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Rio de Janeiro, 5 de maio de 2024


Cidade

Tradição no samba, Mangueira prepara nova safra de talentos

Caio Lima e Caroline Hülle - Do Portal

25/07/2011

Stéphanie Saramago

A Mangueira respira um novo cenário. Enquanto aguarda os avanços socioeconômicos sonhados com a implantação da 18ª Unidade de Polícia Pacificadora, no mês passado, a comunidade (veja ensaio de fotos) se apega à tradição para cultivar seus talentos. A reportagem do Portal PUC-Rio subiu o morro para ver se a "pacificação" já revigora os sucessores de, entre outros bambas, Cartola e Nelson Cavaquinho(reportagem do rádio relembra o legado musical desse berço do samba). Encontrou uma comunidade em adaptação, entre o comedimento e a esperança. “Gostamos de festa, mas agora cada um fica na sua”, revela uma moradora. 

Ainda frágil em relação à fase inaugurada pela UPP, a confiança desabrocha quando falam da nova safra de artistas. Para dourá-la, representantes da Velha-Guarda transmitem à garotada conhecimento, manha, sabedoria. Caso, por exemplo, do antigo mestre-sala Hélio Laurindo da Silva, o Titio Delegado. Juntos, velhos e novos talentos, embalam a programação cultural que atrai visitantes até de fora do país. 

Um dos pilares que reafirmam a tradição artística é Rafael Eike, de apenas 13 anos. Esperto, falante e com pinta de quem sabe o que diz, o garoto participa ativamente de projetos comunitários. Prestigiado pelos mais velhos, já puxou samba-enredo, no Palácio do Samba, em festas abertas. Mestre de bateria da escola mirim Mangueira do Amanhã, também compôs duas músicas. Uma delas tornou-se uma espécie de “hino” do Instituto Sociocultural Batuque Favela Mangueira.

Apesar da pouca idade, Rafael chama a atenção pelo discurso consciente. O amadurecimento de quem logo cedo optou pelo samba como passagem para uma vida melhor:

 Stéphanie Saramago – Eu posso buscar um futuro melhor. Essa é mensagem que quero passar aos outros. Se eu acredito, por que não vou conseguir?

Sem falsa modéstia, Rafael quer se tornar uma inspiração para os que vivem em áreas de baixa renda. Como, segundo o jovem sambista, é o jogador Adriano, do Corinthians, quanto à prosperidade. “Não pelas besteiras que ele cometeu depois de famoso”, ressalva.

– Meu sonho é ser bom na composição de músicas, cantando e tocando na bateria da Mangueira. O meu avô Antônio já compôs músicas para a escola e eu vim para resgatar a memória dele – orgulha-se o menino.

Celso Peres, coordenador pedagógico do Batuque Favela, tem a missão de estimular a vocação musical das crianças do morro. Acredita que, assim, elas renovarão a cultura verde-e-rosa. A iniciativa inclui aulas de cidadania, cuja afinação com a cultura mostra-se essencial “para promover melhorias na comunidade”.

– Mesmo sem UPP, a gente já investia na socialização para proporcionar uma perspectiva de vida com qualidade às crianças daqui. Com a “musicalização” e a capacitação do jovem para o mercado de trabalho, é possível ensiná-los o exercício da cidadania e demonstrar que é possível subir na vida honestamente, independente de morar na favela ou na Zona Sul – argumenta Peres.

Para melhor formá-los, os responsáveis do instituto não admitem aluno fora da escola. Graças a este “requisito”, Gustavo Antônio, 15 anos, irmão mais velho de Rafael, voltou a estudar. Ele reconhece a importância do estudo para se "destacar no futuro":

 Stéphanie Saramago – É como eles (os orientadores) dizem: de que adianta querer montar um grupo de pagode, por exemplo, se não souber escrever direito para compor as músicas? Minha meta é comandar a bateria da Mangueira no carnaval – sonha Gustavo.

A união da comunidade transparece no esforço de moradores bem-sucedidos em transmitir experiências positivas aos vizinhos. No entanto, acham que a interação entre Velha-Guarda com os novos talentos tinha de ser maior. O ritmo desse entrosamento ecoa mais forte na quadra, entre os bambas de ontem e as apostas da Mangueira do Amanhã.  

Titio Delegado, ícone da Velha-Guarda mangueirense, rodou o mundo dançando. Hoje dá aulas de mestre-sala em projetos da comunidade. Ele espera que as lições gerem frutos para a escola:

– Temos que reparar o que houve de errado para qualificar a escola. Embora eu ache que a Mangueira fica melhor a cada ano que passa – empolga-se ele, no auge dos 89 anos.

Entretenimento na Mangueira:

De segunda a sexta-feira, de 10h às 18h, o Centro Cultural Cartola fica aberto para visitas.

Rua Visconde de Niterói, 1296. Tel.: (21) 3234-5777 / http://www.cartola.org.br/

28/07 (quinta-feira) - A quadra da Verde-e-Rosa será palco da gravação do DVD Duas Faces da cantora Alcione. A apresentação contará ainda com a Orquestra de Violinos do Centro Cultural Cartola. Às 22h. Os preços dos ingressos variam de R$ 25 a R$ 120. Classificação: 18 anos