Uma parceria foi firmada entre o governo federal e a Cátedra Unesco de Leitura da PUC-Rio com a missão de formar leitores no país, que ainda sofre com o analfabetismo e a escassez de cultura. Inspirado no modelo Médico de Família, o projeto Agentes de Leitura levará mediadores com mochilas cheias de livros às casas de famílias pobres em todo o Brasil. A expectativa é que, até julho de 2012, 78 mil famílias sejam visitadas por cerca de três mil jovens agentes capacitados para difundir o hábito de ler entre a população. O projeto tem apoio financeiro e logístico dos ministérios da Cultura e da Educação, e aplica metodologia da Cátedra de Leitura da PUC-Rio para preparação dos agentes e seus formadores.
Em todo o Brasil, jovens, entre 18 a 29 anos, devem ter o Ensino Médio completo e passarão por um concurso, que inclui prova escrita, oral e entrevista. Jovens cujas famílias recebem o Bolsa-Família terão prioridade. Receberão uma bolsa de R$ 350 por mês, relativa a 25 horas semanais de trabalho. A meta é que atendam 25 famílias de suas próprias comunidades – selecionadas entre as de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e com altos índices de violência. Os candidatos a agentes de leitura no Estado do Rio têm até o dia 5 de novembro para fazer a inscrição (mais informações no site da Secretaria de Cultura).
Os formadores são pessoas com experiência no estímulo à leitura, como professores, bibliotecários e atores. Cada estado seleciona estes profissionais, que se reúnem durante cinco dias na PUC-Rio. Nestes dias, são ministradas oficinas para que preparem os agentes de leitura de acordo com a metodologia do projeto. O projeto Agentes de Leitura faz parte do programa Mais Cultura, do governo federal, que oferece aos municípios opções de projetos culturais a serem financiados pelo MinC. As prefeituras devem dar uma contrapartida financeira. Além do Agentes de Leitura, as cidades podem optar pela modernização de bibliotecas, pela criação de museus ou salas de cinema, entre outros. No caso do Agentes de Leitura, o governo federal é responsável por 60% do investimento e o governo do estado, pelos 40% restantes.
Segundo a professora Nilza Rezende, responsável pelo projeto na Cátedra de Leitura, lidar com a burocracia de tantos estados é um dos maiores desafios do projeto. Acre, Bahia e Rio estão entre os que já lançaram editais para a seleção de agentes.
A grandiosidade do país impõe outra responsabilidade: apresentar visões que respeitem as diversidades culturais de cada região. Por esse motivo, metade dos livros distribuídos aos agentes será de literatura local. Assim, as famílias nordestinas poderão conhecer um pouco mais sobre o cordel, e o Rio de Janeiro terá uma literatura mais pop e urbana.
Precursora do projeto no CE trabalha na Cátedra O projeto, que agora se estende para todo o Brasil, foi implantado inicialmente no Ceará em 2005 pelo então secretário de Cultura do estado, Fabiano dos Santos Piúba, atual gestor da Diretoria de Livro, Leitura e Literatura do Ministério da Cultura. Carmélia Aragão, de 28 anos, foi testemunha do avanço do projeto. Entre 2008 e 2010, Carmélia trabalhou com o projeto no estado nordestino. Há seis meses assessora o Agentes de Leitura na Cátedra e pretende fazer doutorado na PUC-Rio.
– No Ceará, era muito comum as famílias dizerem que os filhos melhoraram o desempenho escolar. Vimos também que as pessoas mudaram sua vida social, passaram a participar de movimentos, a falar mais. Tiveram uma sociabilidade que não tinham, porque o mundo era muito restrito. A leitura nos ressignifica – afirmou a doutoranda.
Carmélia diz que em sua infância nunca havia visto uma preocupação tão grande com a leitura. Ela destaca que os programas pela leitura no passado não traziam a figura do mediador, que é o carro-chefe do projeto. Para Nilza Rezende, a cultura está cada vez mais se tornando uma política de estado:
– O governo está percebendo que não dá para ter um país democrático, moderno e sustentável se as pessoas tiverem uma qualidade de vida ruim. É uma questão de mais justiça social, mais equilíbrio. Eu acredito que o governo está trabalhando para isso, apesar de estarmos atrasados. É um trabalho de formiga, e o investimento, apesar de ser bom, pode ser considerado de formiga também, se compararmos com o investimento no petróleo. Está se percebendo que é um atraso – atesta Nilza.
A preocupação com a qualidade de vida é um dos critérios para o investimento nos municípios, assim como os altos índices de violência. Na cidade do Rio, seis favelas receberão os agentes. No estado, participarão 16 cidades, entre elas São Franciso de Itabapoana e Cardoso Moreira, em penúltimo e antepenúltimo lugar no ranking do IDH do estado em 2000. No Rio, os agentes deverão começar a visitar as favelas no fim de janeiro do próximo ano.
Criada em 2006 com o fim de desenvolver projetos relacionados à leitura e à literatura, a Cátedra de Leitura, contratada para o projeto por meio de convênio, fez a seleção dos livros e as provas a serem aplicadas aos agentes. A Unesco financia o centro de pesquisa, enquanto a PUC-Rio oferece apoio logístico, como funcionários e espaço.
A continuidade do projeto depende do apoio financeiro e da vontade política por sua manutenção. O convênio entre a Catédra de Leitura e o governo federal expira em julho do próximo ano, mas pode ser renovado. Já o contrato entre os agentes e os estados é de um ano, ou seja, termina de acordo com as diferentes datas de início nos estados.
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