Gabriela Caesar - Do Portal
28/10/2011Embora a "soberania nacional e o mercado criem cenário conflitoso", a população está consciente de que o estilo de vida precisa mudar, acredita o antropólogo Roberto da Matta. Já a jornalista Sônia Bridi pondera que “não adianta discutir ou culpar quem começou”, mas trocar o modelo de produção. Reunidos na PUC-Rio para o debate “Terra, que tempo é esse?” (assista às partes 1 e 2), nesta segunda-feira (24), com mediação do professor Paulo Ferracioli, do Departamento de Economia, eles reforçaram a importância de um desenvolvimento mais alinhado às demandas ambientais.
O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc (PT-RJ), acrescentou que a negociação com grandes empresas, como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), deve incluir o acompanhamento de tecnologias que possam não só diminuir as agressões ambientais, mas também resguardar a saúde dos trabalhadores. Ainda em relação a tecnologias "ecologicamente corretas", Sônia Bridi afirmou que o estado do Rio "erra ao se decidir por ônibus, em vez de veículo leve sobre trilho".
Diante dos aproximadamente cem estudantes que acompanhavam o debate no auditório do RDC, Roberto da Matta destacou que a mudança para um estilo de vida mais saudável e comprometido com o ambiente revela-se igualmente importante para combater outro problema, segundo ele, agravado pela globalização: a obesidade mórbida, que dá origem ao neologismo “globesidade”. Para diminuir o avanço da doença, que aumentou em um terço na China, o antropólogo é categórico ao propor um padrão social menos consumista.
Usina de contrastes e um dos principais lubrificantes do consumo mundial, a China encara o desafio de reduzir as faturas ambientais – alvo recorrente de críticas em fóruns internacionais – e de saúde. Para Sônia Bridi, a locomotiva da economia global investe no longo prazo:
– Até 2020, a China terá 20 mil quilômetros de trem bala. Eles estão preocupados com isso, porque a qualidade da saúde deles está piorando muito.
O trilho do desenvolvimento responsável não passa necessariamente por grandes investimentos. O diretor do Núcleo Interdisciplinar do Meio Ambiente (Nima), Luiz Felipe Guanaes, lembrou que iniciativas como a coleta seletiva, implantada em junho deste ano (leia mais) no campus da PUC-Rio, também aproximam o cidadão de um maior compromisso ambiental e social. Outra oportunidade de a "comunidade se engajar na causa", lembrou ele, será o encontro de pesquisadores e especialistas na universidade em 2012, para a Rio+20, em parceria com a ONU (leia mais).
Sônia também contou bastidores da série de reportagem “Terra, que tempo é esse?” – que mostrou os avanços do aquecimento global e nomeou o debate. No Peru, ela e o repórter cinematográfico Paulo Zero (foto) notaram o impacto no cotidiano, até em rituais.
– Num determinado dia, próximo à festa do Corpus Christi, confrarias do país inteiro sobem certa montanha e colhem blocos de gelo. Tiveram de mudar o ritual, que vem do tempo dos incas, incorporado pelo cristianismo. Eles pararam de tirar gelo.
Paulo Zero admite que a produção jornalística, atrelada ao cumprimento de prazos "curtos", dificulta o tratamento do assunto. Outra barreira, diz Paulo, pode ser a logística. Para a reportagem na Groelândia, por exemplo, ele e Sônia navegaram por seis horas até chegar à ilha. Se o trajeto atrapalhou, a sorte foi uma aliada.
– Chegamos à geleira e, em cinco minutos, caiu um grande bloco de gelo. Ficamos mais três horas lá e não caiu mais nenhum pedaço de gelo. Ou seja, estávamos na hora certa e no lugar certo – contou o cinegrafista.
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