Ministro da Saúde e um dos principais interlocutores de João Goulart, o médico e político Wilson Fadul, morto no último dia 18 de outubro, aos 91 anos, participara um mês antes de um encontro pelos 50 anos da posse do ex-presidente, que reuniu familiares e ex-colaboradores de Jango no Instituto Cravo Albin, na Urca. Na reunião, um de seus últimos compromissos públicos antes de ser internado no Hospital São Lucas, onde faleceu de insuficiência cardíaca, Fadul (no centro da foto, entre Waldir Pires e a viúva Maria Thereza Goulart) elogiou Jango fortemente e recordou passagens históricas, registradas pelo Portal.
– João Goulart lutava para salvar as instituições. As pessoas passam, mas as instituições devem permanecer, pois são elas que fazem com que a história exista e todos os cidadãos possam respeitá-la – defendeu Fadul, que abriu o encontro falando de sua relação com o presidente.
Admirador de Jango, Fadul recordou reuniões e episódios marcantes envolvendo o presidente e seu "caráter digno", que testemunhou ao longo de mais de uma década de convivência. O ministro disse considerar injustas as acusações de que Jango fosse um revolucionário e que pretendia dissolver o Congresso.
– Pelo contrário, sou testemunha de duas ocasiões em que ele o defendeu e salvou – afirmou. A primeira teria sido após uma conversa com o general Amaury Kruell, informando que, como o governo não conseguiria implantar as reformas pretendidas, já estava tudo certo dentro da cúpula do Exército para dissolver o Parlamento e convocar de imediato uma Constituinte.
– Jango ficou calado. Quando ficamos a sós, me perguntou o que eu achava. Disse que se tratava de uma loucura, pois havia assumido o poder em nome da legalidade. Kruell não era político e queria fazer de qualquer jeito. Jango concordou comigo e falou: “O general que assumir o comando demorará 20 anos para sair do poder”. Então, ele defendeu o Congresso e o salvou pela primeira vez – relatou.
A segunda vez ocorreu em setembro de 1962. Jango chamou Fadul ao Rio e mostrou-lhe um documento assinado pelos três principais comandantes das Forças Armadas, entre eles Jair Dantas Ribeiro, que dizia não ser possível manter a Constituição vigente num território como o Brasil e exigia um plebiscito para o dia 7 de outubro – que seria realizado apenas em janeiro de 1963. “Jango, mais uma vez, defendeu de tal maneira o Congresso que chegou a pedir que seu primeiro-ministro se demitisse para forçar a queda do ministro da Guerra, que se opunha”, destaca Fadul.
Eleito para o terceiro mandato em 1962, Fadul licenciou-se em 1963 da Câmara dos Deputados para assumir o Ministério da Saúde. Realizou em sua gestão uma pesquisa sobre a indústria farmacêutica no Brasil, que levou o governo federal a tomar medidas para defender a indústria nacional de medicamentos, proibindo a importação de matéria-prima a preços fora da concorrência e incentivando a implantação de uma indústria química de base.
Consumado o golpe militar de 1964, foi demitido do Ministério da Saúde e voltou à Câmara, mas teve o mandato cassado e os direitos políticos suspensos por dez anos pelo Ato Institucional nº 1 (AI-1). Ajudou a fundar a Frente Ampla, resistência democrática à ditadura, sendo o interlocutor de Jango no exílio. Com a decretação do AI-5, Fadul foi para França, estudar Filosofia. Aprovada a anistia, o fim do bipartidarismo e a consequente reformulação partidária, em 1979, retornou ao Brasil, participou com Brizola da fundação do PDT.
O documentário Tancredo, a travessia, de Silvio Tendler, que estreia nesta sexta, documenta este período da história nacional, e narra um episódio prosaico envolvendo o petebista Fadul e o político mineiro, antes que se tornassem ministro da Saúde e primeiro-ministro de João Goulart. Depois da renúncia de Jânio Quadros à Presidência, enquanto se negociava a posse de Jango com setores militares, o vice-presidente voltava da China em uma viagem cheia de escalas pela América Latina, aguardando o rumo dos acontecimentos. Tancredo decide ir ao Uruguai, última parada do retorno de Jango ao Brasil, para conversar com o vice-presidente. O PTB, partido de Jango, exige que Wilson Fadul vá participar da conversa como representante do partido. Só que, quando Fadul chega ao aeroporto, o avião de Tancredo já havia decolado.
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