacionais a fim de reforçar laços diplomáticos. Já a política externa de Lula é caracterizada pela busca de “autonomia pela diversificação”, em que o Brasil procurou construir alianças com novos parceiros e reforçar a cooperação com países do Sul a fim de questionar as assimetrias de poder na política internacional – compara o especialista.

Para Santos, os acordos com múltiplos países feitos pelo ex-presidente Lula reforçam o destaque do país no cenário mundial:

– O Brasil reafirma sua posição como emergente e reitera seus objetivos de conquistar a posição de global player a partir da diversificação das relações diplomáticas, incluindo agora parceiros não tradicionais e a maior construção de alianças Sul-Sul – observa o professor.

Segundo Ricardo Salles, professor do Departamento de História da Unirio, o país apresentou uma alternativa ao dilema de aceitar as pressões neoliberais e do governo americano ou de opor-se a essas políticas adotando forte populismo:

– O Brasil mostrou-se atuante de uma forma mais intensa, seja no caso do Haiti, em maior consonância com os Estados Unidos; seja no caso da Venezuela e Honduras, em oposição direta aos Estados Unidos. O sucesso econômico, com uma política social de combate massivo à miséria e à pobreza, também contribuiu para aumentar o prestígio do Brasil – aponta Salles.

Na busca por visibilidade, o ex-presidente Lula acabou, no entanto, tomando medidas controversas. Para Frederico Magalhães Jr, pós-graduado em Relações Internacionais pela PUC-Rio, o apoio ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, na continuação do Programa Nuclear Iraniano, em 2009; o asilo ao presidente de Honduras Manuel Zelaya, também em 2009; e o posicionamento sobre o conflito entre Israel e Palestina “atrapalham” o pleito de uma vaga no Conselho de Segurança Permanente da ONU e fazem com que alguns especialistas vejam o país até com certa desconfiança.

 – Hoje o Brasil tem mais peso nas conversas do G-20 e talvez esse seja o grande diferencial do governo Lula. Em contrapartida, eu diria que houve uma evolução negativa em relação ao protagonismo exagerado e uma flexibilização na defesa dos direitos humanos. O governo brasileiro começou a abrir mão de questões fundamentais ligadas a eles. Essa flexibilização é algo que tem causado até surpresa na comunidade internacional, tendo em vista o histórico de defesa incondicional aos direitos humanos que o Brasil apresentava até o momento – avalia o especialista.

Já Salles acredita que posicionamentos como a defesa de Ahmadinejad não prejudica o Brasil na busca por um assento no Conselho de Segurança da ONU:

– O posicionamento do Brasil em relação ao Irã não atrapalhou nem ajudou na reivindicação de ingresso no Conselho de Segurança. Isso passa por negociações e relações de forças mais substantivas – argumenta.

* Texto produzido para a disciplina Laboratório para Jornalismo Impresso, lecionada pelo professor Arthur Dapieve.