Thaís Bisinoto e Igor de Carvalho - Do Portal
28/09/2011Nada de Copa ou Olimpíada. Para o jornalista e professor da PUC-Rio Sidney Rezende, o grande legado do Brasil será a "inteligência". Ao abrir a segunda etapa da Semana de Comunicação Social do Centro de Estudos de Pessoal e Forte Duque de Caxias, no Leme, terça-feira, com a palestra Tendências da mídia brasileira e internacional rumo a 2030 (Rádio e internet), ele se disse “absolutamente otimista” em relação ao país, especialmente sobre a matriz energética. Já em relação ao futuro do jornalismo, revelou-se apocalíptico: "O jornalismo como conhecemos morreu".
Embora tenha exaltado o potencial brasileiro, sobretudo na área energética, o jornalista ressalvou que o país deve investir mais na "inteligência" e "amadurecer como nação" para aproveitar melhor, por exemplo, as riquezas da biodiversidade. Ele afirmou que “hoje o poder está na inteligência, não mais nos produtos”.
– Temos que parar um pouco e pensar que nem tudo é festa, que nem tudo é bacana – alertou. – O que faríamos se, em meio a uma crise energética, países da América Latina pedissem nosso petróleo, sob a justificativa de sermos parceiros econômicos?
Para o fundador do sítio de notícias SRZD, o jornalismo seguirá estratégico aos avanços sociais, econômicos, democráticos. Mas a forma e a função jornalísticas serão outras:
– O jornalismo e o jornalista, na função como a conhecemos, acabaram. Hoje, qualquer um pode ser uma espécie de jornalista – ponderou Sidney, referindo-se ao volume crescente de conteúdos informativos produzidos nas redes sociais e por usuários ("colaboradores") das mídias tradicionais.
Ele ressaltou a importância do olhar crítico inerente ao jornalismo para amadurecer reflexões e transformar discursos em “atitudes de coragem” contra a soberba – em diversas áreas, inclusive na imprensa. “A imprensa, assim como os brasileiros, não gosta de críticas”, reconheceu o palestrante. Sidney comparou o papel do jornalista ao do garçom, que “está ali para servir, acima de tudo”.
Na avaliação dele, o avanço tecnológico causará mudanças significativas no mercado. No de comunicação, tais alterações passam, por exemplo, pelo desenvolvimento de recursos como o robô Monkey, criado para narrar matérias "frias" (sem conexão com fatos da hora) para os jornais.
O jornalista mostrou-se preocupado com a "falta de educação digital nas escolas brasileiras". Segundo ele, os alunos não sabem que “aquilo que entra na rede não sai”, e dá exemplos de meninas que ficam nuas na web e, depois, enfrentam problemas para conseguir emprego. Ele reforçou a importância da seriedade no uso do mundo virtual, pois “tudo pode estar em rede”.
Falando à plateia formada majoritariamente por membros do Exército, Sidney defendeu que as Forças Armadas devem pensar melhor as questões antes de comunicá-las à sociedade, seguindo três passos: identificação da questão, investigação e debate em grupo.
Os desafios para o comunicador no século XXI
À tarde, o publicitário Lula Vieira e o jornalista Alex Escobar foram os convidados a debater sobre O profissional de comunicação do século XXI. Nas palestras, a questão das novas tecnologias voltou a merecer destaque. Ambos destacaram a constante mudança dos parâmetros da comunicação e o aumento da interatividade, em plataformas diversas. Além das preocupações tradicionais com o conteúdo, o novo profissional de comunicação precisa hoje estar mais atento às informações e à forma de lidar com o público que consume produtos jornalísticos ou publicitários.
– Lembro-me de desejar ter vivido na época das grandes navegações. Mas percebi que posso ter a mesma sensação trabalhando com comunicação. Ela está sempre mudando, todo dia pela manhã descobrimos algo novo – comparou Lula Vieira.
Ex-cantor, comissário de bordo e locutor de rádio, o atual apresentador do Globo Esporte Alex Escobar afirmou que os programas de TV locais precisam se adaptar a uma nova realidade: a do aumento da classe C. A partir disso, esses profissionais precisam focar suas estratégias para entreter esse público:
– As pessoas querem se ver na televisão. É preciso levar intimidade para as pessoas que assistem aos programas hoje.
Nesse mesmo sentido, a publicidade deve saber dosar a escolha das maneiras de atingir determinado consumidor. Segundo Lula Vieira, sua experiência no teatro (ele está em cartaz em Lula contra o mau humor, no Shopping da Gávea) serviu para ajudar a entender o público:
– Se há um produto que atinge um nicho muito específico, não há motivos para utilizar os meios de comunicação de massa. Temos uma quantidade imensa de mídias para lidar com grupos pequenos de pessoas.
Escobar afirmou que os jornalistas de hoje precisam reconhecer a função do esporte dentro de um programa jornalístico, que é entreter o espectador, além de servir como escape de notícias mais densas, que envolvam acidentes e mortes. Para isso, ele acredita que a principal revolução para os apresentadores de televisão é o de serem eles mesmos, diferentes de um modelo pronto, que atrai muito mais as pessoas.
– Não podemos deixar de passar as informações, mas é preciso ter momentos para relaxar, para brincadeiras. Saber o que o povo quer ouvir e propor uma forma diferente de lidar com isso, o que tem sido cada vez mais feito na televisão.
A Semana de Comunicação “Mídia e profissional de comunicação rumo a 2030” foi aberta pelo chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, General Barcellos. Mesmo com uma queda de energia, o general deu prosseguimento à apresentação, no escuro. Barcellos falou sobre a relação entre a comunicação e o trabalho do Exército. Ele citou as redes sociais como “ferramentas absolutamente positivas” e acrescentou que houve grande aumento no número de acessos à página do Exército com esse advento.
A programação segue até quinta-feira, quando haverá palestras com o jornalista da Rede Globo Zeca Camargo, às 9h; com o diretor da Central Globo de Relações com o Mercado e presidente do Conar, Gilberto Leifert, às 10h30; e com os professores Ricardo de Castro, da FGV, Carlos Alberto Messeder, da ESPM, e Gabriel Collares, da UFRJ, às 13h.
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