Apesar de ter sido amplamente curtida e compartilhada nas redes sociais, hoje o principal meio de comunicação da juventude, a Marcha contra a Corrupção realizada na última terça-feira, 20, na Cinelândia, contou mesmo foi com a adesão de cabeças brancas. Na praça, veteranos de grandes protestos estavam entre os 2,5mil manifestantes presentes ao ato, de acordo com a Polícia Militar (os organizadores do evento calculam 5 mil manifestantes).
A enfermeira Lucinéia Barbosa arrisca já ter ido a mais de cem manifestações ao longo de seus 60 anos de vida. Lucinéia começou a participar ativamente da política aos 15, e chegou a Brasília para lutar por suas ideias durante os anos de chumbo. Ela atribui a este período autoritário a apatia dos jovens de hoje na vida cívica, já que se perdeu a liberdade de expressão e, logo, o hábito de protestar. Mas, para a enfermeira, a participação política é pequena em todas a gerações.
- Eu acho que a diferença é que no passado a gente tinha mais amor pelo nosso país. Largávamos tudo por uma causa. Hoje em dia as pessoas ficam dentro de casa vendo o que vai acontecer. A luta é vir, mesmo que só venha uma ou duas pessoas. Temos que começar de alguma maneira.
O engenheiro Paulo Guerra, de 62 anos, participava ontem de sua segunda manifestação. A primeira foi o Diretas Já, na mesma praça, em 1984. Para ele, o maior problema do país atualmente é a “corrupção generalizada”. Segundo o engenheiro, muita coisa mudou desde que pisou na Cinelândia para lutar pelo direito ao voto direto, como a participação dos jovens na política, hoje menor.
- A única coisa que não mudou é a indignação, que é a mesma – acredita Guerra.
O servidor público Umberto Aveiro, de 47, também lutou pelo direito ao voto direto em 1984, e vê diferenças entre o presente e passado na política nacional. Costuma participar de marchas por causas ecológicas, tendo participado da fundação do Partido Verde:
- Vejo duas diferenças: hoje não há apoio de sindicatos, movimentos estudantis ou partidos políticos. É uma situação triste que esses movimentos estejam amordaçados por benesses financeiras do governo atual. Outra diferença é a internet, que possibilita a mobilização das pessoas, passando de certa forma por cima dessas organizações que não estão aqui.
Já para a instrumentadora cirúrgica Laercy Moraes, de 75, o baixo número de jovens presentes é um sintoma de desinteresse da geração por política.
- Não vejo jovem nenhum aqui, eu fico horrorizada. Minha filha sempre tomou parte de tudo, por exemplo, assim como meu filho. Os jovens estão à parte de tudo. Talvez seja pela internet, porque eles ficam o dia todo na rede. Eu vejo por um neto, que é totalmente desinteressado por política. Ele diz que não quer nem saber.
A assistente social Orquídea Lara, de 72 anos, chama a atenção para a ausência de organizações estudantis. Ela diz ter visto a União Nacional dos Estudantes (UNE) passar do papel de guerrilheira para aliada do governo atual, alheia à realidade brasileira. E acusa a instituição de estar submissa ao governo, graças a benefícios como a verba de R$44 milhões recebida para a reconstrução da sede da instituição, no Flamengo, e o patrocínio do 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado em julho passado, em Goiânia. O encontro foi o maior realizado pela entidade até hoje, ao custo de R$ 44 milhões. Entre os patrocinadores estavam empresas estatais como a Petrobras.
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