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Rio de Janeiro, 1 de novembro de 2024


Mundo

Casal lembra como o 11 de Setembro derrubou um sonho

Caroline Hülle - Do Portal

09/09/2011

 Jefferson Barcellos

Fora os mais de 3 mil mortos, os incontáveis traumas, a polêmica guerra no Iraque, o convívio mais frequente dos americanos com o estado de tensão, e consequências menos visíveis, aquele 11 de setembro de 2001 assombrou pequenas rotinas e certezas. Quando as torres do World Trade Center queimavam, moradores e visitantes buscavam uma explicação para o inferno sem precedentes. Entre a perplexidade e o medo, buscavam abrigo na Nova York atingida no coração e na alma. Lutavam também contra a sensação de que a vida jamais seria a mesma. Assim o empresário americano William Lawrence, de 53 anos, foi recebido na cidade natal, onde passaria a lua de mel com a brasileira Maria Cristina Skowronski-Flynn, de 39 anos. A aflição deles, contada ao Portal pela própria Maria Cristina, representa o estrago que fez e que faz o terror aos sonhos de tantos anônimos mundo afora.

Lawrence desembarcara em Nova York minutos antes do ataque às torres gêmeas. Como quase todos os habitantes do planeta, desconhecia os sequestros dos quatro aviões que orquestraram o maior atentado terrorista da História. A mulher havia ficado no Brasil, para resolver problemas com a renovação do visto. A lua de mel teria de esperar um pouco mais. Ao ser surpreendido por estrondos e cenas apocalípticas, Lawrence percebeu que o sonhado programa haveria de ser adiado sabia-se lá por mais quanto tempo.

Ainda no táxi, o americano testemunhou a segunda explosão. No inicio, achou que era apenas um incêndio, desses comuns na cidade. Mas as explosões aumentaram, e as pessoas na rua, desesperadas, revelaram a gravidade dos fatos. Com a cidade paralisada, Lawrence saiu do táxi na entrada de Manhathan.

Carregava nas seis malas todos os presentes do casamento. Apesar da pânico predominante, ele encontrou equilíbrio para entrar em uma loja de material de construção e comprar um carrinho de carga parecido com os usados em hotéis. Lawrence passaria as seis horas seguintes empurrando um enorme carrinho no meio da correria que aproximava as ruas da metrópole da ficção hollywoodiana, ninguém notaria. 

Difícil afirmar que a angústia do empresário, no olho do furacão pronto para mudar os rumos do mundo, era superior à da mulher, a quilômetros. Ainda no Rio, Maria Cristina teve o café da manhã interrompido pela notícia de que o endereço da lua de mel sofria ataques terroristas. Desesperou-se ao saber que alguns aviões poderiam estar sob o controle de sequestradores.

– Uma tia me avisou para ligar a TV. Foi quando vi a primeira torre pegando fogo. Fiquei desesperada, porque era exatamente a hora em que ele estava chegando a Manhathan – lembra ela. 

 Arquivo Pessoal

Angustiada, ligou para o primo Marco Maciel, então vice-presidente do Brasil. Tranquilizou-se um pouco ao ser informada de que o marido "já estava em solo". Apesar da notícia, Maria Cristina continuou aflita até o inicio da noite, quando finalmente conseguiu conversar com Lawrence.

Resolvido o problema do visto, passagem para Nova Yorque comprada, era hora de voltar ao plano da lua de mel. O desejo coincidia com os esforços da metrópole que nunca dorme em recuperar o orgulho e a rotina. Pois o programa seria adiado novamente. Uma pane no avião em que Maria Cristina viajava adiou em um dia o reencontro do casal. Quando, enfim, chegou a Nova Yorque, o cartão de visitas apresentou-lhe a dimensão da tragédia:

– Enquanto sobrevoava a cidade, vi uma nuvem de poeira e um buraco enorme. Parecia realmente que uma bomba tinha caído lá. Isso foi a pior coisa que podia ter acontecido. A cidade ainda estava desorientada, e havia um cheiro horrível no ar – recorda.

 Arquivo Pessoal

Maria Cristina e Lawrence conviveriam ainda por um bom tempo com a desolação na cidade que escolheram para morar. A lua de mel oficial seria consumada dois anos depois. Eles aproveitaram o casamento de uma amiga para passear por França e Itália, e tornar a cicatrização daquele 11 de setembro menos lenta e doída.

– O ano após os atentados foi de muita tristeza – relembra Maria Cristina – Não tive a chance de curtir meu casamento. A impressão é que eu me casei e fiquei triste.

Ela e o marido Lawrence integram o grupo de americanos que se empenharam, dia a dia, em reconstruir o cotidiano derrubado junto das torres gêmeas. Uma tarefa dificultada por problemas como a contaminação de vizinhos por substâncias suspensas pela poeira do terror.