Em relação ao mercado automobilístico, o consumidor brasileiro está mudando de hábito e passando a optar por modelos com motor de maior capacidade. Números divulgados no início de agosto pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), que representa as revendedoras e é responsável pelos emplacamentos, revelam que a venda de carros com motor acima de 1.0 até 2.0 cresceu quase 16% de janeiro a julho deste ano, passando a responder por 51,4% do mercado. Com isso, ultrapassaram os modelos com motor 1.0, os chamados “populares”, que tiveram queda de 3,77% no período e passaram a representar 47,5% do mercado. Para o presidente da Fenabrave, Sérgio Reze, os dados indicam um “aperfeiçoamento do consumidor”, em dois aspectos: no sentido de ter melhores condições financeiras – fruto do crescimento da economia – e pela capacidade de discernir melhor e buscar daquilo que deseja.
– Se o desempenho da economia continuar a valorizar a renda do consumidor, a possibilidade de comprar financiado com prazos longos também permanecer e a oferta de modelos seguir crescendo, a tendência é que a diferença entre 51,4% e 47,5% só aumente nas próximas pesquisas – afirma Reze.
O uso dos automóveis também sofreu mudanças que influenciaram as vendas do setor, acredita o consultor de mercado automobilístico Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive. Para ele, a maioria das pessoas que estão comprando veículos não somente o utilizam para andar em perímetro urbano:
– Estão pegando mais estrada e necessitam de outros equipamentos como direção hidráulica e ar-condicionado. Isso fica muito pesado num carro com motorização 1.0, que acaba perdendo rendimento. Não que o mercado esteja mais amadurecido; ele só está procurando coisas que satisfaçam mais as necessidades do consumidor.
Garbossa aposta que os modelos 1.0 terão seu uso concentrado basicamente em centros urbanos, por frotistas que utilizam o modelo “mil” no transporte de funcionários, por exemplo, enquanto os veículos acima de 1.0 serão o modelo adotado por consumidores que têm família e vão usá-lo tanto para trabalho como lazer.
A estudante do 3º período de Comunicação Social da PUC-Rio Stéfani Meireles Ramos encaixa-se no perfil descrito pelo consultor. Como três pessoas da família utilizam carro, e seu irmão pega estrada algumas vezes, optaram pela troca do Fiat Uno 1.0 por um Gol 1.4. Stéfani reconhece que dentro do perímetro urbano não considera necessário um motor com mais potência do que 1.0:
– No entanto, existem situações em que a potência do modelo 1.4 se torna válida mesmo dentro da cidade, como arrancar numa situação de insegurança.
Do ponto de vista do consumo, Stéfani afirma que sua mãe é “muito ligada em economia e não hesita em reclamar quando se gasta mais do que o devido". Mas não reclama da despesa maior em relação ao antigo Fiat Uno 1.0 da família.
Para o diretor de vendas da Jato Dynamics do Brasil João Carlos Rodrigues, um motivo resume o atual momento da indústria automobilística, revelado pelos números da Fenabrave: o financiamento em longo prazo.
– O fato de o consumidor migrar do carro 1.0 para 1.4 significa que ele está com poder aquisitivo relativamente bom. Ele consegue absorver essa diferença (em torno dois mil a três mil reais, variando conforme o modelo) nas suas despesas mensais e tem um produto com rendimento melhor. Não tem nada a ver com questões socioeconômicas; apenas o financiamento é que faz a diferença – argumenta Rodrigues.
Para Rodrigues, nada indica que carros com motores mais potentes se tornem carros ditos “populares” no futuro. Até porque, segundo ele, esse termo é pejorativo, “pois de popular os modelos 1.0 têm muito pouco”.
– Pelo contrário, a capacidade do motor não influi no batismo de popular – endossa.
Gerente de vendas de uma concessionária da Renault em Botafogo, Jorge Saldanha garante que os carros populares continuam sendo os modelos 1.0. Ele afirma que, ao se interessarem pelos modelos 1.6, as pessoas procuram justamente se inserir em outra categoria. Ou seja, “sair do popular”.
Saldanha, que só trabalha com modelos 1.0 e 1.6, revela números que afirmam a ascensão dos motores mais capacitados:
– Há uns cinco anos, a proporção era de 70% a 80% de carros 1.0 vendidos. Hoje, pedimos 50% de cada.
O futuro do 1.0
A queda do consumo dos modelos "mil" leva especialistas do setor a traçarem prognósticos.
– No máximo no triênio 2020/2021/2022 os veículos 1.0 no Brasil devem cair a 25% ou 30% do mercado. Claro, é apenas uma modesta estimativa, mas, pelo que se observa, é isso que deve acontecer – opina Garbossa.
O presidente da Fenabrave concorda com o consultor, mas ressalta que esse modelo jamais acabará, “pois sempre terá seu mercado”. E especula:
– Poderá inclusive haver o aperfeiçoamento desses motores, fazendo com que sejam tecnologicamente mais avançados, o que poderia gerar mais economia e, consequentemente, fazer com que o consumidor volte a optar pelos modelos 1.0. Mas isso é coisa para um futuro distante.
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