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Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 2024


Campus

Encontro debate na PUC o preconceito racial na moda

Sofia Miranda - Do Portal

22/11/2011

 Ligia Lopes

A exclusão de modelos negros na moda foi a tônica do debate Panorama: a imagem do negro na moda e na mídia, que reuniu o criador e diretor de arte da marca Osklen, Oskar Mesavaht, o presidente da Educafro, Frei David, o fotógrafo camaronês Mario Epanya e a modelo e aluna da PUC-Rio Luana Genót. A mesa-redonda, coordenada pela professora do Departamento de Serviço Social da PUC-Rio Denise Pini da Fonseca, ocorreu segunda-feira no Auditório Padre Anchieta, e fez parte da Etnoafro – III Semana da Consciência Negra, evento realizado pela Cátedra Unesco de Leitura da PUC-Rio em comemoração ao Ano Internacional do Afrodescendente da ONU.

Lançada este ano, a coleção Royal Black da Osklen, inspirada na cultura negra, foi o gancho do debate. Oskar contou que, assim como no catálogo, pretendia fazer o desfile na última São Paulo Fashion Week somente com modelos negros. No entanto, só conseguiu um terço de negros. Oskar acredita que conseguiu criar discussões com a Royal Black.

 Ligia Lopes – Tive a oportunidade de usar a Osklen, que é uma marca conhecida, para mostrar a beleza da raça negra. Eu queria que todos os modelos do desfile fossem negros, mas não consegui. A maioria das agências não disponibiliza o percentual de negros que elas têm, e isso é errado. Eu sabia das críticas que poderia sofrer e que poderia ser mal compreendido. Mas um desfile de moda para mim tem um único propósito: liberdade de expressão. Moda é a expressão de um olhar, de uma simbologia e de uma estética que se comunica com a sociedade. Temos que seduzir a sociedade a achar a cor preta tão bonita quanto a branca – ressaltou o criador da coleção.

Para Frei David, o fato de haver poucos modelos negros nas passarelas representa a exclusão da população negra no mercado de trabalho. O presidente da Educafro citou uma declaração atribuída à estilista Glória Coelho, em 2009: “Na Fashion Week já tem muito negro costurando, fazendo modelagem, muitos com mãos de ouro, fazendo coisas lindas, negros assistentes, vendedoras... Por que têm que estar na passarela?”.

– Isso é inacreditável. A briga do negro no mercado de trabalho e na moda é longa e está só começando. O Brasil é um país que respira e transpira exclusão. É um racismo estrutural. Este ano fizemos um desfile-protesto em frente à São Paulo Fashion Week, para reclamar do pequeno número de negros nas passarelas. Estamos falando de moda, mas essa exclusão acontece em qualquer lugar – denunciou Frei David.

Com auxílio de um tradutor, o fotógrafo camaronês Mario Epanya elogiou a iniciativa da Osklen com a coleção. Idealizador do projeto da Vogue África e criador da Winkler, revista de beleza online dedicada à diversidade da beleza negra, Epanya é o autor das fotos da Glamazônia, exposição que já rodou a Europa e agora está no jardim próximo ao Edifício Kennedy, também dentro da Semana da Consciência Negra.

– Acho muito bom quando uma grande marca lança um produto assim, que ressalte a cultura negra. Dedicarei um ensaio fotográfico à Osklen na Winkler – antecipou o fotógrafo.

 Ligia Lopes A modelo e aluna de Jornalismo da PUC-Rio Luana Génot, também organizadora do debate, contou sua trajetória como modelo e relatou dificuldades para conseguir trabalhos na moda. Para ela, a moda brasileira deve procurar a sua própria identidade, valorizando a miscigenação do povo.

– Temos uma coisa muito interessante que é a miscigenação do nosso povo. Os estilistas têm que ter a liberdade de expressão, mas, a partir do momento em que passarem a valorizar a diversidade, colocando uma negra, uma amarela, uma branca, uma morena, uma japonesa nas passarelas, vão descobrir a verdadeira alma brasileira. A moda vai ser mais democrática. Não vamos mais precisar de cotas nas passarelas, não vamos mais precisar de artifícios que gritem pela igualdade, pois seremos iguais quando absorvermos esses valores. A moda pode evoluir muito no Brasil, e nós podemos ter a nossa própria identidade. Esse é o grande segredo da saída do primitivismo da moda brasileira – opinou Luana.